ZARAFA (ZARAFA, FRANÇA, 2012)

(Crítica publicada por “Anjo
Da Guarda”, com seu nome original, no caderno de Cinema da Rede Bom Dia de
jornalismo, edição de Itatiba, São Paulo)
Parece, às vezes, que as cabeças
das pessoas estão feitas quando são questionadas sobre as animações. As
respostas são sempre as mesmas: “Toy
Story”
, “Monstros S.A.” ou mesmo
“O Rei Leão”, que não deixa de ser
uma obra-prima. Quando se fala em desenhos vindos de outros lugares do mundo,
que não seja dos EUA, também as perguntas surpresas são as mesmas e ainda mais
eloquentes: “da França?”, “de Israel?”, “do Japão?”. E essa é a grande
realidade, de todos os lugares surgem animações deslumbrantes; basta olhar, por
exemplo, para os filmes de Hayao Miyazaki, do japão, verdadeiras obras-primas.
Pois bem, com “Zarafa (Zarafa, França,
2012)”
, em cartaz no país, não é diferente. A animação francesa dirigida
por Rémi Bezançon (“Um evento feliz”) e Jean-Christophe Lie (animador
de filmes como “Kiriku – Os animais selvagens” e “As bicicletas
de Belleville”) tem inspiração na história verídica da primeira girafa que
chegou a França, algo não tão fácil de servir de inspiração, mas que conseguiu
o feito com méritos. A questão é que o desenho usa esse pano de fundo,
comunicando-se assim perfeitamente bem com as crianças, para representar outra
realidade. Os acontecimentos são no século 19, na história o pequeno sudanês
Maki é vendido como escravo e consegue fugi. Faz amizade com uma girafa e ambos
são quase capturados por um mercador que mata o animal. O garoto então faz do
filhote da girafa sua melhor amiga inseparável, mesmo após serem “caçados” por Hassan,
um egípcio a caminho da Alexandria. E assim todos iniciam uma longa jornada.

Na França se deparam com a
desigualdade e nenhum senso do ridículo. Numa das cenas o rei da França, então
Carlos 10º, é levado para demonstração da Girafa, mas ao ver o menino junto com
ela solta “se parece com um macaco que fugiu da jaula” e se ele ri,
toda a corte ri também. Assim o filme realiza uma espécie de “expiação”, já que
a França foi praticamente a grande colonizadora da Europa e não é novidade pra
ninguém o que ela causou na África. Mas o desenho tem misericórdia, o garoto
ainda consegue encontrar sua amiguinha de escravidão e consegue fugir novamente
com ela. Tudo é visto com leveza, em cores humanas, com movimentos simples, mas
nunca infantilizados. Em alguns momentos lembra bastante “As Bicicletas de Belleville”, por quem todos se apaixonam
facilmente. É mais uma prova de que fora daquele circuito americano de sempre,
tanto os pais, quanto as crianças, irão sim encontrar desenhos maravilhosos e
com grande lição de moral. Interessante que, diferentemente do que estamos
acostumados a ver, aquela frase de autoajuda que infesta a maioria das
animações “não importa o que acontecer, tudo dará certo”, nem se aproxima de “ZARAFA”. Existe um senso muito maior
de liberdade, de se enxergar parte do contexto e se reconhecer no meio dele e
nunca desistir.
NOTA: 8

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