CRÍTICA: Only God Forgives – Só Deus Perdoa (2013)


Ser crítico é ser mau. Ser mau é divertido. E divertido é ser crítico.
Que qualificações eu tenho pra ser crítico? Foi a questão que atiraram na minha cara recentemente (é. Finalmente aconteceu. Alguém quis me matar por um crítica que fiz. E não foi de um filme. Era um livro!). Bom, eu acredito piamente que nós só temos direito de julgar aquilo que conhecemos bem, que temos a capacidade de fazer igual ou melhor. Temos o direito de julgar. Logo, eu nunca poderei julgar o número de uma bailarina por exemplo. Por acaso eu sei dançar? Claro que não! Agora um filme… Eu assisto filmes clássicos e complexos há mais de dez anos e tenho um humilde roteiro que escrevi devidamente registrado na Biblioteca Nacional, então, sim, eu acredito que posso falar um pouco disso! Aplaudir quando são memoráveis, torcer o nariz e dar “dicas” que alguns “mais ou menos” poderiam ter adotado para ser

melhor e cuspir em asco quando me deparo com algo como Only God Forgives.

Foi um filme pra lá de esperado por todos os que curtem cinema, e por isso é ainda maior a revolta quanto a ele ser tão ruim. E por que tão ruim? Veja bem… Eu sou capaz de listar os pontos crucias que reduzem essa promissora obra a uma massaroca vazia e feiamente pretensiosa.
O diretor Nicolas Winding realmente tentou contar uma estória por uma visão toda única e estilizada e isso é óbvio. Mas trata-se de um estilo único e ruim. O que Winding faz é forçar seus atores a agir como se fossem estátuas de mármores. O sempre ótimo ator Ryan Gosling (e o que ele faz mesmo enfiado nessa bagunça péssima?) é obrigado a ter cenas, por exemplo onde leva uns trinta segundos olhando mudo para frente, para então em câmera ultra lenta (sem nunca estar sendo filmado em câmera lenta) olhar para o lado e ainda bons segundos depois voltar a olhar para frente. Pessoas conversam com seus corpos imóveis. O “vilão” da estória caminha como se todo o seu corpo estivesse engessado. Uma simples caminhada sem importância pela rua não leva menos do que um minuto inteiro. Nesse nível. E é tudo imposição do diretor! 
Eu me sinto em uma posição realmente conflitante aqui. Imagino… E se eu estiver agindo como aqueles críticos lá dos anos 20 e bolinha quando viram o movimento artístico do surrealismo, dadaísmo e afins pela primeira vez e chamaram de “lixo” quando hoje é um movimento admirado por todos? Não sei não…
Esse filme foi vaiado no festival de Cannes e na época eu até defendi (sem ter assistido ainda) dizendo que devia ter sido por conta da violência que nunca agrada a grande massa. Bom, hoje sei que vaiaram porque é ruim mesmo! Se eu estivesse lá também vaiaria e ainda atiraria objetos contra a tela.
A tal violência é mesmo puxada, mesmo que só tenha me incomodado pra valer em uma cena onde um homem vai tendo aos poucos seus punhos e pernas e olhos e ouvidos espetados por ferros pontiagudos e isso no meio de uma festa, onde as pessoas (em sua maioria mulheres) simplesmente se mantém estáticas, com seus olhos fechados para não ver, angustiadas, só ouvindo os gritos. Não me incomodou a violência em si e sim porque… A violência nunca é justificada!
O roteiro surreal de tão incabível nunca justifica nada. E assim nós não damos a mínima pela mutilação daquele personagem e pela morte daquele outro. Nós não nos conectamos com nada, porque nunca nos permitem que tal conexão aconteça.
Kristin Scott Thomas atua ativada no modo “travesti”. Ryan teve todo o seu talento emparedado. Essa é uma simples estória de vingança que tentaram de uma forma desastrosa estilizar que acabou tão rebuscada que é algo do tipo que aposto que o gênio Quentin Tarantino (ele responsável sim por uma trama de vingança que encheu a tela de vigor e arte pulsando em boa ação, boa estória, bom movimento) daria risada e eu só queria estar ao lado dele para rir junto em escárnio.
Eu sou professor e ao corrigir avaliações dos meus alunos eu sempre fico caçando fragmentos de respostas corretas (às vezes até onde não existem) para puxar um “meio certo”, sempre tentando aumentar as notas. Aqui eu faço o mesmo, mas nesse caso não é como se eu me importasse com o filme. Só estou me esforçando ao máximo para não ser o cara que “odeia as coisas”, que quer parar de ter o sentimento dúbio “estou sendo impaciente demais ao tacar fogo nesse filme que opta pelo estilo artístico inusitado”. Mas eu tenho imenso apreço por muitos filmes de espírito lentíssimo e de arte… Enfim, complicado.


Na vibe do professor generoso, no que se diz respeito a pontuação, tudo o que eu consigo encontrar é um ponto pelo visual (porque até mesmo o visual deslumbrante é prejudicado em nossa percepção quando englobamos tudo. Estrume embrulhado em papel bonito continua com o mal cheiro e nos distrai da beleza do embrulho). Um ponto por cenas – fragmentos de cenas – que podem ser contadas nos dedos de uma mão que respiram muito de leve algum ato de inspiração.
Um filme que gera conflito interno em quem ama cinema (considero isso arte? É todo emparedado, forçado, vazio e devo considerar isso válido?). Um filme para ser visto uma vez apenas e mesmo assim lamentando por sequer ter tido o ímpeto de assistir. 
NOTA 2 de 10


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