Crítica: Unsolved – 1ª Temporada (2018, de Kyle Long)



Sem ter muito alarde midiático, Unsolved chegou recentemente ao catálogo da Netflix, outra série original do canal USA Network no serviço de streaming após o sucesso de The Sinner. A série sempre ressalta durante o final dos seus dez episódios que ainda segue sem nenhum suspeito ou culpado preso, ao longo de mais de 20 anos dos assassinatos de Tupac Shakur e Big Notorius. Partindo deste ponto, a ficção com base em fatos reais trabalha na cronologia dos fatos para narrar uma versão perturbada do caso, tendo a liberdade de focar mais em personagens “secundários” pois apresentar fatos, nem sempre toma o caminho do mais justo.
Tupac Shakur, mais conhecido como 2Pac, e Christopher Wallace, o The Notorious B.I.G, são duas lendas do Hip-Hop e considerados por muitos como os melhores rappers americanos de todos os tempos. A rivalidade imposta entre a Costa Leste x Costa Oeste impediu uma carreira duradoura dos jovens artistas. O que todo mundo ainda se pergunta é: quem os matou? Quem foram os verdadeiros culpados por trás de suas mortes, cujo método foi parecido em ambos os casos? Ninguém segue punido por essas ações e Unsolved demonstra esse fato dividindo sua cronologia em três diferentes tempos, mas não de forma sistemática. A narrativa dos fatos vai acontecendo em tela em meio a um vai e vem danado, mas sem os embaralhar, principalmente pelo fato de o roteiro os ajudar a coincidirem e ditarem o ritmo dos episódios para a compreensão.


A linha temporal dos fatos começa em 1992, em meados da boa relação que os cantores tinham, almejando sempre o sucesso em suas músicas. Como já é de conhecimento de muitos, a trama desenrola todo o processo dessa história até a morte de Notorius B.I.G, em 97. Os “bastidores” que cercaram essa fase podem não ser o arco principal, porém a montagem dele é essencial para entrarmos nesse mundo do Hip-Hop e nos colocar a par de todos os acontecimentos pré-assassinato, demostrando os lados pessoais dos dois. Conhecemos mais as proximidades de suas raízes maternas, o conforto que necessitam para a carreira, uma forma de encontrar a paz. Os episódios individuais dedicados a eles são construídos de formas diferentes, mas trazendo a mesma essência. A semelhança de Marcc Rose (2Pac) e Wavyy Jonez (Notorius B.I.G) ilustram muito bem corporalmente, entretanto os dois não convencem muito em seus personagens; mesmo com Marcc se destacando um pouco mais que Wavyy, até mesmo pela conjuntura de fatos que lhe ocorrem, como o racismo e a traição.

No meio disso, temos a segunda parte da cronologia, em 97, com o detetive Russell Poole, encarregado do caso da morte de Big Smalls (outra denominação para Christopher Wallace) à frente da polícia de Los Angeles investigando com afinco todos os indícios do assassinato do rapper, suspeitando até dos seus próprios colegas de departamento. Poole é interpretado por Jimmi Simpson, que é um dos pontos altos da trama. A carga dramática que o ator dá ao personagem é bastante crível e eloquente. Jimmi cria um detetive estereotipado de suas convicções, acreditando sempre que há uma resposta para tudo. Imergimos nas angústias do detetive a ponto de criamos um elo simpático; parece que o personagem foi exatamente escrito para ele. Sua personalidade vai se intensificando com o andar da carruagem, tendo seus altos e baixos, até vermos que os caminhos trilhados são os mais sombrios possíveis.

Por fim e não menos importante, pulamos para 2006, quando o detetive Greg Kading (Josh Duhamel) lidera uma nova força tarefa policial para recomeçar e tentar resolver o caso novamente após a mãe de Big Smalls entrar com um processo de 400 milhões de dólares contra a polícia de Los Angeles, segundo as conspirações teóricas do detetive Poole. Josh Duhamel consegue criar muito bem um Kading espelhado em Poole, pela determinação vindoura do detetive em querer justiça. Sua atuação é excelente ao lado de Bokeem Woodbine, que dá vida ao oficial Dupree. A química existente entre os dois abrilhantam essa conciliação e dá gás para criarmos um simpatia por eles. O elenco de apoio também dá uma base para esse arco contribuindo bastante para o destacamento de evolução dos nossos protagonistas em questão.


Unsolved pode até se assemelhar a outros tipos de dramas policiais mais famosos, até pelo fato de termos sempre pistas que não levam a lugar nenhum. Aqui, as fases temporais são os diferencias, sempre estão interligadas e é necessariamente a base que guina a série. A corrupção policial é um ponto extremamente abordado em todo o contexto e até por essa tensão toda da vida profissional dos detetives. O diretor conseguiu criar arcos bastante dramáticos e interessantes para a vida pessoal dos personagens, exaltando demais o emocional. Duhamel e Simpson absorvem bem esse espírito e trabalham com maestria dentro das suas características. É substancial entendermos o que se passa dentro da mente deles diante deste caso não resolvido.

O que realmente peca na trama é o fato das músicas de 2Pac e Notorius B.I.G não estarem na trilha sonora, uma vez que a USA Network não conseguiu obter os direitos autorais para tal, mas isso não atrapalha a série, muito pelo contrário, consegue trazer diferenciadas formas de gêneros musicais para ilustrar os episódios, assim como toda a sua montagem e modo de narrar esses fatos, incrementando fotos e vídeos reais dos acontecimentos com os rappers, que dão mais harmonia ao contexto apresentado. 


Unsolved consegue transparecer bem a sua visão sobre 2Pac e Notorius B.I.G, cria arcos esplendorosos, com atores bastante reconhecidos, e buscam sempre creditar a justiça que os detetives querem fazer, tendo possivelmente todas as respostas por esses crimes, mas, de fato, como tudo em nossa vida, as coisas podem ter conclusões bem diferentes do que o esperado. Há sempre uma hierarquia por trás de todo o sistema e não é por causa do sacrifício de alguns que algo realmente vai decolar para “limpar a barra”, pois aqui a justiça é tardia e falha!

Título Original: Unsolved

Direção: Kyle Long

Elenco: Josh Duhamel, Jimmi Simpson, Bokeem Woodbine, Wavyy Jonez, Marcc Rose e Brent Sexton

Sinopse: Tupac Shakur foi um dos nomes mais conhecidos no mundo do rap. Assassinado em 1996, alguns meses antes do rapper Biggie Smalls também vir a falecer, essa dupla viveu em uma época em que as disputas musicais ultrapassavam os palcos. Passados 20 anos, as causas e a possível relação entre as duas mortes continuam sendo um mistério.

TRAILER:



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