Crítica: O Lugar Onde Tudo Termina (2013)





Entre 2010 e 2011, Derek Cianfrance encantou e chocou o mundo com ‘Namorados para Sempre’, um filme que justamente se focava no fim do amor. Agora ele lança este O Lugar Onde Tudo Termina, que traz alguns elementos parecidos, porém foca na relação entre pais e filhos. O filme pode ser inferior ao trabalho anterior deste diretor, mas assim mesmo é uma obra cheia de qualidades. Pode-se dizer que o que temos são duas horas e 20 minutos que nos apresentam 3 histórias amarradas por uma tragédia. Na primeira, acompanhamos Ryan Gosling tentando merecer o amor e o direito de criar seu filho, mas perde-se entre o submundo dos roubos de banco. Na segunda temos Bradley Cooper ascendendo como político, e como isso acaba afastando-o de seu filho. Na terceira temos a explosiva relação de ódio entre o filho de Ryan Gosling e o filho de Bradley Cooper. Os acontecimentos são ligados por uma tragédia que acontece um pouco antes da metade do filme.





A direção de Derek é ótima. Ele é um daqueles diretores que se foca no bom elenco, e o quê este bom elenco pode entregar. Algumas cenas são lindamente filmadas, como as que se passam nas motocicletas ou nas que se passam em um plano aberto (mata, campo, estrada rural). A fotografia do filme não chega a ser muito explorada, mas possui alguns momentos inspirados. O diretor se apega ao roteiro amargo e transborda isto na maneira que conduz os fatos da trama. E nota-se perfeitamente que ele exigiu do elenco uma certa competência. Já que tanto falo do elenco, Ryan Gosling está mais uma vez incrível. Seu visual largado e tatuado condiz com suas atitudes. Ele não é mal, mas suas escolhas são. Agora um cuidado que este talentoso ator deve ter é a escolha de suas personagens, que estão sendo bem parecidas umas com as outras. Não me levem a mal, ele atua soberbamente bem, mas acontece que suas personagens vem sendo ‘cool’ demais, bacanas demais; um estilo rebelde, violento, às vezes depressivo. Daqui a pouco começará a perder a graça de vê-lo.


Bradley Cooper, quem diria não é rapaz? Depois de brilhar com uma indicação ao Oscar de Melhor Ator em ‘O Lado Bom da Vida’, aqui ele repete uma brilhante atuação. Aqui ele está sério, sóbrio e com a mente fragilizada. Acontece que de herói policial, ele acaba se metendo numa roubada envolvendo corrupção entre seus colegas. Para sair, acaba fazendo tratos que o privilegiam no mundo da política. Embora as escolhas dele tenham sido melhores que as do Ryan, mesmo assim ele acaba perdendo sua família. Há uma cena específica em que Cooper arrasa na atuação com algumas poucas palavras e um olhar profundo. Está se revelando um grande ator! Não devo deixar de falar de Eva Mendes, que além de ser uma das mulheres mais sexy’s do mundo, é talentosa e aqui neste filme mostra isso. Ela é a moça com quem Ryan Gosling tem o filho, mas a vida do rapaz faz com que ela se case com outro homem.




Por fim chegamos aos filhos deles. O filho de Gosling e Eva Mendes é brilhantemente vivido por Dane DeHaan. O rapaz surpreendeu o mundo com sua atuação no filme revelação ‘Poder sem Limites’, em 2012. Aqui mais uma vez dá um show de atuação. Na verdade, quando ele aparece, carrega o filme nas costas. O filho de Bradley Cooper é Emory Cohen, que atua muito bem e vem a ser o mais próximo de um vilão no filme. O problema é que ele fica ofuscado pelo grande talento de Dane DeHaan. Ainda temos a ilustre presença de Ray Liotta como o típico corrupto que ele geralmente interpreta. O elenco está em sintonia e arrebenta! No final, um série de consequências levarão à atitudes violentas e devastadoras. O final é bom e deixa a impressão de que o círculo se completa e reinicia. 



É um drama com um pouco de suspense poderoso, que explora o lado ruim da paternidade: escolhas erradas, a falta de tempo do pai com o filho, os péssimos exemplos, a separação do casal, a falta de diálogos. Já da parte dos filhos vêm as descobertas, a revolta, a desilusão, manter ou destruir a imagem que seu pai construiu. Por inúmeros motivos, um toma o rumo contrário do pai, odiando-o. Por outros motivos, um começa a querer descobrir mais sobre ele, imitando-o. Irônico é o pai que nunca esteve presente e mais cometeu erros começar a ser amado pelo filho, enquanto o que mais poderia estar ali e fazer em prol da cria, não o fez, e por isso acaba odiado.  Complexo, contraditório e irrevogável; como as relações de pai e filho são.  O Lugar Onde Tudo Termina é imperdível, um drama aparentemente simples, mas faz um retrato de várias famílias ao redor do mundo que muitas vezes vivem à margem do crime, da violência, dos segredos e da falta: falta de amor, de atenção, de tempo, de conversas e até mesmo da pessoa física. Um filme feito para refletir. Termino a crítica com as palavras de Friedrich Nietzsche:


“O que o pai calou aparece na boca do filho, e muitas vezes descobri que o filho era o segredo revelado do pai.”



NOTA: 9







Direção: Derek Cianfrance




Elenco: Bradley Cooper, Ryan Gosling, Eva Mendes, Dane DeHaan, Rose Byrne, Ray Liotta, Lindsay McKearn, Ephraim Benton, Gabe Fazio, Mahershala Ali, Emory Cohen, Ben Mendelsohn, Whitney Hudson.
Sinopse: o filme conta a história de Luke (Ryan Gosling), um jovem pai de família, que passa a cometer crimes para sustentar seu filho recém-nascido – e de um ex-policial (Bradley Cooper) que vai contra ele. Enquanto a trama entre os dois se intensifica, rivalidades familiares enraizadas entram em jogo.


Trailer:









  



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