Carrie – A Estranha (2013, de Kimberly Peirce)

Quando Stephen King lançou o seu primeiro livro não fazia ideia de que tal livro seria a porta para o sucesso dele como escritor, dando lugar a vários outros best sellers e adaptações cinematográficas de sucesso, foi o livro Carrie lançado em 1974 que deu origem a primeira adaptação cinematográfica baseado em uma obra do escritor e uma das adaptações que se mantem no topo como uma das melhores já feitas. O primeiro filme foi dirigido por Brian De Palma, diretor de clássicos como Scarface e A Fúria, e além de ser considerado uma das melhores adaptações, também tem status de clássico do terror até hoje. O filme teve uma continuação dispensável em 1998 e um remake feito para a TV americana em 2002. Com o grande numero de remakes de sucesso, a MGM comprou os direitos do livro com a promessa de que seria uma adaptação direta do livro, sem relação com o filme de 76. A direção ficou a cargo da diretora Kimberly Peirce do drama Meninos Não Choram. Em alguns entrevistas ela afirmou que o filme seria diferente das outras versões e que teria um desfecho modificado, diferente do livro e do filme de 76 e 2002. A promessa de uma adaptação fiel não foi mantida e o filme é um remake cópia do original do De Palma e muito inferior ao mesmo. Tudo que funcionava tão bem no original foi destruído aqui, fazendo o filme entrar pra grande lista de remakes inúteis de clássicos do cinema. A falta de criatividade é tanta que há  vários takes, cortes de cena, posicionamento de câmera, cenas e falas exatamente iguais a versão do De Palma.

A história do filme para quem ainda não conhece é exatamente a mesma do filme de 76 e do livro: Carrie é uma menina tímida e pacata que sofre bullying na escola e é mal tratada pela Mãe, uma fanática religiosa que acha que tudo é pecado e considera a filha uma pecadora. Carrie desenvolve poderes telecinéticos que se manifestam em momentos de medo e ódio, algo que mais tarde é usado como arma. Sim, como arma, já que nessa versão a personagem tem controle sobre a telecinese e usa os poderes por vontade própria como arma, umas das poucas alterações dessa nova versão.

A escalação de elenco é outro erro grave dessa versão, Chloe Moretz tá péssima como Carrie, não convence nenhum segundo como garota tímida e estranha tão bem caracterizada no filme de 76. Mesmo interpretando Carrie, ela é atraente demais e não constrói a personagem da mesma forma que a Sissy Spacek, fazendo todo o lance do bullying falhar, as cenas continuam iguais, mas sem nenhuma carga dramática. Há também uma tentativa desnecessária de modernizar a história, incluindo uma subtrama desnecessária de cyber bullying, na cena que Carrie é humilhada depois da primeira menstruação que é filmado por uma das moças e minutos depois vai parar no Youtube, mas não tem função nenhuma na história. O lance do bullying falha e o aspecto religioso tão explorado no primeiro filme e no livro não teve o mesmo destaque nesse aqui e, nesse caso, falha também. A personagem Margaret White nessa versão age mais como uma mulher com problemas mentais, do que uma fanática religiosa, algo que foi levado ao extremo na versão de 76 e já não tem destaque nesse aqui. O ponto alto nisso tudo é a atuação excelente da atriz Julianne Moore, roubando as cenas com olhares e expressões insanas, o roteiro deu um pouco mais de espaço a insanidade da personagem e deixou o fanatismo em segundo plano.

A única coisa que essa refilmagem acrescenta a história é o lance da Carrie descobrir e treinar os poderes, mas é outra coisa que é mal colocada na história, dá a impressão de ser um filme da franquia X-Men ou um episódio da série Heroes e como o trailer deixou claro, a personagem tem controle total sobre os poderes, usando mais tarde como arma e matando por vingança. Essa foi a grande mudança em relação ao original, mas é outra coisa que não agrada e somando com o resto faz o filme ir de ladeira abaixo. As características de terror se perdem em meio aos efeitos especiais de CGI e cenas como aquela que a Carrie sai do baile voando. O lance da cidade destruída tão prometida no primeiro trailer passou batida e sem destaque e a promessa de um final modificado não foi mantida.

A nova versão de Carrie falha em tudo o que propõe, falha no drama, falha no terror e falha como adaptação. Uma refilmagem completamente desnecessária e sem proposito, a não ser comercial.

Nota: 6


Titulo original: Carrie
Ano de produção: 2013
Elenco:
Chloë Grace Moretz, Julianne Moore, Judy Greer, Portia Doubleday, Gabriella Wilde, Alex Russell, Michelle Nolden, Max Topplin, Cynthia Preston, Connor Price.
Roteiro:
Roberto Aguirre-Sacasa, Lawrence D. Cohen

Sinopse: 
Carrie retrata um grande desastre ocorrido na cidade americana de Chamberlain, Maine, destruída pela jovem Carietta White. Nos anos anteriores à tragédia, a adolescente foi oprimida pela sua mãe, Margaret, uma fanática religiosa. Além dos maus tratos em casa, Carrie também sofria com o abuso dos colegas de escola, que nunca compreenderam sua aparência, nem seu comportamento. Um dia, quando a jovem menstrua pela primeira, ela se desespera e acredita esta morrendo, por nunca ter conversado sobre o tema em casa. Mais uma vez, ela é ridicularizada pelas garotas do colégio. Aos poucos, ela descobre que possui estranhos poderes telecinéticos, que se manifestam durante sua festa de formatura, quando os jovens mais populares da escola humilham Carrie diante de todos.

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