Scarlett Johansson em Dose Dupla: Críticas de ‘Lucy’ (2014, de Luc Besson) e ‘Sob a Pele’ (2014, de Jonathan Glazer)

Lucy








Scarlett Johansson é a mais poderosa e influente atriz da atualidade. Considerada uma das mulheres mais sexy do mundo (para muitos a mais), musa nerd pelos seus filmes de fantasia, principalmente sua Viúva Negra do universo Marvel, como em Os Vingadores e também elogiada por seu talento como artista (não apenas um belo rosto). Para ser sincero, sinto que ainda faltou para a moça um papel digno do Oscar de Melhor Atriz. Em contrapartida, isto aos poucos está se encaminhando. 2014 sem dúvida foi um dos mais importantes anos da carreira da moça, que encabeçou o elogiado drama Chef, dividiu as cenas de ação e os conflitos de espionagem com o Capitão América 2 – O Soldado Invernal e ainda protagonizou dois intensos longas, nos quais falarei agora. Lucy e Sob a Pele são duas produções com uma maquiagem de filmes populares (suspense, ficção e ação), mas que na verdade trouxeram questões filosóficas. Muito interessante a escolha de Scarlett. Vamos falar então de Lucy.





Na trama, a jovem é forçada a servir de “mula” para uma nova droga. Ao ser ferida e a droga se misturar no seu sangue, ela começa a usar mais a capacidade do cérebro. Então uma série de eventos surreais surgem, nos levando em uma eletrizante viagem cheia de questões. Dirigido pelo competente cineasta francês Luc Besson, que já nos divertiu com o interessante O Quinto Elemento (aquele filme que lançou Milla Jovovich), mas também surpreendeu com O Profissional (filme queridinho de cinéfilos), fez os divertidos e diferentes As Múmias do Faraó e A Família; além de roteirizar e produzir filmes de ação de sucesso, onde alguns de seus aprendizes dirigiram, como Busca Implacável, Carga Explosiva, entre tantos outros. Com um currículo desses, se esperava algo explosivo e diferente. E isto realmente é entregue, embora seja um filme mais reflexivo do que focado na ação.






A começar pelo nome da personagem título, onde se refere à teoria da primeira mulher primitiva, que recebeu este nome. Neste momento vemos que o filme firma a teoria da evolução. Mas em determinado momento isto fica sutilmente em dúvida, já que segundo o filme, ao se usar 100% do cérebro nos tornamos onipresentes, estando em tudo e em todos. Não seria tal força o conceito de divindade? Outra questão extremamente levantada no longa é a objetividade da existência humana. Em determinado momento se salienta que os humanos deixaram de se importar em ser para passar em se focar em ter. Mais cidades, mais carros, mais festas, mais drogas, mais dinheiro, mais tablets, mais celulares. E menos humanidade, menos tempo para apreciar coisas simples, menos famílias e amigos, menos objetivos naturais, menos tempo de vida. Sim, porque correr demais atrás de dinheiro e drogas são exemplos de como muitos morrem – e isto ocorre no filme o tempo todo.

Besson consegue em apenas uma hora e vinte e cinco minutos construir um longa ágil, frenético e reflexivo. Claro que estamos falando de um filme pipoca, e como tal o que nos resta em alguns momentos é curtir a ação, o suspense e os efeitos especiais. Mas esta produção apresenta mais e mostra um potencial além da maioria das produções hollywoodianas. A direção de Besson é dinâmica e correta, com momentos documentais, filosóficos, alucinógenos e alguns regados em efeitos especiais, muito bem executados. A atuação de Scarlett Johansson é interessantemente fria, convencendo no papel. O fato de sua frieza faz-nos pensar que se usarmos demais o cérebro levando em conta cálculos, física, a razão e estatísticas, perderíamos grande parte dos sentimentos. É necessário sermos limitados para continuarmos humanos? Fica a questão. Lucy é uma das surpresas do ano, um filme alucinógeno, uma verdadeira viagem, que para aceitá-la deve-se estar de mente aberta. Faltou muito pouco para ser dez, mas segue como um filme imperdível. Principalmente se você é fã de Scarlett, que carrega o filme com força. Luc Besson faz jus aos franceses, que são os criadores e pais da sétima arte, entregando um entretenimento aparentemente bobo, mas que na verdade está bem longe disto.








Direção: Luc Besson

Elenco: Scarlett Johansson, Morgan Freeman, Choi Min-sik, Amr Waked.

Sinopse: quando a inocente jovem Lucy (Scarlett Johansson) é forçada a transportar drogas dentro do seu estômago, por acaso, ela acaba absorvendo as drogas, e um efeito inesperado acontece: Lucy ganha poderes sobre-humanos, incluindo a telecinesia, a ausência de dor e a capacidade de adquirir conhecimento instantaneamente.




                                Trailer:



      


  Sob a Pele


Outro papel alucinante de Scarlett Johansson, este ainda é mais filosófico, ousado e autoral. Outro filme obrigatório neste ano, figura entre os melhores. Mas este é um filme para poucos. A começar por ser um filme menor, de pequeno orçamento e não tão divulgado. Não fez a bilheteria de Lucy ou Capitão América 2. Mas neste trabalho é que descobrimos o lado mais versátil de Scarlett. Aqui ela é uma alienígena, na forma de mulher e andando por estradas escocesas, seduzindo homens e levando-os para seu lugar secreto, onde ela suga a força vital deles. Esta ideia lembra um pouco as ficções de terror sexy A Experiência. Mas Sob a Pele se destaca em ser um filme complexo e filosófico. Não é focado em terror, ficção científica ou suspense; embora estejam presentes como uma maquiagem. O filme é unicamente uma reflexão psicodélica do diretor sobre algo, um tema incerto de se discutir.

Aqui Scarlett tem o melhor desempenho de sua carreira. Acredito que ela não concorra o Oscar de Melhor Atriz devido a forte concorrência, mas teria chances. Se em Lucy ela vai de apavorada a fria, aqui em Sob a Pele ela vai de assustadora e fria a confusa e triste. É intrigante o fato dela escolher suas vítimas, usando sua belíssima aparência como isca. Em uma espécie de transe psicodélico, os homens são atraídos à uma água (algum líquido), onde ela suga a força vital da vítima. Todas estas cenas são apresentadas de maneira estranha, com um ambiente todo preto e apenas a nudez dos personagens em cena. Muito estranho, devo dizer. Quanto a nudez, vale salientar que o filme teve o melhor marketing do ano. Não, nada de centenas de cartazes e trailers. ‘Sob a Pele’ apostou na ousadia e divulgou fotos de Scarlett 100% nua, deixando marmanjos loucos pela web e revelando uma certa “barriguinha” da atriz, mostrando a beleza de uma consagrada estrela mesmo acima do peso, seja ela gordura ou efeito da gravidez recente de Scarlett. E justamente este marketing foi o que fez eu perceber sobre o que o filme trata, na verdade.




Claro que esta é minha opinião, mas no fundo o filme é uma metáfora à beleza, ao visual, ao sentimento humano diante o espelho. Em determinado momento a alienígena sente medo, confusão, desejo e outros sentimentos muito próprios de uma mulher insegura. Mesmo que não explicado, encarei o filme como uma mensagem à estética do corpo humano. Uma alusão às inseguranças, medos e delírios diante o próprio reflexo. Mas isto não é evidente de cara e você poderá não perceber isto. É um filme lento, amarrado pela atuação silenciosa de Scarlett Johansson e uma direção estilizada de Jonathan Glazer, cineasta pouco conhecido saído de trabalhos com vídeo clips de bandas como Radiohead. Aqui ele usa um excêntrico e bizarro impacto visual. Detalhes de um olho, da natureza, uma moto em alta velocidade, câmeras lentas, cenários pretos ou brancos, contrastes de cores. Tudo é psicodélico, com o intuito de chocar de frente com a complexa e lenta narrativa. Mas não é só no apelo visual que o filme se sustenta. Sob a Pele possui uma das trilhas sonoras mais nervosas do ano, metendo medo e desconforto em alguns momentos extremos.


Um filme que fica além de apenas ser visto. É para ser refletido, questionado e debatido. Quase uma aula de filosofia. Não é para todos. Tem de se estar disposto, com a mente aberta. Não é um filme para toda a família, tem sensualidade e um final chocante. Mas é uma produção independente que foge do padrão de Hollywood, vai fundo nas questões complexas e nem todos entenderão ou aceitarão a proposta de Glazer. Um filme difícil de digerir, mas também de esquecer. Ao final, me pergunto o quanto a beleza realmente é importante e vital para nós. O quanto ser belo ou feio está ligado a viver ou morrer. Isto fica evidente no estranho encontro que Scarlett tem com um personagem, que devido a uma tragédia ficou com o rosto deformado. Onde está a real beleza: no seu corpo e no reflexo do espelho? Ou está no seu interior, sob sua pele…




Direção: Jonathan Glazer

Elenco: Scarlett Johansson, Antonia Campbell-Hughes, Paul Brannigan, Jessica Mance.

Sinopse: Sob a Pele acompanha uma sexy alienígena (Johansson) que vem para o planeta Terra, e assume a forma de uma bela mulher perfeita. Andando por estradas desertas, ela usa maior arma para atrair seres humanos: sua sensualidade. Após adquirir uma certa afeição pela humanidade, ela começar a entrar em conflito com a sua própria espécie.




                                  
                                 Trailer:




  Fotos de ‘Lucy’:









  








                       Fotos de ‘Sob a Pele’:

































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