Suspense e Terror: ‘Minha Visão’ sobre O Albergue – Partes 1 e 2 (2005 e 2007, de Eli Roth)




O Albergue

Eu diria que Eli Roth é um cara perverso. Onde ele está envolvido como diretor, produtor, ator ou roteirista, há sangue e algo macabro. Na direção ele estreou com o estranho e irônico ‘Cabana do Inferno’, filme que misturou epidemia com  humor negro. Mas foram com os filmes ‘O Albergue’ Partes 1 e 2 que o cara se consagrou como um dos melhores do gênero do terror moderno. De lá para cá ele não entregou nada muito satisfatório, mas aqui vai a confissão deste amante do gênero de terror: os filmes ‘O Albergue’ são alguns dos poucos filmes de terror modernos que conseguem ser perturbadores. Vou falar rapidamente de cada um deles. O texto conterá SPOILERS, portanto se você não viu o filme ou odeia ficar sabendo sem ver não leia.



Na primeira parte somos apresentados aos típicos jovens americanos em viajem pela Europa. Eles só pensam em uma coisa: sexo. Uma cena pesada aqui, uma curtida ali; eles acabam seguindo a dica de um jovem e indo para uma pequena cidade da Eslováquia, onde parece ser um Oásis. E de início realmente é. Jovens sedutoras os levam para festas e curtidas. Jovens excitados em experiências únicas; até aqui nada novo. Mas são nos detalhes durante a primeira metade do filme que se encontram as pistas do que está por vir. Na primeira metade, enquanto os 3 amigos curtem, estranho é que tudo se encaminha para isso. Há este jovem que indica o tal albergue para eles, há o senhor com pinta de rico que tem uma estranha conversa com eles no trem, há as crianças delinquentes no vilarejo do albergue (vilarejo este bem afastado do mundo), há estas maravilhosas garotas dando em cima dos caras. Tudo tão perfeito, perfeito demais…

Um a um, nossos 3 amigos são levados para um lugar sujo e secreto, um tipo de matadouro. E é nesse ambiente que se passa a metade final do filme. Primeiro há a procura de dois deles em busca do primeiro desaparecido. Mas quando outro dos jovens some, o último (o protagonista Paxton) vai em busca da verdade. Qual a verdade? ‘O Albergue’ traz uma verdade absurdamente estarrecedora: o dinheiro compra tudo, inclusive vidas humanas. Acontece que trata-se de uma poderosa rede mundial, onde os associados (pessoas poderosas do mundo inteiro) pagam quantias absurdas para aliviar o estresse. Se você quer ter uma terapia para seus problemas e pode pagar por isso, os fornecedores lhe darão o espaço e a ferramenta para você se acalmar – mutilando e matando jovens mochileiros. É isso mesmo que você leu! A morbidez do roteiro é apavorante e lança uma dúvida: o que acontece com tanta gente que desaparece todo dia? Aqui em ‘O Albergue’ os viajantes são sequestrados para que os ricos possam cometer todo tipo de barbárie e selvageria com seus corpos. 


Este primeiro filme foi lançado em 2005 e causou polêmica, sendo inclusive considerado o mais violento e chocante da última década. Todo o ato final do filme envolve o que acontece dentro deste “matadouro”, de onde Paxton tenta escapar. A trilha sonora é horripilante, as cenas de tortura e mutilação são de revirar o estômago. A crueldade humana é posta em pauta de uma maneira como a tempos não se via. Lançado na sombra dos primeiros ‘Jogos Mortais’, ‘O Albergue’ é bem mais explícito, justificando assim a expressão “porno-tortura’. A violência gráfica chega perto dos limites do que você já viu, mas sem nunca deixar de incomodar pelo assunto em si. Acho que pior que a violência em si, é o fator realidade que o filme nos mostra. O dinheiro manda, a maldade humana também. Por que não juntar os dois? Este filme traz uma alarmante realidade, nosso mundo está cheio de casos macabros e redes de tráfico humano muito poderosas. Claro que é apenas um filme, e claro que há muito filme pior (alguns até proibidos, caso dos enjoativos “A Centopeia Humana’ 1 e 2). Mas ‘O Albergue’ deixa um gosto amargo de: será que isso realmente acontece em algum lugarzinho isolado do planeta?

A grandiosa cena da fuga de Paxton é eletrizante. Durante a tal fuga, conhecemos como funciona todo o esquema e ficamos abobados de como o homem pode ser frio. Chegam a pagar quantias absurdas para poder torturar alguém. E ainda demonstra ansiedade por isso! Não tem como deixar de comentar sobre uma personagem oriental que tem seu olho mutilado. Paxton tenta ajudar ela, cortando o olho que está pendurado. Esta é a cena mais horrível em um filme de terror durante os anos 2000! E a marca que fica na garota traz um chocante resultado. Ao fim da projeção você fica mal, pensando em toda morbidez que foi apresentada. Estaria Eli Roth dando seu recado? Dinheiro comprando vidas humanas. Estamos em 2013, e mesmo após 8 anos o filme causa contendas. Há quem não goste, alguns até o julgam chato. Mas acreditem, diante de todas atrocidades há neste filme uma mensagem perigosa. E mesmo diante de toda violência, o que mais me assusta são as já citadas crianças. Um grupo de meninos de rua da tal localidade, que sabem de tudo e são comprados com doces ou algumas moedas. Já vivem nesse meio, moldando a mente com o perverso. Mas Eli Roth ainda tem mais a mostrar na Parte 2, então continue lendo…

NOTA: 9,5

Direção: Eli Roth


Elenco: Jay Hernandez, Derek Richardson, Eythor Gudjonson, Barbara Nedeljakova, Jan Vlasák, Jana Kaberabkova, Jennifer Lim, Keiko Seiko, Lubomir Bukovy, Jana Havlickova.


Sinopse: Paxton (Jay Hernandez) e Josh (Derek Richardson) são dois mochileiros universitários americanos, que decidem viajar pela Europa em busca de experiências que entorpeçam os sentidos e a memória. Durante a viagem eles conhecem Oli (Eythor Gudjonsson), um islandês que passa a acompanhá-los. Seduzidos pelos relatos de outro viajante, eles decidem ir a um albergue particular em uma cidade desconhecida da Eslováquia que é descrito como um verdadeiro nirvana. Lá eles conhecem Natalya (Barbara Nadeljakova) e Svetlana (Jana Kaderabkova), duas beldades locais que se interessam por Paxton e Josh. Empolgados com as experiências novas que vivem, eles logo descobrem que nem tudo na cidade é a maravilha aparente.




Trailer:







O Albergue – Parte 2





Tudo que deu certo no primeiro filme voltam duplicado nesta sequência lançada em 2007 (dois anos após o primeiro). Desta vez acompanhamos um grupo de amigas, onde uma bela moça às leva até o tal albergue. Mas aqui nesta continuação temos um diferencial: acompanhamos o outro lado, o dos empresários que entram neste submundo sanguinário. Acompanhamos 2 iniciantes, sua entrada como associados, a tatuagem característica dos membros. Através da perspectiva deles nós vemos como funcionam os lances de preço pelos jovens. Americanos custam mais caro. Garotas bonitas também. É revoltante tamanha crueldade. O grupo de pequenos delinquentes também está de volta, agora piores do que nunca. Nesta sequência temos menos sexo, menos curtida e menos momentos de amizade. O sangue, as torturas, a sociedade secreta e o sadismo; tudo isto é redobrado. Tudo funciona como um império político e empresarial. Quem tem mais para pagar leva o melhor “produto”. Então o pessoal do albergue te dá a ferramenta que quiser. Desde um martelo até uma serra elétrica. 

Há tantas coisas chocantes nesta segunda parte que é difícil de classificá-las. Há a cena das crianças espancando a protagonista, há a cena de um velho rico cortando a perna do cara e servindo em uma prato para ter um jantar (com luz de velas e tudo). Há alguns que levam para um lado sexual, algo primitivo, um fetiche. A mais perturbadora e bizarra cena desta segunda parte é com a primeira vítima, que é pendurada nua de cabeça para baixo. Sob ela há uma banheira. Uma mulher nua entra na sala, deita-se na banheira e usa uma espada samurai para ferir a jovem. Ela se excita com a situação. Passa o sangue em seu corpo. Para aquela mulher, é uma sensação de poder; como ela pagou ela pode ter este prazer. Tudo tão bizarro, tão horrendo e tão revoltante.



























Depois de várias cenas massacrantes, o diretor Eli Roth nos presenteia com um final “mindfuck”. O filme todo torcemos para que Beth escape. Também ficamos apreensivos com relação aos dois iniciantes da organização. Stuart teme pelo que está por vir, parece arrependido e não tem certeza se conseguirá tirar uma vida sadicamente. Seu amigo Todd está ansioso pela primeira vez. Mas na hora H, nos surpreendemos com os destinos dos dois. Todd não aguenta a pressão, mas Stuart se revela o maior psicopata de todos. E é com Beth que ele terá de suprir seu mórbido prazer, justamente com ela, que havia rolado um clima durante um festival. Mas as reviravoltas não param por aí, a jovem é mais esperta e perversa do que se imagina e no fim quem tem mais dinheiro é quem manda. Prepare-se para ficar de boca aberta. E revirar a cabeça quando acontecer uma mutilação genital. 

Não é atoa que ‘O Albergue – Parte 2’ é considerado por alguns melhor do que o primeiro (algo raro de acontecer). Sem dúvidas é uma das mais macabras continuações do cinema, trazendo todas as questões levantadas no primeiro e acrescentando algumas novas. A mente humana é perversa a ponto de criar tal aberração? No cinema sim. Na vida real torcemos para que não. Mas todo dia vemos no jornal crimes hediondos, facções criminosas e situações onde quem tem poder aquisitivo consegue tudo. Ao longo da história temos visto muitos massacres que não são tão diferentes do que é apresentado em ‘O Albergue’. Uma perversa originalidade assombrou Eli Roth, que entregou 2 dos filmes mais impactantes que já assisti. Se você tem mente, coração e estômago sensíveis, passe longe. Se você está acostumado com filmes de terror mais fracos, estilo ‘Atividade Paranormal’, não irá gostar. Se você aprecia clássicos como ‘O Exorcista’ ou gosta daquelas velhas produções proibidas e nojentas, como o controverso ‘Holocausto Canibal’, você não se enquadra como público de ‘O Albergue’. Estes dois filmes ficam no limite entre o que é aceitável ou não. Assista com a mente aberta e com coragem. Você levará duros golpes na mente e na razão. E por fim, caso se aventurar neste sombrio universo de torturas, irá pensar duas vezes antes de sair por aí para viajar.

NOTA: 9



Direção: Eli Roth



Elenco: Lauren German, Heather Matarazzo, Bijou Phillips, Roger BartVera Jordanova, Richard Burgi, Jay Hernandez, Jordan LaddMilan KňažkoEdwige FenechStanislav IanevskiPatrik Zigo, Zuzana Geislerová .


Sinopse: Beth (Lauren German), Lorna (Heather Matarazzo) e Whitney (Bijou Phillips) são jovens americanas em viagem a Roma. Ao fazer um passeio de final de semana elas são atraídas por uma bela modelo, que conhecem no caminho para uma região remota da Eslováquia. A modelo lhes oferece que conheçam um spa exótico, onde poderiam relaxar, rejuvenescer e se divertir. Elas aceitam o convite, sem imaginar que serão vítimas de um leilão em que participam pessoas ricas e doentes de diversos países.




Trailer:




PS: há uma terceira parte lançada diretamente para DVD em 2011. Mas é bem fraca e não recomendo, é outra equipe, outro diretor e se passa em Las Vegas. Mudou tudo e não consegue ser chocante.



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