Crítica: Ouija – Origem do Mal (2016, de Mike Flanagan)




Uma das grandes lições que Alfred Hitchcock deixou para o gênero de terror/suspense, e que ainda se mostra bastante efetiva para os dias de hoje, é a equilibrada relação entre a antecipação e a surpresa. É característica do ser humano temer o desconhecido, o que não se vê, o que espreita e ameaça; e é um mecanismo que sempre se mostrou fundamental para que grandes obras desse gênero fossem bem-sucedidas. A antecipação, ou como o próprio Hitchcock sintetiza, “Não há terror em um estrondo, apenas na antecipação dele”, é o elemento que determina o medo e atmosfera em um bom filme de terror, e que também justifica a surpresa (o famoso jump scare), que sozinha é apenas um recurso rápido e fácil para arrancar uma breve satisfação do espectador.





Depois de um péssimo filme lançado em 2014, que trazia todos os defeitos que o gênero em sua forma enlatada poderia oferecer, Ouija: Origem do Mal mostra a grande diferença que um bom diretor pode fazer ao trabalhar com fórmulas desgastadas. Mike Flanagan, responsável pelo bom Hush: A Morte Ouve (2016), mostra que o mínimo que se deve fazer num bom filme de terror é se preocupar com a atmosfera, aquela que cria o medo, e mesmo que esse trabalho não seja um excelente exemplar, o resultado final é superior a inúmeras bombas que saem todos os anos nos cinemas.






Abrindo seus créditos iniciais com o logotipo antigo da Universal, o longa já anuncia que é influenciado pelo estilo retrô dos filmes que marcaram um renascimento do gênero no final da década de 60 e década de 70. Essa influência se revelará em vários momentos durante a projeção. Assim, quando o padre Tom, vivido por Henry Thomas (sim, o Elliot de E.T), chega na casa da família Zander, vemos um plano que reproduz diretamente a icônica chegada de Merrin à residência de Regan, em O Exorcista (1973). Em outro momento do filme, a garotinha Doris (Lulu Wilson) ameaça um estudante na escola e a decupagem da sequência remete a A Profecia (1976). A fotografia de Michael Fimognari também deixa sua contribuição ao empregar algumas vezes a técnica do foco duplo, bastante utilizada por Brian de Palma nos anos 70. Nos quesitos técnicos, o trabalho de Flanagan se mostra competente, justamente o que falta a tantos cineastas que não conseguem fugir da banalidade dos clichês.






Porém, o mais importante que Mike Flanagan trouxe dos bons filmes foi o ritmo e o desenvolvimento da tensão. Em sua primeira metade, o diretor trata de conduzir a história com calma, introduzindo aos poucos os elementos que servirão para mergulhar o espectador num clima de desconfiança. O roteiro, também de Flanagan e Jeff Howard, consegue inserir um elemento humano, que constantemente não existe nos péssimos exemplares de terror, afinal, é difícil temer por qualquer personagem se ele não exibe sequer algum sinal de personalidade e carisma. 





Não que esses personagens sejam poços de complexidade, até porque não é o foco da história, mas exibem um mínimo de escopo dramático necessário para que seja conferida alguma empatia de nossa parte. A atuação de Lulu Wilson é um elemento essencial, já que nossa ligação com o sobrenatural depende de sua capacidade de passar a crescente sensação de medo, e a atriz de apenas 11 anos se sai incrivelmente bem.




Infelizmente, o roteiro de Ouija: Origem do Mal acaba se tornando esquemático e expositivo no terceiro ato. Ainda que tenha boas sacadas, quando como uma das personagens brinca com um clichê do gênero ao dizer “Vamos continuar todos juntos, porque nos separarmos seria uma coisa incrivelmente estúpida”, ou uma pequena metáfora para o desejo sexual de certos personagens, ainda que superficialmente explorada; o filme se enfraquece ao dar um fim insatisfatório para os arcos que criou. Em nome de um imediatismo, todo o clima desenvolvido parece ter sido exagerado para dar um final mais rápido, como se Flanagan tivesse se arrependido de levar o filme de maneira mais contida até ali, soando menos original e mais genérico. Mas como dito, o resultado final é positivo e tem méritos somente por não se parecer nem um pouco com seu antecessor.









Título Original: Ouija – Origin Of Evil


Direção: Mike Flanagan

Elenco: Elizabeth Reaser, Annalise Basso, Lulu Wilson, Henry Thomas

Sinopse: O filme é novamente inspirado no antigo tabuleiro Ouija – superfície plana feita em madeira que possibilita a comunicação com espíritos. De volta aos anos 1960, uma jovem menina se encontra com forças sobrenaturais que se apossam do tabuleiro Ouija usado pela família.


Trailer





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