Crítica: O Sorriso de Mona Lisa (2003, de Mike Newell)

Um dos meus maiores prazeres é trazer filmes, independente de serem lançamentos ou não, que retratem outras décadas abordando as problemáticas que nelas continham. O melhor de tudo e o que eu mais gosto de ver, é que sempre há alguém lutando contra a opressão esmagadora e tentando fazer a diferença no mundo, como é o caso do papel da nossa aclamada Julia Roberts.

Roberts interpreta a nossa maravilhosa professora Katherine Ann Watson. Katherine mostra com sutileza o feminismo em todas as suas condutas, sempre mostrando que as mulheres devem agir de acordo com sua própria felicidade, com o que lhe faz bem, mesmo que seja necessário acabar sacrificando um relacionamento ou até mesmo um emprego; e nos anos 50, abandonar seu parceiro para ir em busca de uma carreira profissional era algo absurdo, não era uma realidade para o universo feminino. Portanto, Watson queria fazer revolução na vida das mulheres, para isso, decidiu lecionar em Wellesley, um colégio extremamente conservador que seguia um tradicionalismo educacional que acabara por formar adultos robóticos e iguais, além de educarem as mulheres a serem somente boas esposas; Watson lecionava Introdução a História da Arte, sendo assim, ela utilizava de sua disciplina, indo além do plano de ensino da escola, para incentivar suas alunas a enxergarem além do que se via, a pensarem por conta própria, a terem ambição e desejarem além do que lhes era oferecido e tido como possível/correto.

A vida para as mulheres dos anos 50 resumia-se em um matrimônio feliz, mesmo que a felicidade fosse apenas a maquiagem de um casamento transbordado de submissões e infelicidades. Convenhamos, que casamento é verdadeiramente feliz, ao menos para as mulheres, onde elas servem de escravas e objeto para satisfazer os desejos masculinos? Pior que isso, que é outra coisa que o filme consegue retratar muito bem, é mostrar as mulheres reproduzindo todos os machismos que até hoje lutamos contra, mas os reproduzem pois são condicionadas a achar que aquilo é o correto e que serão pessoas horríveis e mal vistas por uma sociedade que determinava o jeito correto de ser mulher, exatamente como se fossemos objetos programados a funcionar de determinada maneira, e que se fossemos contra essas configurações predeterminadas, estaríamos erradas, estragadas, não serviríamos.

Outro ponto interessante que o filme aborda é a questão da liberdade de escolha, ou seja, não tem problema nenhum uma mulher optar por dedicar-se somente ao casamento e ao lar, desde que isso seja uma escolha inteiramente dela, sem influências do parceiro, família, sociedade ou quem quer que seja. Também não tem problema nenhum caso o desejo da sua vida não seja em construir uma família mas, sim, ter uma carreira promissora. Ou, ainda, que não tem problema nenhum em ter essas duas coisas, em dedicar-se ao casamento e sua vida profissional. A professora tem esse papel de desmistificar o certo e o errado, mostrando que, na verdade, não existe jeito certo e errado, cada um vive conforme suas próprias vontades.


O filme não deixa a desejar nos quesitos técnicos, representando muito bem os anos 50 tanto no contexto histórico da época, quanto nos figurinos, locações, etc. Tem uma trilha sonora calma que ajuda a envolver-nos na trama, somando com uma fotografia simples, mas muito delicada e representativa. O elenco é maravilhoso e merece uma salva de palmas, a começar por Julia Roberts, mas principalmente a Kirsten Dunst, que no início fez um papel tão odiável pregando atitudes tão machistas que acaba por nos fazer sentir raiva, mas aos poucos esse sentimento vai desaparecendo quando vamos entendendo o porquê de suas atitudes, além da própria personagem ir percebendo que ela não precisava viver naquela caixa padronizada e vai mudando sua percepção do que é certo e errado, e de que suas escolhas só dependem dela e de ninguém mais. No entanto, a máxima do filme está na problemática que aborda e na mensagem que passa, quais foram demonstradas com muito esmero em todos os aspectos; a personagem de Dunst faz um bom questionamento, dando como exemplo a Mona Lisa, “ela está sorrindo, mas será que está feliz?“. Ademais, temos um final pra lá de emocionante que foge de quaisquer clichês.


Definitivamente é um filme que deve ser visto por todos, especialmente pelos homens, para que visualizem os absurdos em que as mulheres eram submetidas para lhe servirem, e ajudarem a evitar e combater todos os machismos diários aos quais somos atormentadas até hoje. 

“Feminismo é a ideia radical de que as mulheres são gente.”
Autor desconhecido.


Título Original: Mona Lisa Smile

Direção: Mike Newell

Elenco: Julia Roberts, Donna Mitchell, Ginnifer Goodwin, Krysten Ritter, Maja Wampuszye, Marian Selder, Jennie Eisenhower, Julia Stiler, Kirsten Dunst, Maggie Gyllenhaal, Marcia Gay Harden, Dominic West, Terence Rigby, Ty Copeman

Sinopse: Katharine Watson (Julia Roberts) é uma recém-graduada professora que consegue emprego no conceituado colégio Wellesley, para lecionar aulas de História da Arte. Incomodada com o conservadorismo da sociedade e do próprio colégio em que trabalha, Katharine decide lutar contra estas normas e acaba inspirando suas alunas a enfrentarem os desafios da vida.


Trailer: 



Quem ama a Julia Roberts e adorou esse filme levanta a mão o/ 
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