Crítica: A Bruxa (2016, Robert Eggers)


Mais do que um filme de terror/suspense, A Bruxa nos leva a realidade da época, que se passa no século XVII, mais precisamente 1630. Onde tudo é relacionado à religião. O filme inicia com a família de William (Ralph Ineson), da mulher (Kate Dickie) e seus filhos, cinco ao todo, sendo expulsos da vila onde viviam por discordar da opinião dos demais. A primeira cena mostra todos de costas, recebendo o veredito e na segunda, todos dando as costas a vida que tinham para ir morar no limite da floresta.



Willian é o patriarca que ensina fervorosamente seus filhos a temerem a Deus e seus próprios pecados, diria que 90% do filme os personagens passam orando ou pedindo perdão a Deus pelos seus pecados. Pecados da origem, pecados morais, pecados em pensamentos… Demonstrando fanatismo da parte de todos, inclusive das crianças mais novas.


A floresta é praticamente outro personagem que nos é apresentando como perigoso e fora dos limites. Várias vezes o enquadramento é feito e ficamos pensando o que realmente se esconde nas sombras. Tudo começa a desmoronar quando Samuel, apenas um bebê, desaparece sem deixar rastro. Thomasin (Anya Taylor-Joy) a irmã mais velha é deliberadamente culpada pela mãe pelo seu sumiço.




Com o passar do filme, a paz dos personagens se transforma em pesadelo. Parece que todos os pecados dos quais eles tanto rezam e tanto tem medo, vem atrás deles e um por um são levados para o seu inferno pessoal.


É interessante também dizer o quão maleável é a opinião de todos, que com apenas uma frase ou uma insinuação já é o bastante para mudarem de ideia. A constante busca por um culpado me faz pensar que o ‘A Bruxa’ nos mostra uma caça a bruxas entre eles próprios, um culpado pelos problemas que estão passando, sempre colocando essa culpa em quem parecer mais suspeito, mesmo nas crianças mais novas. A Bruxa em si praticamente não aparece ou não se faz menção dela. Ela vive no filme sem ser acreditada, mas sempre presente ao mesmo tempo. A maldade é algo que vive em nós, um mal presente em cada um.

A fotografia do filme nos mostra uma família isolada, vivendo entre a floresta e um passado que todos ainda lembram. O uso das velas, a escolha das cores sépia, cinza e preto em todos os ambientes dá um ar sinistro para tudo e o sol não aparece em momento algum. Tudo nos remete a um sentimento de solidão. Um cenário simples onde o que realmente nos prende são os personagens. Sem efeitos visuais, sons vibrantes ou coisas típicas, foge completamente dos clichês.





Observação especial para as atuações, que são fortes e bem dirigidas. A sequência final é totalmente segurada pela atriz iniciante Anya Taylor-Joy. O final em si foge um pouco da ideia implícita no filme e mostra deliberadamente um mal real e não imaginário. Nos leva ao meio da floresta e aos seus segredos, Thomasin (Anya Taylor-Joy) que inicialmente aparenta medo, de repente se liberta e entra no ritmo da dança. Como se finalmente estivesse livre das amarras sociais, dos pais e da religião. Permite sentir e gostar de todos os pecados que a amarravam. Permite se entregar a sua essência humana. Seu sorriso final não deixa dúvidas que finalmente ela está feliz.






Título Original: The Witch

Direção: Robert Eggers

Duração: 92 minutos

Elenco: Anya Taylor-Joy, Ralph Ineson, Kate Dickie, Harvey Scrimshaw, Lucas Dawson, Ellie Grainger, Julian Richings, Bathsheba Garnett.

Sinopse: Depois de quase ser excomungado da Igreja, um agricultor deixa sua plantação colonial e se muda com a esposa e os cinco filhos para um terreno no limite de uma floresta sinistra, onde se esconde um mal desconhecido. Quase que imediatamente acontecimentos estranhos se tornam rotina e, por conta da desconfiança e paranóia, os pais acusam a filha de praticar feitiçaria. Com episódios cada vez piores e mais obscuros, a família começa a ter a sua fé, lealdade e amor testados das maneiras mais chocantes. 

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