Crítica: Eles Só Usam Black Tie (2016, de Sibs Shongwe-La Mer)



Com uma visão
surpreendentemente única e ousada para um estreante, o cineasta Sibs Shongwe-La
Mer entra (de cabeça) no mundo cinematográfico de maneira impressionante.
Procurando abordar tabus sociais de modo denso e poético, mas mantendo-se num
interessante aspecto realista e focando em inúmeros temas ligados em uma grande
teia de personagens, cada um com visões e características diferentes e
contrastantes. Exibido e elogiado nos Festivais de Tribeca e Berlim, Eles Só
Usam Black Tie
é um trágico e reflexivo emaranhado de histórias
protagonizadas por jovens que buscam nos tons pretos e brancos das ruas
movimentadas de Joanesburgo, África do Sul, as respostas para perguntas (quase)
impossíveis de se responder.

Uma garota chamada
Emily se suicida no meio de uma transmissão on-line. Após um ano da tragédia,
um grupo de jovens que a conheciam vaga sem rumo pelas ruas com pensamentos
perdidos sobre preconceito, gerações, sexualidade, drogas, problematização, juventude e
suicídio. Jabz. September. Bogosi. Tanya. Nikki. Rafi. Tali. Pessoas que são tão
parecidas e diferentes ao mesmo tempo, presos em uma enorme bolha social, da
qual eles tanto tentam estourar. Com ares de Jim Jarmusch e excentricidades que
lembram filmes da Nouvelle Vague com uma rebeldia adicional, Eles Só Usam Black Tie configura-se
como uma desconstrução social – apoiando-se em excelentes diálogos, que ao
mesmo tempo, englobam devaneios e reflexões sem sair da linguagem comum.





A
cuidadosa fotografia de Chuanne Blofield e Charles Johannes (Territorial Pissings) mantém as
tonalidades do preto e branco clássico, com um tom levemente puxado ao escuro –
destaque para as luzes dos carros realçadas quando as ruas movimentadas são
filmadas em um passo acelerado. A cinematografia é um dos pontos mais fortes do
filme, com enquadramentos inteligentes e detalhistas, procurando sempre focar
nos personagens e em seus gestos, como se estivesse à busca de seus
pensamentos. Os takes filmados do alto, procurando enquadrar de maneira
estática quem está em cena e manter vários planos conjuntos, são engenhosos e
belos.

Explorando pensamentos
e ideias que lembram remotamente os subúrbios parisienses e as conturbadas
situações retratadas (e até o visual) em O
Ódio
de Mathieu Kassovitz, o longa-metragem de Shongwe-La Mer tem uma
narrativa ampla e subjetiva, que com o auxílio do excelente roteiro escrito pelo
mesmo, consegue uma construção satisfatória dos principais personagens em pouco
tempo. Mesmo com suas discrepâncias, é impossível não deixar passar pela cabeça
a marcante frase do drama francês e de pensar que ela poderia se encaixar aqui.
“O importante não é a queda, é a aterrissagem”. Ao pensar a primeira
instância, ela poderia ser aplicada nos acontecimentos derradeiros do suicídio
de Emily. Mas, aprofundando-se uma segunda vez no encorpado enredo de Eles
Só Usam Black Tie
, percebemos que aqui o mais importante não é a queda. E nem
mesmo a aterrissagem. Mas sim, o que acontece depois dela. Shongwe-La Mer
retrata a vida através de uma perspectiva que não estamos acostumados a ver, entregando
(de maneira crua e simples) um filme poderoso que intrigará as diversas mentes
que se entregarem a ele.

Título Original: Necktie Youth


Direção: Sibs Shongwe-La Mer


Elenco: Sibs Shongwe-La Mer, Bonko Cosmo, Kamogelo Moloi, Collen Balchin, Emma Tollman, Tessa Jubber, Ricci-Lee Kalish, Giovanna Winetzki, Kelly Bates


Sinopse: Um ano após o sombrio suicídio de uma menina misteriosamente transmitido ao vivo na internet, um grupo de jovens ricos vive em busca de respostas. A tragédia os obriga a reavaliar suas próprias vidas. 


Trailer:



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