Crítica: Dear White People – 1ª Temporada (Justin Simien, 2017)


Recentemente a Netflix
lançou
13 Reasons Why, uma série
sobre um assunto importante e para o público mais jovem. Causou controvérsias, divergências
de opiniões, tanto no meio público como profissional. Mas, eis que a mesma
lança
Dear White People, uma série
sobre um assunto importante, para o público jovem, mas diferente da anterior,
acerta em cheio. 

Ambientada em uma faculdade predominantemente branca, a
série acompanha um grupo diversificado de estudantes enquanto enfrentam tensões
raciais, que frequentemente são varridas para debaixo do tapete. Dear White People satiriza a “América
pós-racial” ao retratar a vida de estudantes negros em uma conceituada
universidade predominantemente branca e, conta também uma história universal
sobre trilhar o próprio caminho.

Normalmente em meus textos falo primeiro sobre a história,
roteiro e depois as qualidades técnicas, mas aqui irei fazer o contrário (tenho
muito que falar sobre a qualidade escrita dessa série).  

Tecnicamente, Dear
White People
beira o básico do excepcional, uma quebra de 4ª parede bem
utilizada, causando a imersão perfeita para cada episódio e estilo da série.
Uma direção com enquadramentos minuciosos e visão dos periféricos da cena
central. Uma fotografia com baixo nível de saturação incrível, além da montagem
e edição sensacional, dando perfeitas camadas a um momento, mesmo em episódios
separados. Sem falar da trilha sonora espetacular. É evidente que a série tem
um alto nível mesmo sem saber sobre o que se fala, mas será que acerta ao
entrar no que se propõe a falar?

Pra essa pergunta felizmente há uma boa resposta. A série
transita o tempo todo entre o uso de sarcasmos e sátiras para falar sobre
assuntos sérios, como o principal, que é o ponto racial. E, isso cai em todo
contexto da série, – seja por ser de um público jovem para um público jovem ou
pelo tom – como uma luva. Além de uma crítica racial para um grupo que pratica o
racismo, ela usa os próprios protagonistas como crítica para o público inserido
no seu contexto. É uma série que crítica ambas as partes, seja uma por oprimir,
seja outra por querer quebrar estereótipos, mas mesmo assim, carregar alguns.

E isso é o grande potencial de Dear White People, por mexer em vários contextos e níveis sociais
que existem presentes naquela faculdade, que retrata a nossa sociedade.  Dando um chute em qualquer forma de
preconceito, racismo e xenofobia. Cruzando entre assuntos como rótulos,
homofobia, machismo, opressão da sociedade para uma forma de aceitação, representatividade
– o quão ela pode funcionar ou não –, responsabilidades impostas por familiares
ou sociedade, preterição da mulher negra, entre outros. É uma série ambiciosa,
que cumpre o que propõe em meros 25 minutos por episódio.

Os únicos grandes problemas são os gatilhos e arcos de
personagem que a série usa para desenrolar a trama, às vezes tomam muito tempo
em tela, o que é um problema para uma série com episódios de 25 minutos. Mas,
mesmo assim, não deixa de ter potencial, provavelmente você vai se amarrar nos
arcos e contextos da mesma.



Dear White People é
um tapa na cara da sociedade, mostrando-nos que termos como “América pós-racial”
só nos mostra cada vez mais, o quão problemático é o nosso mundo. Com um
episódio que entra na minha lista de melhores do ano (01×05 – Chapter V),
certamente entra também na lista de melhores séries do ano. Recomendadíssima! 


Título Nacional: Cara Gente Branca

Criador: Justin Simien

Elenco: Logan Browning, Bradon P. Bell, DeRon Horton, Antoinette Robertson, John Patrick Amedori, Ashley Blaine Featherson, Marque Richardson, Giancarlo Esposito.

Sinopse: Baseada no aclamado filme independente, esta série satiriza a “América pós-racial” ao retratar a vida de estudantes negros em uma conceituada universidade predominantemente branca.

Trailer:



3 thoughts on “Crítica: Dear White People – 1ª Temporada (Justin Simien, 2017)”

  1. Bom texto.Ainda estou terminando de ver a série e ela é excelente.Uma curiosidade:O 5°é dirigido por nada mais nada menos que Barry Jenkins vencedor do Oscar de melhor filme.

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