Crítica: Tallulah (2016, de Sian Heder)


“Somos todos
horríveis. E também somos apenas pessoas”


A
Netflix disponibilizou nesta sexta-feira (29) seu mais novo filme original ‘Tallulah’, que obteve sua estreia no Festival de Sundance 2016. Primeiro longa para o cinema dirigido por
Sian Heder, escritora de ‘Orange is the New Black’. O drama de Heder traz as
atrizes Ellen Page e Allison Janney juntas novamente, já que contracenaram como mãe e filha no
clássico ‘Juno’ (2007).

O
filme nos conta a vida de uma garota independente e sem juízo, Tallulah (Ellen
Page), que vive em sua van com seu namorado Nico (Evan Jonigkeit), sobrevivendo
de restos de comida e pequenos roubos. Após uma briga entre eles, Nico rouba o
dinheiro de Tallulah e a abandona.



A
protagonista, então, recorre a mãe de Nico para pedir ajuda, que a príncipio a nega. Sem
nenhuma outra pessoa para ajudá-la, Tallulah rouba refeições dos outros apartamentos para poder se alimentar, é onde
encontra Carolyn (Tammy Blanchard), uma mãe extremamente irresponsável, que demonstra forte negligência para com sua pequena filha. Pensando apenas nela, Carolyn, para poder sair para
um encontro, deixa sua filha aos cuidados de Tallulah, que mesmo
relutante, aceita.


Após o fracasso do encontro, Carolyn
retorna bêbada e Tallulah, ao ver a situação horrível em que se encontrava, leva a bebê junto a ela para não a deixar sozinha. Ao tentar
voltar para devolver a criança, Tallulah vê policiais no local, chamados por Carolyn ao
perceber a ausência de sua filha, o que acaba apavorando a personagem, fazendo-a fugir.



Necessitando
de ajuda, a protagonista retorna a casa de Margo e mente, alegando que a
criança é sua filha e de Nico. Desta vez, Margo aceita ajudá-la, por acreditar que a bebê era sua neta. E é a partir deste momento que o drama toma forma e
discorre a relação destas três mulheres.


O
enredo, mesmo que não seja fantástico, traz uma crescente emocional ao longo do filme, somente possível pelas ótimas performances das três mulheres (Tallulah, Margo e Carolyn) e pelo roteiro bastante peculiar da direção. É evidente a evolução da
carga emocional das relações entre essas mulheres, visível principalmente do
meio para o final do filme.



Numa análise mais profunda, podemos denotar três grandes decepções amorosas, familiares e até
de vida para estas personagens: para Tallulah, o abandono por parte dos pais e depois de seu namorado;
o abandono do marido gay e de seu filho para Margo; e o afastamento do marido e
da bebê para Carolyn. Estes três arcos possuem razões distintas para o mesmo
sentimento de solidão.


Apesar
da escolha errada da protagonista de sequestrar um bebê, a diretora dá todo
apelo sentimental para que você compreenda o lado da sequestradora, ou pelo menos, não a torna uma vilã por completo, da mesma forma que nos
faz captar a desilusão de Margo, seu arrependimento e sua raiva contida pelas aparências, e ainda, ao final, podermos dar nossa absolvição ou uma forma de redenção, pelo menos em
parte, pela negligência de Carolyn com sua filha.



Não
posso deixar de mencionar que o próprio nome ‘Tallulah’ tem um significado condizente com o filme. De origem hebraica, este nome significa ‘doce cantiga’ ou ‘cantiga
de ninar’. Algo que caracteriza a infância de qualquer criança, contudo, neste caso, subentende-se que isto não fez parte da infância da própria protagonista. Além disso, pode-se recorrer à explicação pelo apego que Tallulah e a bebê desenvolveram uma para a outra.


O
filme poderia ser um grande fiasco, mas ao nos deixar com um sentimento
bastante dúbio ao final, algo agridoce, parece que se seguiu bem coerente. O ponto mais
forte claramente foi o monólogo da gravidade, foi interessante ver a passagem
de Margo de não querer estar na Terra, ou não ter nada – além da gravidade –
que a prenda a este lugar, para uma situação de descoberta de que há alguém que
necessite dela, e fazer disso o motivo para ela se agarrar a algo.



Podemos
pensar que Margo foi uma mãe que Tallulah nunca teve, como Tallulah foi uma
filha que trouxe um propósito para a vida de Margo. Assim como, Tallulah foi uma mãe para a
bebê e o motivo para Carolyn tornar-se uma mãe responsável, Carolyn foi o
motivo para Tallulah criar um certo “juízo” para sua vida.



É
evidente que há problemáticas dentro do filme, como os papéis bastante
dispensáveis dos atores – para dar total foco às mulheres ou o excesso de clichês, contando com um final bastante previsível. Fica claro que não é
um dos melhores filmes, porém é um daqueles medianos ou, no mínimo, razoáveis, tanto pela sua leveza e sensibilidade ao mostrar assuntos atuais tão violentos e polêmicos – como
sequestro, traições, abandono e negligência familiar – não encontradas nos
filmes com a mesma temática.


OBS: foi bastante estranho ver o papel secundário e de uma relevância diminuta, ou,
melhor dizendo, uma personagem normal de Uzo Aduba.


Nota: 6,5/10

Direção: Sian Heder

Elenco: Ellen Page, Allison Janney, Tammy Blanchard, Zachary Quinto, Uzo Aduba, Evan Jonigkeit, David Zayas, John Benjamin Hickey, Fredric Lehne

Sinopse: Lu (Ellen Page), uma jovem independente, teve o seu dinheiro roubado pelo namorado (Nico). Pobre e morando em uma van, ela decide procurar a mãe dele, Margo (Allison Janney), que não a conhece e nega ajudar. Em um hotel buscando por comida, Lu conhece uma mãe irresponsável, que a contrata para cuidar de sua filha. Vendo a situação em que a bebê se encontra, Lu decide “resgatar” a criança e dizer que é filha dela e de Nico para, então, convencer Margo a ajudá-la.

Trailer:


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