A Equipe do Blog Comenta: A Barraca do Beijo (2018, de Vincent Marcello)

A Barraca do Beijo” é um romance adolescente recém-lançado pela Netflix e, desde sua estreia, já conquistou um número razoável de fãs, agrados, desagrados e boatos de uma continuação, tanto em livro como em filme. “A Barraca do Beijo” bebe diretamente de outros clássicos do gênero, como “Meninas Malvadas” (e praticamente todos os filmes da Lindsay Lohan), “A Garota de Rosa-Choque“, numa espécie de homenagem e revitalização desse tipo de filme, matando a saudade dos fãs do romance adolescente em meio aos corredores da escola. Dada a popularidade, alguns integrantes da equipe do MVDC comentaram sobre suas impressões, opiniões e argumentos sobre o filme.

Helen Santos

A
Barraca do Beijo
é um filme que falha em seu único propósito: entreter.
Temos algumas atuações ruins e outras boas, mas isso não deve ser nem
um ponto a ser considerado, visto que atuação “boa” é o mínimo que um
ator pode nos entregar, certo? Fotografia, trilha sonora, roteiro…
nada que mereça aplausos também. 

Em contrapartida, temos uma série de
probleminhas que, em certo ponto da vida, é difícil deixar de lado e
ficar só com o melodrama fofinho (pra quem?) da trama; como por exemplo,
um garoto cheio de impulsos agressivos incontroláveis que será mudado  pela mocinha; a garota sendo controlada pelo crush e melhor amigo, e se
auto defendendo fazendo um monte de babaquices para provar a eles que
ela é dona da sua vida e faz com ela a estupidez que quiser, sendo que,
no fim das contas, tudo que ela faz é para chamar a atenção do seu
“amado”. Além disso, temos uma cena de assédio moldada pela comédia,
como se fosse super “okay” passarem a mão na sua bunda porque você está
usando roupa curta, e depois cogitar sair com o assediador só porque ele
é um dos atletas bonitões da escola. 

Esse romance adolescente
simplesmente não colou. Talvez se sua proposta fosse uma comédia mais ácida em recordação a filmes antigos do gênero, daria até para relevar certas coisas, mas tantos absurdos vendidos como romance não é algo que deveria funcionar no cinema, na minha opinião. Não dá pra ser considerado o pior filme do ano,
mas também está longe de ser o melhor filme adolescente, principalmente
nos dias de hoje, em que estamos numa constante desconstrução de
atitudes que, aqui, vimos todas romantizadas. 

Igor Motta
A proposta do filme é se aproximar das antigas comédias românticas adolescentes, o que já insere a narrativa, diretamente, em um universo de clichês. Isso não é necessariamente bom, nem  ruim; muitos filmes sensacionais caem nessa mesma questão. O problema está na incapacidade do filme em refletir sobre alguns temas que essas mesmas comédias românticas adolescentes já debatiam sobre, dez anos atrás.
A relação abusiva entre Lee ( Joel Courtney) e Elle (Joey King): o melhor amigo da protagonista ficou feliz de ter impedido um relacionamento entre o irmão e a melhor amiga e confirma sua vontade em várias cenas e falas do filme, alguns momentos até atestando que era o melhor para todos. Tal ponto é baseado em uma regra criada entro os dois melhores amigos quando estes eram crianças de seis anos, dez anos antes do tempo que o filme se passa. Lee, inclusive, afirma que: “eu achei que tinha algo que ele não poderia ter. Você“, então o melhor da amizade deles é que o irmão não tem Elle, colocando-a como um objeto que a função é causar ciúmes no irmão. No final, muda de opinião, mas bem naquelas… 
A objetificação feminina é um ponto recorrente no filme, não tratado como algo a ser trabalhado, mas com certa romantização. Várias cenas mostram personagens olhando, dando tapas na bunda da protagonista, gritos e assovios, tiram fotos sem permissão e muito mais. Questões que podem, sim, serem levantadas, mas com a devida problematização, coisa que eu não identifiquei no filme. Elle em vários momentos parece gostar dessas situações, apontando que antes ninguém olhava para ela como uma menina bonita e agora todos a olham com certo “desejo”, até mesmo as garotas populares da escola. 
No assunto fotos, um personagem no filme tem a função de tirar fotos para o anuário escolar, porém, ele faz isso sem permissão das pessoas, disparando o flash em pessoas seminuas e em momentos íntimos. No fim, este acaba sendo perdoado porque suas fotos acabam tendo alguma utilidade: algumas são selecionadas e editadas para uma exposição na festa de formatura. Existe um pequeno paradoxo aqui que, talvez, os produtores do filme não tenham percebido.
Noah (Jacob Elordi) surge como um cavaleiro em sua armadura para salvar Elle de absolutamente tudo, como se a todo momento ela precisasse ser salva, protegida. É um ponto que entra bastante nos clássicos do gênero, mas em alguns momentos é até complicado de acreditar em como Noah estava em todos os instantes que Elle estivesse em apuros. Ainda, no começo, ele parecia ser um personagem meramente inteligente, capaz de ações racionais, mas depois parece um gigante musculoso sem cérebro que precisa ser controlado pela namorada para não brigar. 
A forma como colocaram a homossexualidade é chula. Até consigo imaginar numa reunião de produção a seguinte fala: “coloca esses meninos se olhando, hoje em dia tá na moda casal gay, vai agradar a galera, mas não coloca beijo, polêmico demais”. Foi tosco e ficou parecendo coisa pra fingir que teve.
Atuações são péssimas ao ponto de me fazerem rir em cenas dramáticas. O roteiro é repleto de furos, com ações sem sentido e exageros que no todo ficam mais parecendo uma junção de clichês pra conquistar um público do que sequer um filme. É fluido, desce fácil no começo, mas desanda demais no restante.

Lívia Martins
Eu particularmente gostei do filme mesmo que com uma dinâmica bem lenta. Foi o tipo de filme que me lembrou alguns pontos de como a fase da adolescência tende a ser bizarra.

Para mim, a temática tende a ser mais a de contar os fatos e não de levantar problematização em si. Existem algumas cenas que me deixaram um pouco irritada, como por exemplo quando a personagem principal sofre um tipo de assédio por conta de sua roupa curta, mas sem solução, mesmo exposto diante do diretor da escola. Não que ele tenha dito que aquilo não era assédio, mas me pareceu que foi mais algo como: “Tente levar na esportiva.”, tanto que logo depois a própria Elle (Joey King) parece se esquecer ou não se importar com o que aconteceu. Aliás, várias cenas que poderiam levar a bullying ou algo do tipo, não acontecem, realmente tudo no filme caminha em uma linha de “aproveite a vida, somos adolescentes e cometemos loucuras e nem por isso precisamos ser punidos por outros adolescentes”. Seria o mundo ideal? 

 
Na história temos a garota que é amiga de um garoto durante toda a vida e pasmem, sem o clichê dele gostar dela ou vice versa. Isso é um ponto positivo no enredo. 
Por outro lado, temos um irmão semi-problema, Noah (Jacob Elordi), crush eterno de Elle, que no começo pensa que tem que proteger a garota como um irmão, mas se revela também apaixonado pela protagonista.
O relacionamento escondido dos dois me remeteu a coisas que vivíamos nesta época em particular, como romances escondidos, alguém super lindo que se apaixona por você e você não acredita, alguém que você era apaixonado há séculos platonicamente, entre outras coisas.
Observamos também um tipo de relação abusiva, mesmo que Elle tente mudar os fatos. No começo fiquei meio incomodada, mas depois percebi que é uma fase de descobertas. Eu já fui abusiva, já tive relacionamento nesta fase em que o ciúmes era algo bonito e tentador, então por que tratar esta fase como se fosse algo incoerente? O adolescente é extremo, seria estranho e irreal se este tipo de sensação explosiva fosse contornada.
Aliás, o tempo todo que assisti, me lembrei do filme Três Metros Sobre El Cielo (No Brasil, Paixão sem limites, 2010), onde o protagonista era um jovem abusivo, ciumento raivoso e manipulador com um comportamento que não era normal. E, incrivelmente, eu amo este filme! Comparo o protagonista com Noah, de A Barraca do Beijo, pois na minha opinião, um era abusivo, o outro, apenas adolescente, respectivamente.
A trilha sonora e fotografia são apenas ok, com exceção da emblemática cena do baile ao som de Simples Minds (Dont you (Forget about me)), referência ao Clube dos Cinco. Os atores ainda estão crus, em início de carreira, mas a química entre o casal é bem forte, afinal eles se apaixonaram nos bastidores e namoram na vida real. Em resumo: uma comédia romântica gostosinha para assistir no fim da tarde, sem preocupações.





Titulo Original: The Kissing Booth

Direção: Vincent Marcello

Elenco:
Joey King,
Joel Courtney,
Jacob Elordi, Molly Ringwald

Sinopse: Elle Evans e seu melhor amigo, Lee Flynn, precisam arrecadar dinheiro para a construção do clube de dança da escola. Sem ideias, propõem a fazer uma barraca do beijo com os alunos mais populares da escola, que é aceita. Na tentativa de convencê-los a participarem, incluindo Noah, irmão de Lee, Elle descobre que talvez tenha sentimentos Noah que são muito mais intensos do que uma mera atração, mas que podem afetar sua relação com Lee para sempre.

Trailer:


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