Oscar 2015: Planeta dos Macacos – O Confronto (2014, de Matt Reeves, indicado ao Oscar de Melhores Efeitos Visuais)

Um dos mais importantes blockbusters de 2014, sucesso de bilheteria, cerca de 96% de aprovação da crítica e uma indicação ao Oscar 2015 de Melhores Efeitos Visuais. Este são alguns dos frutos de Planeta dos Macacos – O Confronto. O filme poderia fácil concorrer a Melhor Fotografia, Melhor Montagem e até mesmo a Melhor Filme (se Avatar e Distrito 9 puderam, porquê este não?). Se Planeta dos Macacos – A Origem já havia surpreendido em 2011 por recomeçar a saga de maneira séria, realista, emocionante e com impressionantes efeitos visuais, esta continuação ganha pontos por superar todas estas qualidades do filme anterior. Planeta dos Macacos – O Confronto aumenta o dilema, as dificuldades, a grandiosidade da trama e as críticas político-sociais. Um filme e tanto, completo e envolvente.

Jason Clarke tem se destacado recentemente. O ator tem expressões muito sinceras e humildes diante as câmeras, realizando um trabalho muito digno em papéis simples mas que exigem seriedade. O jovem Kodi Smit-McPhee é um dos novos atores em ascensão, promissor em Hollywood. Keri Russell não muda muito nas suas atuações, mas sempre se sai relativamente bem nos papéis em que participa. Gary Oldman é um coadjuvante de luxo, personagem importante e que representa a “ameaça” humana na trama. Mas incrivelmente quem se destaca é o elenco “animal” por assim dizer. Os macacos são interpretados por atores reais e “maquiados” por efeitos digitais que não tiram suas expressões faciais, ou seja, há um realismo imenso no rosto dos macacos. Nunca antes na história do cinema tivemos um elenco editado em CGI tão bom, atuando de maneira tão convincente quanto aqui. Nunca vimos seres de computação tão realistas e tão cheios de sentimentos. Através do protagonista César vemos o amor, a liderança, coragem, responsabilidade, afeição familiar, sacrifício e algo amplamente profundo: a necessidade de um líder sujar as mãos para proteger os seus. Já no macaco Koda (a “ameaça” primata) vemos a vingança, o sofrimento, a ira, a sede de poder; mas também vemos que há motivos para isso. No jovem filho de César vemos a insegurança, rebeldia típica da idade, o medo de assumir o seu lugar. Há muito mais de humanidade nos macacos deste filme no que 99% dos filmes de hoje em dia (como nos horríveis Crepúsculo, por exemplo), isto é fato.

O filme apresenta-se de maneira profunda, reflexiva. Há um teor político muito forte nesta obra de ficção. Mostra como funcionam negociações territoriais, contrastes de políticas internas e externas, mostra as diferentes maneiras de liderar a nação (seja de maneira verdadeiramente democrática ou autoritária). Há ainda uma questão de preconceito, de saber reconhecer o seu próprio lugar e não menosprezar o lugar do outro indivíduo, o do próximo. Em determinado momento Koda diz para César: ‘você não é humano!’. Isto faz-nos refletir que se as diferenças físicas nos tornam tão diferentes do outro no sentido de merecer existir e de se relacionar com os outros, se isto define quem é superior ou inferior. A complexidade narrativa do longa é o grande destaque. Há uma ambiguidade nos personagens, onde em nome da sobrevivência algumas decisões difíceis tem de ser tomadas. Não há exatamente vilões, mas sim alguns que tomam decisões erradas por causa das circunstâncias ou de suas perdas. E este fato deixa aflito a quem está assistindo o filme. Este é um filme inteligente, com verdades básicas e de fatores humanos.

Mas não é só de críticas que o filme se sustenta. Estamos falando de um blockbuster, portanto a ação está lá, e é ótima. Temos sequências de batalhas espetaculares. Há uma épica cena do macaco Koda montado em um cavalo e com duas metralhadoras uma em cada mão. A cena é insana! Temos fantásticas tomadas, algumas sem cortes e com ângulos inspirados, tudo graças à competente direção de Matt Reeves, que já nos presenteou anteriormente com os ótimos Deixe-me Entrar e Cloverfield – O Monstro. Aqui ele tem um trabalho ainda mais maduro e seguro, entregando um grande filme em todos os ângulos. A paleta de cores das lentes das câmeras deixam o clima do filme único, com alguns momentos pálidos e gélidos. O filme tem um belíssima fotografia. A trilha sonora envolve.

Andy Serkis como o macaco César é sensacional, onde alguns até mesmo disseram que ele deveria concorrer ao Oscar. Infelizmente isto não ocorreu este ano e dificilmente ocorrerá nas continuações. Há algo de muito poderoso que o olhar e a jornada de liderança de César nos ensina. Ele perdeu coisas importantes e sabe o que deve fazer para proteger seu grupo, sua família. Saber coexistir, saber lutar pelas causas corretas e saber o que deve ser protegido é algo que a raça humana ainda não aprendeu. César não deixa de ser uma metáfora à um messias, um redentor, um Moisés e um libertador. Mas também não deixa de ensinar que os seres que mais gostam de diferenciar, separar-se em classes e por isso causar a ruína, este ser é o homem.

Direção: Matt Reeves

Elenco: Andy Serkis, Jason Clarke, Kodi Smit-McPhee, Gary Oldman, Keri Russell, Judy Greer,Angela Kerecz, Kevin Rankin, Kirk Acevedo.

Sinopse: uma crescente nação de primatas geneticamente modificados e liderados por Cesar é ameaçada pelos sobreviventes humanos de uma alarmante epidemia viral desencadeada há uma década. O momento de paz em que se encontram está fragilizado e dura pouco, quando os dois lados são levados à beira de uma guerra que determinará quem será a espécie dominante da Terra.

Trailer:


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