Crítica: Invocação do Mal 2 (2016, de James Wan)



Baseado em fatos reais (e até gravado na casa em que tudo aconteceu), Invocação do Mal 2 conta mais um caso do casal de investigadores paranormais, Lorraine (Vera Farmiga) e Ed Warren (Patrick Wilson), sete anos depois dos acontecimentos do primeiro filme. Mas dessa vez, eles precisam viajar até o norte de Londres para ajudar uma família atormentada por uma entidade sobrenatural. Por mais que a premissa inicial seja a mesma, a sequência dirigida novamente por James Wan (Jogos Mortais e Quando as Luzes Apagam) passa longe do clichê e do previsível, conseguindo inovar em um gênero que nas últimas décadas caiu numa mesmice, e ser ainda melhor do que seu precedente. E claro, fazendo com que o mais corajoso espectador, perca o sono à noite.


Acompanhamos ao mesmo tempo duas histórias que se entrelaçam, o drama familiar dos Warren (ligado à freira misteriosa) e a família Hodgson. Com um roteiro muito bem escrito e “amarrado”, a história se desenvolve voltada para o caso envolvendo a família britânica mas dando, também, bastante destaque ao casal de investigadores. Como já os conhecemos no primeiro filme, não há necessidade de introdução, e nesse longa o diretor pode explorar e desenvolvê-los mais do que fez no anterior. Vemos não apenas o lado investigativo de Lorraine e Ed, mas também o lado familiar e criamos empatia por eles. Paralelamente, vemos o tranquilo dia-a-dia da família Hodgson em Einfield, Londres, ir de normal a paranormal.





A mãe solteira Peggy e seus quatro filhos (Janet, Margaret, Billy e Johnny) têm uma rotina normal até que Janet e Margaret decidem brincar com um tabuleiro Ouija. A família então, passa a ter visitas indesejadas de algo demoníaco. As interações paranormais iniciais são pequenas porém assustadoras, deixando quem está assistindo, muito apreensivo. As assombrações gradativamente se tornam mais frequentes e piores, chegando a envolver possessões. O que leva a família a buscar ajuda da igreja que envia o casal Warren, para coletar provas de que algo demoníaco está sendo, de fato, a causa de todo o caos.


Invocação do Mal 2
 não é um filme cheio de sustos. A principal característica dele é a criação de uma atmosfera densa, que deixa o espectador tenso e temendo o que está por vir. A ótima direção de James Wan constrói cenas em que o jogo de câmeras dá um toque assustador preciso às cenas, principalmente quando as entidades interagem (como por exemplo, na cena de Lorraine com a freira no porão, do trailer oficial). A fotografia escura e o cuidado com o ambiente adiciona um ar sombrio e assustador, resultando em detalhes interessantíssimos, como por exemplo, atrás da poltrona em que a entidade mais aparece, a parede está muito escura, descascando e com rachaduras, indicando que algo de errado está acontecendo ali. As ótimas atuações – destacando Vera Farmiga, Patrick Wilson e a jovem Madison Wolfe – enriquecem a trama, dando o tom sério necessário para o desenvolvimento da história. É preciso ressaltar também, o ótimo uso de efeitos especiais.


A cinematografia e a edição são muito bem cuidadas, sendo cruciais para a criação desse aspecto obscuro no filme. Em certas cenas, vemos um entortamento proposital da câmera, causando ao espectador uma sensação de incômodo. Um detalhe sutil que faz muita diferença. Destaque também para a ótima trilha sonora, acrescentando mais tensão às cenas, algo muito importante para um filme de terror.




A história se desenrola sem pressa, mas sem se tornar cansativa, num ritmo constante, deixando sempre o espectador sem querer desviar os olhos da tela. A sequência consegue ser tudo aquilo que foi Invocação do Mal (lançado em 2013) e um pouco mais, superando seu precedente. Especialmente em termos de roteiro, apresentando uma história mais desenvolvida e explorando melhor a relação do casal, Lorraine e Ed Warren. Invocação do Mal 2 consegue resgatar as melhores características de um gênero já tão generalizado atualmente, inovando em vários aspectos. Com certeza, será um filme difícil de esquecer.




Título Original: The Conjuring 2

Direção: James Wan

Elenco: Vera Farmiga, Patrick Wilson, Madison Wolfe, Frances O’Connor, Lauren Esposito, Simon McBurney, Benjamin Haigh, Patrick McAuley, Franka Potente, Bonnie Aarons, Maria Doyle Kennedy, Simon Delaney, Sterling Jerins, Shannon Kook, Robin Atkin Downes

Sinopse: Sete anos após os eventos de ‘Invocação do Mal’ (2013), Lorraine (Vera Farmiga) e Ed Warren (Patrick Wilson) desembarcam na Inglaterra para ajudar uma família atormentada por uma manifestação poltergeist na filha. A trama é baseada no caso Enfield Poltergeist, registrado no final da década de 1970.



Trailer:



O CASO REAL



(cuidado, pode conter spoilers!)

Apesar do filme já ser (muito) assustador por conta própria, a alegação de que é baseado em uma história verdadeira, adiciona um tom assustador a mais. Assim como no primeiro filme, os créditos finais de Invocação do Mal 2 podem ter assustado muitas pessoas por mostrar as fotos reais e a gravação original do caso, mas tenha calma que nem tudo é o que parece e muita coisa não aconteceu como visto nas telinhas (porque, claro, há a dramatização).

Lorraine e Ed Warren
Johnny, Janet e Margaret Hodgson

Tudo aconteceu na cidade de Einfield em 1977-78, a família Hodgson realmente existiu e houve a suspeita de que acontecia atividades paranormais na casa deles. Mas também há muitas controversas. A família alega que as atividades começaram em 30 de agosto, quando as camas começaram a se mexer sozinhas. Em poucos dias, já haviam acontecido vários outros como barulhos no andar de cima da casa, gavetas abrindo, móveis fechando a porta e barulhos de dentro da parede. Assustados, chamaram a polícia. A policial Carolyn Heeps, diz ter visto uma cadeira se movendo, que inclusive dá uma entrevista confirmando o evento. Mas como não era um caso de violação da lei, nada foi feito por parte da polícia.

Logo depois aconteceu a levitação de Janet Hodgson, com 11 anos na época, que foi fotografada. São quatros fotos seguidas do momento, as posições das pernas de Janet (principalmente a primeira) fizeram as pessoas da época pensarem que ela simplesmente pulou da cama. As fotos foram tiradas pelo fótografo Graham Morris, do Daily Mirror. É possível ver que na foto real, a distância de Janet para a cama é menor do que a mostrada no filme.



Eventualmente, os eventos sobrenaturais continuaram e começaram as possessões de Janet. Bill Wilkins (suposto fantasma que assombrava a família) realmente morreu da maneira que a menina descrevia enquanto estava possuída, de hemorragia cerebral na poltrona do andar de baixo, mas investigadores dizem que Janet pode ter ouvido alguém da vizinhança falando sobre isso. O caso se tornava cada vez mais conhecido e não tardou para uma equipe de jornalistas entrevistar a família, e principalmente a menina, que era o foco principal das atividades paranormais. Os jornais Daily Mail e Daily Mirror e a emissora BBC, foram os meios de comunicação que mais abordaram sobre o caso. Assim como no filme, a menina fala com a voz rouca e bem diferente à sua na frente das câmeras. É possível notar a (estranha) calma das meninas Hodgson, principalmente de Margaret, quando Jane está possuída. Confira a entrevista abaixo (que infelizmente, não tem legenda em português).

Há também gravações de áudio feitas pelo especialista Maurice Grosse com Janet Hodgson, onde a garota estaria sendo possuída por Wilkins. Em uma delas, Grosse pede para o espírito explicar seus motivos por assombrar a família, e este apenas responde que não está infeliz e que não tem uma mensagem especial para compartilhar, que apenas se diverte torturando eles. Quando pedem para ele ir embora, ele simplesmente responde “não”. A cena do longa em que pedem para Janet segurar um pouco de água na boca para ver se ela própria não estaria forjando a voz do espírito (praticando ventriloquismo), também aconteceu de verdade, e a voz rouca ainda assim falou.

Os dois especialistas da “Sociedade para Pesquisas Psicológicas” que acompanhavam o caso junto à família, Maurice Grosse e Guy Lyon Playfair, disseram terem flagrado Janet e sua irmã Margaret dobrando colheres algumas vezes. A própria Janet, disse em uma entrevista em 1980 para a ITV News, que às vezes ela e a irmã forjavam alguns eventos paranormais, para ver se eram pegas pelos especialistas (vale lembrar que o filme usou essa parte e o aderiu muito bem à história).


Janet Hodgson e Maurice Grosse

A principal diferença entre o caso real e o filme, é a de que os Warren não participaram do caso de Janet. Eles só fizeram uma breve visita à família, mas não fizeram mais parte da história. Nem mesmo fizeram anotações, como geralmente faziam. O caso da família Hodgson não foi “solucionado” por ninguém, ele apenas foi sendo esquecido gradativamente. As crianças cresceram e continuaram suas vidas. Janet se casou aos 16 anos e se mudou de casa. Seu irmão Johnny morreu de câncer aos 14, e sua mãe de câncer de mama em 2003. O paradeiro dos outros irmãos é desconhecido. Recentemente, Janet foi entrevistada devido ao sucesso de Invocação do Mal 2, e continua afirmando que os acontecimentos paranormais em Einfield foram tudo verdade.

“Ele vivia de mim, da minha energia. Pode me chamar de louca se quiser. Esses eventos realmente aconteceram. O poltergeist estava comigo e sinto que, de certa forma, ele sempre estará.”

Após a morte da mãe de Janet, uma mãe solteira chamada Clare Bennett e seus quatro filhos se mudaram para a casa que assombrou os Hodgson. A família Bennett afirmou a existência de uma presença estranha na casa e barulhos bizarros à noite, e acabaram se mudança em apenas dois meses. Atualmente, uma família que não quis se identificar ocupa a casa, e alega não ter presenciado nenhum atividade paranormal.


A família Hodgson

Esse foi o caso sobrenatural com mais evidências registradas de toda a história, e é popularmente conhecido como o “Amityville britânico”. O caso gerou muitas desavenças, alguns acreditavam que era verdade, outras que tudo era uma grande farça, uma simples brincadeira de mal gosto de Janet e Margaret Hodgson. Estão disponível online as gravações, entrevistas, fotos originais e depoimentos de pessoas que presenciaram o caso (policias, vizinhos, jornalistas), caso alguém queira fazer sua própria investigação do caso.



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