Jeff Nichols é um diretor de potencial, que filme após filme vem apresentando assuntos clichês de maneira original e minimalista. No ótimo 'O Abrigo', Nichols fala sobre um apocalipse profético, mas de maneira dramática, do ponto de vista da "esquizofrenia", com um protagonista paranoico mas que no fim das contas nos surpreende com uma marcante cena final. Em seu novo trabalho, o cineasta traz um assunto clichê e que facilmente poderia virar só mais um blockbuster, mais uma superprodução de Hollywood. Mas Nichols escolheu narrar esta história de um ponto de vista mais íntimo e simbólico.
Na trama acompanhamos um pai (o ótimo Michael Shannon, protagonista do citado 'O Abrigo') tentando proteger seu filho (Jaeden Lieberher). O garoto possui dons especiais e por isso é procurado tanto pelo governo, quanto por uma instituição religiosa fanática. O pai, a mãe e um amigo policial começam a jornada para levar o garoto até uma coordenada específica, onde o jovem cumprirá seu destino, mesmo não se sabendo o que é. Diante disto o diretor aborda diversos assuntos como amor dos pais pelos filhos, quebras de sigilo do governo, cegueira religiosa, ficção científica e um pouco de espiritualidade. Mas o roteiro brilhantemente elaborado traz todas estas características de maneira sutil, indireta e aos poucos.
Inteligentemente elaborada, a trama amarra o drama familiar de maneira convincente e sem pecar para o excesso de sentimentalismo. Tudo às vezes chega a ser meio silencioso e ríspido demais, mas é no olhar da interpretação dos atores que vemos o quanto eles se importam. O roteiro ainda acerta em colocar pessoas especiais com super poderes (que em outro filme seria mais um super herói), como seres de luz (algo similar a anjos), porém frágeis e que necessitam habitar em outra dimensão, um mundo paralelo, imerso ao nosso (mais uma vez um conceito de anjos ou corpos espirituais, porém que também lembram alienígenas). Seriam os extraterrestres na verdade pessoas com poderes especiais que habitam outra realidade? São os aliens provenientes da própria Terra? Ao colocar todas estas características típicas da ficção científica de maneira realista e focando em uma construção lenta, o filme ganha ares de suspense dramático independente. Teorias da conspiração não faltam e os poucos efeitos especiais estão ótimos. As poucas cenas de ação e tiroteios também são muito bem dirigidas. Destaque para os ângulos de câmera na cena do capotamento do carro. Mas mesmo que o longa tenha esta estética caprichada, é no seu roteiro maduro e ponderativo que está a graça de 'Destino Especial'.
'Destino Especial' é um filme que no fim das contas não é para se ver efeitos especiais e ação, mas é uma produção com metáforas, para se fazer reflexões no seu término. A bela fotografia contemplativa, o final mágico, os questionamentos sobre fé lançados, tudo remete perguntas em nossa mente. Uma curiosidade crucial é o fato do nome original do filme 'Midnight Special' ser referência a uma canção de mesmo nome. Nesta canção fala-se de um homem na prisão que vê a luz especial brilhar a meia-noite. As cenas finais do filme casam perfeitamente com esta letra, mesmo que implicitamente. Todos somos tão envoltos de problemas e questões que nos aprisionam que, de certo modo, precisamos crer em milagres. Milagres que nos dão esperança. Algumas pessoas precisam acreditar em mais, em um destino mágico e especial. Realmente, um filme interpretativo!
NOTA: 9
Título original: Midnight Special
Direção: Jeff Nichols
Elenco: Jaeden Lieberher, Michael Shannon, Joel Edgerton, Kirsten Dunst, Adam Driver, Sam Shepar.
Sinopse: um pai que foge de extremistas religiosos locais com o objetivo de proteger seu filho (Jaeden Lieberher), já que o jovem apresenta poderes especiais