Crítica: Velozes e Furiosos 7 (2015, de James Wan) – Um adeus à Paul Walker

Pode-se dizer que a saga Velozes e Furiosos é uma saga sortuda! O motivo desta afirmação é que inicialmente ela não deveria ir tão longe. O primeiro filme de 2001, Velozes e Furiosos foi uma surpresa, um filme barato que deveria ser apenas só mais um longa de ação, mas que arrecadou honrados 207 milhões de dólares no mundo. E o filme é realmente divertido, marcante para o público adolescente da época. O que quase ninguém sabe é que este primeiro filme é na verdade um remake de um clássico filme B de 1955, produzido por Roger Corman, o rei do cinema B da época. Para fazer a nova versão, juntou-se na verdade o título deste filme velho com notícias de jornais recentes sobre jovens participando de corridas clandestinas. Na trama conhecemos o policial Brian (Paul Walker), que se identifica com o estilo da família de Dominic Toretto (Vin Diesel). O filme foi dirigido por Rob Cohen, cara que também fez Coração de Dragão, Triplo X, A Múmia 3: Tumba do Imperador Dragão, dentre outros. Após esta bilheteria do primeiro filme, o segundo veio intitulado + Velozes + Furiosos em 2003. Considero este um pouco mais parado em relação ao primeiro, mas também diverte e arrecadou bons 236 milhões de dólares. Neste aqui Brian se junta ao engraçado Roman (Tyrese Gibson) numa nova missão. Aqui notamos a possibilidade da saga focar apenas em Brian e suas aventuras policiais. O filme foi dirigido por John Singleton, o mesmo de Quatro Irmãos. Em 2006 recebemos Velozes e Furiosos: Desafio em Tóquio, filme que quase acabou com a saga. Apesar da bilheteria ser de 158 milhões (não tão ruim assim), foi bem inferior aos primeiros. Parece que o público não aceitou os novos protagonistas Sean (Lucas Black) e Han (Sung Kang). Como um filme totalmente diferente, nota-se que a intenção era mesmo cada filme narrar uma história. Acho que este capítulo aqui é bem injustiçado, uma vez que o diretor Justin Lin acerta a mão com belas paisagens, trilha sonora e pela primeira vez a saga ganha efeitos em computação mais caprichados.

Com o relativo fracasso do anterior, Velozes e Furiosos 4 em 2009 veio trazendo de volta o elenco do primeiro, para narrar a história final. De novo sob as mãos de Justin Lin e com sequências de ação cada vez mais loucas e com boa computação, o filme surpreendeu arrecadando 363 milhões de dólares, encorajando todos a continuarem a saga. Novamente sob a mão de Lin, Velozes e Furiosos 5: Operação Rio – em 2011 – trouxe um estilo Os Mercenários, com um grande elenco, que incluiu a reunião dos personagens dos dois primeiros, do quarto filme, Han do terceiro e adicionando The Rock. O foco mudou e a saga passou a ter mais pancadaria, assaltos, resgates e planos mirabolantes. A destruição é em massa e muitas vezes esquece-se a lógica. Passado quase todo no Brasil, o filme arrecadou incríveis 626 milhões, colocando a saga em um rumo de sucesso. Em 2013 veio Velozes e Furiosos 6, trazendo o grande elenco de volta, incluindo o retorno de uma personagem supostamente morta. Foi a última vez que Justin Lin dirige a saga, trazendo ação insana, transformando os mocinhos em super heróis e arrecadando fantásticos 785 milhões de dólares. Porém Justin Lin sai da direção da saga, e no meio das filmagens do sétimo, morre Paul Walker. É aí que chegamos neste sétimo capítulo…

Com a morte de um dos astros, a equipe entrega agora em 2015 um filme épico, que não apenas homenageia o falecido, mas que também revitaliza a franquia. E os elogios começam ao novo diretor, James Wan. O cara, que vem criando respeito no mundo do terror com filmes como o primeiro Jogos Mortais, Gritos Mortais, Sobrenatural capítulos 1 e 2, além do fenômeno Invocação do Mal, consegue calar a boca de quem duvidava de que ele seguraria as pontas na ação. Na verdade, ele vem a ser o melhor diretor da saga até então, com ângulos inspirados e direção frenética. Ao longo de 2 horas e 15 minutos, o cineasta malaiano não perde a mão, entregando uma câmera que acompanha a ação de perto, seja do ponto de vista dos carros na estrada (ou no ar), seja na pancadaria quando alguém cai, gira ou pula e a câmera inteligentemente vai junto, fazendo-nos rolar com os personagens. O trabalho de fotografia também ajuda, enchendo a tela com belas paisagens, como as de Abu Dhabi. A direção de arte dos ambientes, assim como os figurinos chiques, ou belas praias também ajudam no visual do longa. A barulhada dos tiros, motores, derrapadas e explosões são estarrecedores.

Os efeitos especiais são os mais grandiosos da saga, talvez os mais grandiosos para um filme de ação. Esqueça a física: aqui metade do filme os carros voam e todos personagens lutam e dirigem muito bem o tempo todo, mesmo quando já machucados. A ação é maluca, insana e de causar risadas tamanho absurdo. Mas é um absurdo bom, pura fantasia. A destruição em massa é de um nível Transformers, porém menos bagunçado e mais fácil de acompanhar. Possivelmente o filme tem as cenas mais eletrizantes em um filme de ação, é realmente algo grandioso. O roteiro não tenta ser sério, mas abusa do humor e do impossível nas situações. E este sempre foi um grande acerto da saga: não tentar ser séria demais. Basta desligar o cérebro e se divertir muito. E o sétimo filme assumir isto com orgulho é um trunfo. Na ação há combates incríveis e massivos, não falarei muito para não estragar as surpresas. O grandioso elenco está de parabéns. Aqui o foco não são atuações impactantes, mas a química que todos tem em entrar nesta grande brincadeira.

Todos já são rostos conhecidos e amados pelo público, até mesmo Jason Statham como vilão consegue ser querido, visto que todos já conhecem seus trabalhos em outros filmes. Ele encarna um ótimo vilão, ao lado de Djimon Hounsou e Tony Jaa (o herói de Ong Bak). Dwayne Johnson (The Rock) e Vin Diesel são dois “brucutus” que atraem pela sua simpatia com o público. Michelle Rodriguez quebra tudo como sempre, mas em um papel mais controlado. Jordana Brewster aparece pouco apenas para fazer ligação com Brian. Ela agora tem que cuidar do filho. A modelo Nathalie Emmanuel é a surpresa, como uma bela hacker. Kurt Russell lembra seus velhos papéis de aventura, como em Os Aventureiros do Bairro Proibido. Temos as participações de Lucas Black (do Desafio em Tóquio), a lutadora Ronda Rousey, a cantora Iggy Azalea, além de pequenas outras aparições de personagens coadjuvantes dos filmes anteriores. Ludacris e Tyrese Gibson são a comédia do filme, muito afiados no humor pastelão mas que funciona. E por último temos nosso saudoso Paul Walker, onde algumas cenas são ele mesmo e outras foram feitas por seus dois irmãos, “maquiados” com uma excelente computação gráfica. O ator nunca foi dos mais grandiosos, mas ao menos aqui nesta saga ele tinha o seu lugar.

A saga sempre tratou os laços de amizade e trabalho em equipe como família. E este é o mote central do filme. Tudo o que eles fazem é para se protegerem como família. As questões de honra e vingança foram tiradas do clássico Os 7 Samurais, uma forma de elogiar um filme cult em uma obra moderna. Enfim amigo leitor, como notaram Velozes e Furiosos 7 é na verdade uma grande homenagem ao cinema em si, uma homenagem à própria saga e é claro, uma bela homenagem ao Paul Walker. Depois de tanta loucura o filme tira tempo para emocionar o público com uma bela mensagem, um belo adeus do elenco (e do cinema em si) ao ator, que ironicamente morreu em um acidente de carro. A vida imitando a arte. A homenagem não é forçada, mas sincera e vem fazendo o público feminino e os maiores fãs escorrerem algumas lágrimas. Como seu colega e amigo Vin Diesel diz, ele sempre estará presente. Deixou seus filmes como legado. Velozes e Furiosos 7 encerra com chave de ouro a carreira de Paul Walker. Indo mais além, é entretenimento puro, explosivo e épico. No meio de tanta ficção, é uma saga que preza pela família. E é um gigantesco sucesso tardio. Tardio, pois foi preciso chegar ao sétimo filme para se tornar a quarta maior bilheteria da história até então, com cerca de 1 bilhão e 45 milhões de dólares arrecadados. Uma saga sortuda, cujos próximos capítulos estão vindo, desta vez sem Paul Walker, mas com um grande legado em mãos.

Direção: James Wan

Elenco: Jason Statham, Dwayne Johnson, Vin Diesel, Paul Walker, Lucas Black, Michelle Rodriguez, Kurt Russell, Jordana Brewster, Elsa Pataky, Ronda Rousey, Nathalie Emmanuel, Djimon Hounsou, Iggy Azalea,Chelsea Pereira, Tony Jaa, Ludacris, Tyrese Gibson.

Sinopse: após os acontecimentos em Londres, Dom (Vin Diesel), Brian (Paul Walker), Letty (Michelle Rodriguez) e o resto da equipe tiveram a chance de voltar para os Estados Unidos e recomeçarem suas vidas. Mas a tranquilidade do grupo é destruída quando Ian Shaw (Jason Statham), um assassino profissional, quer vingança pelo acidente de seu irmão. Agora, a equipe tem que se reunir para impedir este novo vilão. Mas dessa vez, não é só sobre ser veloz. A luta é pela sobrevivência.

Trailer:


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