Crítica: Projeto Flórida (2017, de Sean Baker)



Sean Baker já havia chamado atenção quando rodou Tangerine, filme que conta a história de uma travesti, que passa praticamente um mês presa e na volta descobre que seu cafetão e namorado a traiu com uma mulher, e então, inicia uma busca por esta mulher acompanhada de uma amiga para se vingar. Não foi bem o roteiro que chamou atenção. Foi o fato de ter sido gravado em três aparelhos Iphone 5S e de ter uma visão bastante delicada e peculiar das relações interpessoais.



E é aqui que começamos a falar do seu novo longa, Projeto Flórida. Somos apresentados a Moonee (Brooklynn Prince), uma pequena garota que junto com seus amigos faz verdadeiros terrores aos vizinhos, e logo conhecemos sua mãe, Halley (Bria Vinaite), que justifica, em sua primeira cena, a primeira cena que vemos de sua filha. Naturalmente, começamos a julgar no primeiro ato do filme a criação daquela criança, entretanto, em seu decorrer, esse julgamento inicial dá espaço ao reconhecimento do local e de tentarmos entender o que leva a mãe a ser daquela forma também.

Projeto Flórida é todo rodado em poucos cenários, sendo que o filme é contado em praticamente dois motéis de beira de estrada em Orlando, nas proximidades da Disney. No segundo ato do filme, começamos a ser introduzidos a jornada dos outros moradores destes motéis, que com muita dificuldade e em condições marginalizadas, conseguem os $35 por noite para continuar tendo um teto não só para eles, mas, principalmente, para seus filhos. O roteiro é bastante sagaz em mostrar que quase todos os moradores têm filhos e por indução, entendemos que eles brigam, muitas vezes contra a própria natureza, para se manter ali, longe (mas não muito) do mundo dos crimes e das drogas, em quartos minúsculos, mas que representam toda a dignidade que podem dar a seus filhos.

Não só pela protagonista infantil, mas, também por toda a dificuldade enfrentada por esta, muitas vezes lembramos ao longo deste longa de Indomável Sonhadora. O reconhecimento é instantâneo, e as obras ecoam entre si, ainda que ambas tenham locações bastante diferentes, mas, a mesma força em mostrar que existe beleza em todos os lugares quando o olhar é puro como o de uma criança (ou ainda não tão dominado pela maldade que presencia no seu dia a dia).


O único nome conhecido no elenco, Willem Dafoe (O Grande Hotel Budapeste, Assassinato no Expresso do Oriente), mostra todo o seu talento ao saber exatamente como tratar seu personagem como coadjuvante sem nunca se sobrepor aos personagens com mais relevância na história que o seu. Este é seu grande trunfo ao compor o gerente Bobby, que luta para manter as regras do estabelecimento, enquanto se afeiçoa e protege as crianças do local. Felizmente toda a sabedoria do ator, aliado ao excelente trabalho foi reconhecido pela academia, assim, ao menos, o longa não foi completamente esnobado.

Este é um filme que causa melancolia e te põe um sorriso no rosto no mesmo instante. O longa fala conosco em diversos momentos e nas mais variadas formas, com alguns recados mais escancarados, como o fato de nenhum personagem ter sobrenome, ou com uma cena onde mostra duas crianças em frente a um pôster que traz maçãs e o anúncio de “leve quantas quiser”, e ainda no próprio nome, Projeto Flórida, que foi o nome dado quando a Disney ainda era um projeto, mesclado com elementos mais discretos, como a fotografia, que ressalta a simplicidade e ao mesmo tempo é a paleta de cores mais próxima da realidade, para entendermos que o que estamos vendo trata-se da vida de muitas pessoas.





Título Original: The Florida Project

Diretor: Sean Baker

Elenco: Brooklynn Prince, Willem Dafoe, Calleb Landry Jones, Christopher Rivera, Sandy Kane, Bria Vinaite, Valeria Cotto, Macon Blair, Karren Karagulian

Sinopse: Moonee, uma agitada garotinha, faz novas amizades nas redondezas dos parques Disney. Ela vive com a mãe em uma hospedagem de beira de estrada e as duas contam com a proteção do gerente Bobby na batalha diária pela sobrevivência.

Trailer:


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