Oscar 2015: O Abutre (2014, de Dan Gilroy, indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original)

Pode-se dizer que O Abutre foi um dos esnobados do Oscar 2015. Um dos melhores filmes do ano, um dos dois melhores suspenses e com uma dura crítica atual, o filme concorre apenas a um Oscar de Melhor Roteiro Original. Esta única indicação é mais do que merecida, mas o filme tinha potencial de concorrer pelo menos a Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Montagem e sem dúvidas a Melhor Ator para Jake Gyllenhaal. A falta da indicação para Gyllenhaal será lembrada pelos cinéfilos como um grande erro por parte da academia. Depois de atuar bem em outro suspense, o bom O Homem Duplicado, Jake Gyllenhaal nos deixa de boca aberta com seu personagem arrebatador.

Na trama vemos um enigmático homem sem carreira, que resolve comprar uma câmera e fazer filmagens por conta própria afim de ganhar uma grana. Mas não se trata apenas de dinheiro. Lou é estranho, caricato e assustador. Ele é como uma esponja, absorvendo e aprendendo de tudo sobre tudo e todos, para depois usar ao seu favor. Ele também tem o dom da fala, que chega a assustar, calar e manipular as pessoas. E ele faz tudo isso dentro de um meio de comunicação: os jornais televisivos. E eis que entra o grande acerto do roteiro: criticar os meios de comunicação que exploram a tragédia alheia para obter audiência. Quanto mais escancarada for a tragédia, quanto mais sangrento for o caso, mais o canal paga para os cinegrafistas e mais o público assiste, gerando uma procura pela desgraça. E estes são os abutres da mídia. Mas não apenas eles, você que fica assistindo tragédia em casa e quer ver mais e deseja ver mais ainda; você também é um abutre.

O filme assusta não por ter terror ou assassinatos. Ele assusta por mostrar de maneira crua o quanto o humano é carniceiro. O filme todo é bom, bem dirigido e bem executado, mas é Jake Gyllenhaal que carrega grande parte da obra, entregando uma atuação monstruosa em todos os sentidos. O suspense gela a espinha, as perseguições são frenéticas, a crítica é dura e agride a mente. Um thriller e tanto. Temos ainda a bela Rene Russo, que entrega uma boa atuação. E Riz Ahmed surpreende com um personagem coadjuvante ingênuo de início, mas que logo aprende a negociar neste mundo obscuro.

O Abutre te dá um soco na mente e outro no estômago. Após o término, pensamos sobre como as notícias podem ser manipuladas. O quanto o homem só se importa com dinheiro. As pessoas querem ver desgraça na TV. Infelizmente anseiam por isso. E os produtores não se importam com notícias de pobres ou negros morrendo. O público quer mais é ver sangue. Os produtores de noticiários quer mais é colocar notícias de brancos e ricos mortos. Isto impressiona mais. Tudo é puro marketing e sensacionalismo. E o que mais tem aqui no Brasil são jornais sensacionalistas e com apresentadores gritões. O Abutre serve de alerta sobre isso. Um filme que gera discussões, não apenas na sala de aula e na faculdade de jornalismo, mas em todas pessoas com um senso crítico. O filme é imperdível!

Direção: Dan Gilroy

Elenco:
Jake Gyllenhaal, Bill Paxton, Rene Russo, Riz Ahmed.

Sinopse: o filme acompanha Lou Bloom, um jovem determinado e desesperado por trabalho que descobre o mundo em alta velocidade do jornalismo sensacionalista em Los Angeles. Ao encontrar equipes de filmagem freelances à caça de acidentes, incêndios, assassinatos e outras desgraças, Lou entra no reino perigoso e predatório dos nightcrawlings — as minhocas que só saem da terra à noite. Nele, cada lamento da sirene da polícia pode significar uma tragédia em que as vítimas são convertidas em dinheiro. Ajudado por Nina, uma veterana do sensacionalismo sanguinário que se tornou a cobertura de notícias nos canais de televisão locais, Lou ultrapassa a linha entre o observador e o crime para se tornar a estrela de sua própria história.
Trailer:


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