Crítica: Jogos Vorazes – Em Chamas (2013, de Francis Lawrence)

Gosto da franquia ‘Hunger Games’ por vários motivos, mas o principal deles é o fato desta saga apresentar aos jovens adultos algo além do mero entretenimento, por mais rasa que seja essa proposta no primeiro filme. Suzanne Collins guardou seu arsenal de cenas memoráveis, paradas cardíacas e críticas políticas para o segundo livro e isso fica bem claro também no cinema.

‘Em Chamas’ já começa bem diferente do primeiro longa. Se em Jogos Vorazes, o espectador se sentia um pouco perdido no contexto da trama, já que a narração é feita em primeira pessoa (sob a perspectiva da Katniss), aqui a personagem continua sendo o fio condutor, mas o fato de ter passado pelas experiências da arena revelam novos olhares para o sistema imposto pela capital e isso reverbera na maneira como nós também enxergamos os fluxos da história.

A direção de Francis Lawrence (Eu Sou a Lenda) renovou o fôlego da franquia, que antes respirava como uma incerteza e agora assume o posto de maior blockbuster do ano. O diretor aposentou as câmeras tremidas que censuravam a violência do primeiro filme e apostou em saídas bem mais inteligentes e menos econômicas, o que também pode ser explicado pelo fato de não se tratarem mais de crianças na arena. Outra aposta interessante da direção foi suavizar o visual circense que dominava a primeira parte da franquia. Nessa sequência, as alegorias da capital ficam restritas a personagem de Elizabeth Banks, Effie Trinket, que teve seu tempo de tela reduzido se comparado a sua participação no livro.

Grandes aquisições reforçaram ainda mais o elenco. Se por um lado, Josh Hutcherson ainda me parece um pouco deslocado interpretando Peeta Melark (um dos protagonistas), por outro a chegada de Philip Seymour Hoffman empresta uma face mais séria ao longa. O ator dá vida ao novo gamemaker, que assumiu o posto após o assassinato de Crane, e desponta como uma das peças fundamentais para a resolução de questões futuras do próximo filme.

Quanto aos novos tributos, os que mais me chamaram atenção foram Johanna e Finnick, não só por serem coadjuvantes intensos, mas principalmente pela escolha dos atores. Com destaque para Jana Malone(Johanna) que já caiu nas graças do público brasileiro. Suas cenas eram sucedidas de gritos histéricos e aplausos entusiasmados.

Mas a grande sacada de Em Chamas foi a inversão dos textos. Se em Jogos Vorazes, o subtexto político funcionava apenas como um background daquilo que se passava na arena, aqui as rebeliões nos distritos assumem a trama principal. Ponto para Jennifer Lawrence, que soube transmitir claramente a imagem de alguém que vira ícone da noite pro dia e que ainda não sabe lidar com as consequências de suas ações. A jovem atriz de 23 anos, que já tem um Oscar pra chamar de seu, transporta o público para as emoções de sua personagem de maneira que Katniss funciona como um avatar do espectador dentro da história.

Num geral, o filme representa um avanço considerável no storyline da franquia, ao passo que corrige questões mal resolvidas no primeiro longa e injeta uma boa dose de tensão em seu último ato. Como o próprio nome sugere, ‘Em Chamas’ funciona como um esquenta para a promessa de um apoteótico desfecho para a guerra entre os distritos e a capital.

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