FERRUGEM E OSSO (DE ROUILLE ET D’OS, FRANÇA, 2012)

(Crítica publicada por “Anjo Da Guarda”, com seu nome
original, no caderno de Cinema da Rede Bom Dia de jornalismo, edição de
Itatiba, São Paulo)



“Brilhante. Um dos melhores filmes do ano. Através de riqueza de personagens, diretor premiado narra fábula desconcertante sobre difícil processo de amadurecimento, aceitação e redenção.”

O francês Jaques Audiard sempre acerta, em 2010 seu filme “O PROFETA”
foi louvado em festivais e foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro.
Em 2012 não foi diferente, abriu o festival de Cannes com “FERRUGEM E OSSO (De
rouille et d’os, França, 2012)”, que chega somente agora aos cinemas no país,
que também foi muito aplaudido, além de receber indicação ao Oscar como melhor
filme estrangeiro em 2013. Pois se em seu último filme o personagem principal
era um homem, que se tornava uma espécie de “deus” dentro da prisão, aqui o
efeito é totalmente o contrário e fica marcada a sua visão quase
extraordinária. “FERRUGEM E OSSO” é uma adaptação do conto do canadense Craig
Davidson, de muito sucesso na França e países vizinhos. O escritor opta por
romances, por vezes dramáticos, como é o caso aqui, mas o que chamais chama a
atenção em seu enredo é o toque social.

Pois bem, esse é o ponto de partida da história, em “FERRUGEM E OSSO” o
personagem Alain (Matthias Schoenaerts) chega com o filho na casa da irmã, que
não via há 5 anos. O sujeito está saindo do casamento, não tem muitas
perspectivas e faz o que dá na cabeça. Quando vai trabalhar numa danceteria
conhece Stéphanie (Marion Cotillard), a salva de uma briga e a acompanha até em
casa. A princípio ficariam só ali, mas após a jovem sofrer um acidente e ter as
pernas comidas por tubarões, a mesma fica numa cadeira de rodas. A única opção
que encontra para talvez sair da tristeza em que mergulha é ligar para Alain,
chama-lo para uma visita e assim inicia uma grande amizade. As cenas em que
Alain leva Stéphanie para mergulhar na praia são de uma humanidade ímpar,
afinal, é impossível não pensar como de um sujeito tão rústico pode surgir um
parceiro tão leal. Dessa forma a relação dos dois entra em crescimento, dentro
das limitações uns dos outros, vão aprendendo a se conquistar. Esse é o mote do
filme de Jaques, Alain torna-se uma espécie de redenção para Stéphanie, mas ele
mesmo age como uma criança, enquanto ela vai se aceitando na nova condição. O
único dom de Alain é usar o corpo, torna-se lutador de lutas privadas onde
efetivamente ganha dinheiro, seu único motivo de alegria.




Dessa forma o filme transforma-se numa espécie de fábula, num contexto
sócio-econômico de miséria e de falta de perspectivas para os mais pobres ou
para quem mora no subúrbio (e qualquer lembrança da crise ou do preço que a
França ainda paga por ter sido colonizadora de outros povos, até as últimas
sequências, não é mera coincidência), resta ainda um espaço para viver um
romance. Romance que também é marcado pelo sofrimento, é necessário arrancar de
uma situação literalmente triste, motivos para viver. Um filme brilhantemente
filmado, delicadamente imaginado, com interpretações viscerais, que cria empatia
com o espectador e que tem mínimos exageros em detalhes como, por exemplo, a
trilha sonora,. Em determinado momento a música “Fire Works” de Kate Perry
embala o tema da redenção da personagem de Marion, o que deixa a sequência um
tanto piegas demais. Ainda assim é possível relevar. Os atores estão brilhantes
no papel, apresentam um crescimento impecável dos personagens, sem nenhum
exagero. Enfim, é um dos melhores filmes do ano e vale dizer que o final é de
deixar qualquer um espantado. Imperdível.

NOTA: 8


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