Crítica: Ozark – 1° Temporada (2017, Série Netflix)



Um lugar para recomeçar? Ou nossos problemas não resolvidos sempre nos perseguirão?

Estreou de maneira modesta a poucos meses na Netflix, esta série dramática com tons de suspense. Ozark fala sobre uma família conturbada, que devido a diversos problemas, muda-se para uma pequena cidade cujo nome é o título da série. Mas longe de ser um reinício para seus membros, tal família afunda-se cada vez mais nos problemas que os rodeiam. Pouco comentada e com críticas medianas (mais positivas do que negativas), o programa original Netflix já foi renovado para a segunda temporada, ainda bem! Com 10 episódios longos (de 1 hora a 1 hora e 15 minutos), a trama envolve e surpreende com algumas situações provocativas. Assemelhando-se com a elogiadíssima Breaking Bad na construção de personagens centrais inseridos no submundo do crime, ao mesmo tempo a obra possui vida própria, criando sua mitologia e tornando-se uma agradável surpresa em 2017. Talvez, dentre as séries de cunho mais realista e que fogem de fantasia e ficção científica, seja a grande surpresa do ano. 

É notável o esforço do roteiro em trazer personagens bidimensionais, sem ter exatamente mocinhos e vilões. Sim, há alguns vilões chefões do crime, mas estes ficam em segundo plano, enquanto que os protagonistas e principais coadjuvantes dividem ações e construções dúbias. A grande maioria deles quer ganhar alguma grana, proteger os seus, defender seus ideais ou fé e assim por diante, usando meios escusos para isso. 


Esta dualidade e ambiguidade das suas personalidades tornam o roteiro humano, realista e às vezes cruel. Há uma bela construção de personagens, especialmente em torno na família principal. O pai que lava dinheiro e não para de trabalhar, a mãe que trai o marido e se sente sozinha, o filho mais jovem que apresenta uma singular inteligência e interesse por coisas macabras, a filha adolescente rebelde; todos bem estruturados e que por incrível que pareça, tem suas características clichês subvertidas, indo na contramão de alguns estereótipos. De certa forma mesmo sem concordar, acabamos entendendo o porquê de cada um fazer o que faz. E o mesmo acaba aplicando-se a excelentes coadjuvantes, como por exemplo um investigador gay de personalidade duvidosa e problemas de autoestima. Sua sexualidade é apresentada de forma natural, enquanto que suas motivações para com o crime são dissecadas aos poucos.



As atuações são ótimas, grande ponto da série. Se você está acostumado a ver Jason Bateman sempre como “um carinha sem graça e fracassado” em comédias, esqueça. Aqui, ele tem o melhor desempenho cênico de sua carreira. Mesmo que inicialmente fracassado, em contrapartida temos o desenvolvimento de camadas psicológicas, como frustração, raiva, determinação (é incrível como ele nunca desiste diante toda “porcaria” que acontece) e muita inteligência de como resolver situações sinistras. 


Laura Linney nos presenteia com sua carga dramática de sempre, grande atriz. Os atores que interpretam os filhos do casal também entregam bons desempenhos. além destes, Julia Garner impressiona com uma coadjuvante de peso, imprevisível e também cheia de camadas. Todo elenco está muito bem, com atuações sólidas e firmes. Não há espaço para humor escrachado e pastelão, melodrama exagerado, etc. O humor ácido inserido é sutil e quase trágico, o drama não é meloso ou forçado, apresentando-se de maneira contida, realista e natural. 



A fotografia da obra traz lentes e paleta de cores frias, puxando para o cinza e azul. Isso é de extrema importância para a criação da atmosfera, que é pesada, triste, obscura, sempre remetendo que algo ruim ou sujo está acontecendo, transparecendo assim as personalidades imperfeitas e duvidosas das personagens. A trilha sonora está bem colocada, assim como diversas cenas de silêncio, que remetem a um vazio perturbador, muito sutil, mas novamente atmosférico. Apesar de ritmo lento, a trama leva a uma construção natural e crescente dos acontecimentos, as coisas acontecem gradualmente. Ponto também para os diretores da série, onde inclui-se Jason Bateman, que entregam alguns momentos de tensão crescente, com bons ângulos de câmera e aproveitamento de fotografia e paisagens.

Ozark é uma série que tem tudo para crescer muito, sendo possível se tornar uma das grandes obras da Netflix. Se a 2° temporada ganhar um pouquinho mais de ritmo e alguns acontecimentos mais relevantes, pode vir uma obra-prima pela frente! Não se deixe enganar pelo nome, por ser pouco comentada ou pelo aparente ritmo lento da trama, Ozark é uma série que você vai querer ver e que possivelmente, ouviremos falar muito nos próximos anos. 



Título Original: Ozark

Criada por: Bill Dubuque e Mark Williams

Elenco: Jason Bateman, Laura Linney, Julia Garner, Jordana Spiro, Jason Butler Harner, Esai Morales, Peter Mullan, Charlie Tahan, Ivan Martin, Robert C. Treveiler, Ben Rappaport, Bruce Altman, Kevin L. Johnson, Spencer Neville, Clayton Rohner.

Sinopse: Quando o consultor financeiro Marty Bird (Jason Bateman) se muda para os arredores do lago de Ozark com sua esposa Wendy (Laura Linney), eles descobrem um lado sombrio e selvagem do capitalismo. Pois naquela parte do estado do Missouri, o que dá futuro é a lavagem de dinheiro proveniente do tráfico de drogas.


Trailer:



Imagens:
  


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2 thoughts on “Crítica: Ozark – 1° Temporada (2017, Série Netflix)”

  1. É uma série bom e muito interessante, sinto que história é boa, mas o que realmente faz a diferença é a participação de Jason Bateman nesta série. O último que eu vi foi em um de os melhores filmes de comedia chamado A Noite do Jogo na minha opinião, foi um dos melhores filmes. O ritmo é bom e consegue nos prender desde o princípio, cuida todos os detalhes e como resultado é uma grande produção, um filme que se converteu em um do meus preferidos. Sem dúvida a veria novamente! É uma boa opção para uma tarde de lazer.

    1. A Noite do Jogo é bem engraçado e bem feito de fato! Jason Bateman se revelando muito versátil. Agradecemos sua participação, obrigado e volte sempre 🙂

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