Crítica: O Castelo de Vidro (2017, de Destin Daniel Cretton)


O Castelo de Vidro é uma adaptação de um livro biográfico de mesmo nome, escrito por Jeannette Walls, onde conta a sua emocionante e árdua história de vida. Tanto quem leu, quanto quem não leu o livro, irá se emocionar ao assistir o filme, pois a história de Walls consegue ser emocionante de forma visceral. 

Falando do ponto de vista de quem leu o livro, a adaptação não decepciona, ao contrário do que costuma acontecer com inúmeras outras adaptações de livros para o cinema. Não há dúvidas de que o livro é muito mais pesado que o filme, consequentemente, se tornando muito mais triste e difícil de “engolir” a história, mas ainda que seja uma história de vida extremamente difícil e sofrida, Jeannette Walls quis passar uma mensagem amorosa e positiva (caso contrário, qual seria o propósito de expor de tal maneira sua família, não é mesmo?!).

O Castelo de Vidro nos mostra uma família disfuncional, onde por conta dos traumas vividos na infância, Rex e Rose acabaram não sendo os melhores pais que alguém poderia ter, fazendo, inconscientemente ou não, com que seus filhos acabassem tendo traumas parecidos. Um pai alcoólatra e uma mãe artista fracassada, dão amor e criam seus filhos a sua maneira, em contrapartida, talvez não percebam que o seu estilo de vida e seus vícios façam com que seus quatro filhos tenham uma infância difícil, passando fome, não tendo educação adequada, entre outra série de necessidades, o que os levou a tornarem-se adultos precoces e saírem de casa tão novos. 

A fotografia consegue retratar de forma majestosa as páginas da emocionante biografia de Walls, e, somando isso com um elenco de peso, o filme facilmente lhe arrancará muitos sorrisos e lágrimas. Woody Harrelson (Truque de Mestre, Jogos Vorazes, Um Tira Acima da Lei) dá um show de atuação dando vida ao pai alcoólatra e sonhador, Rex Walls, que é um ex-militar que odeia quem teme à vida ou que a leve de maneira que sustente à burguesia que tanto se esquiva. Para quem entende que o alcoolismo é uma doença, consegue perceber que o egoísmo dele é por conta do vício, por isso passam por muitos apertos na vida, tornando-se, até, bastante negligente, mas todo o amor que tem e demonstra por seus filhos nas suas atitudes de “paizão”, especialmente com Jeannette, devido serem mais próximos, acabam trazendo a certeza de que se não fosse pela bebida, eles teriam uma vida melhor, ainda que naquele estilo nômade de viver. E se me permitem sugerir uma coisa, quando o filme acabar, continuem assistindo aos créditos finais, pois aparecerão algumas filmagens reais e você se surpreenderá com as gravações, principalmente quando fizer a comparação do verdadeiro Rex com a atuação de Woody, que, impecavelmente e de forma surreal, conseguiu interpretar até os trejeitos do homem.



Naomi Watts (Gypsy, O Impossível, O Mar de Árvores) interpretando a mãe, Rose Mary Walls, também consegue fazer um belíssimo papel, mesmo sua personagem não sendo lá muito expressiva e não tendo tanto peso na história quanto o pai teve. Ela é uma dona de casa que passa seus dias pintando telas almejando um dia ser uma artista muito famosa. Apesar de tudo, demonstra que Rex é seu grande amor, e que independente do que aconteça, ficará ao seu lado. Uma prova de que não consegue viver sem Rex; que sem ele a imagem de família não existe; ou que, embora passe mais tempo bêbado que sóbrio, a família sem ele não teria a mesma proteção, é quando ela tenta ir embora com os filhos, já está com tudo pronto dentro do carro para partir, mas fica paralisada e não consegue ir adiante sem ele. 



Agora, precisamos dar uma atenção especial e falar sobre as três atrizes magníficas que interpretaram Jeannette Walls em suas três fases de crescimento. Chandler Head, fez a interpretação quando Walls tinha 5/6 anos, e atuou com tanta delicadeza, carinho e esmero, que fará você chorar sem que perceba. É tanto talento que me fez lembrar outro astro mirim, Jacob Tremblay, que, coincidentemente, atuou em O Quarto de Jack com Brie Larson (O Quarto de Jack, Como Não Perder Essa Mulher, Scott Pilgrim Contra o Mundo), atriz que interpretou Jeannette na fase adulta, e, obviamente, mostrou que além de parecer ter nascido para esse papel, interpretação de outra atriz não faria tanto jus na história quanto a dela. Por fim, um pouco fora da ordem cronológica, mas não menos importante, Ella Anderson, que interpretou a protagonista em seus 10/11 anos. Ella também não deixou a desejar em momento algum, conseguiu demonstrar pela mera interpretação o quanto uma criança conseguiu ser mais adulta que seus próprios pais, e que, além de ter carregado o pai nas costas e muitas vezes ter agido como a mãe da família para seus irmãos, não era nem a mais velha. Sem dúvidas que as três brilharam mais que as estrelas do céu – assista ao filme para entender a referência -. 

Mas, como nem tudo são flores, existe um ponto negativo no filme que precisa ser abordado. O filme peca em não ter trazido, ou ter trazido de forma tão sútil, quase que imperceptível, um pouco mais da história dos pais, seus traumas e dificuldades da infância. Nem todos que assistiram ou irão assistir ao filme, leram o livro, então, faltou uma explicação do porquê os pais agem de tal forma, mas não para justificar suas atitudes, apenas para o telespectador não achar que relações tão abusivas foram romantizadas no filme. Como isso aqui é uma crítica do filme e não uma análise psicológica, não vou adentrar em outros aspectos específicos das vivências de cada pessoa (digo pessoa e não personagem por tratar-se de uma história real), mas, se quer um conselho, assista o filme com uma perspectiva acolhedora e empática.

O filme não se trata de uma história com uma mensagem meramente taxativa, o filme se trata de uma mulher, Jeannette Walls, que resolveu contar a sua árdua história de vida e a forma como resolveu fazer as pazes com o seu passado, especialmente com seu pai. Quando ela vai amadurecendo e passando a entender o porquê de certas coisas terem acontecido exatamente da forma como aconteceram; quando ela consegue excluir tudo de ruim que vê no pai, e percebe que tem muito dele, nela; e quando recebe um pedido de desculpas tão verdadeiro como nunca imaginou que teria, ela passa por um processo de aceitação, de perdão. 


O filme retrata a história de uma família vista sob a perspectiva de uma das filhas; sobre como ela lidou e passou a lidar para conseguir sobreviver em meio a inúmeras dificuldades e imprudência dos pais; e do processo longo e difícil ao optar pelo perdão e não pela raiva e rancor. Uma triste e linda história sobre uma reconciliação com a própria vida.

Título Original: The Glass Castle

Direção: Destin Daniel Cretton

Elenco: Brie Larson, Max Greenfield, Naomi Watts, Sarah Snook, Woody Harrelson, Andrew Shaver, Chandler Head, Charlie Shotwell, Dominic Bogart, Eden Grace Redfield, Ella Anderson, Iaian Armitage, Joe Pingue, Sadie Sink, Shree Crooks

Sinopse: Um pai alcoólatra e uma mãe que está mais preocupada em se tornar uma artista renomada do que qualquer outra coisa, fazem com que seus quatro filhos – especialmente Jeannette, que não é nem a mais velha dos irmãos – praticamente tenham que se virar sozinhos para conseguir sobreviver em meio ao caos e imprudências que lhe cercam por todos os lados. 

Trailer: 



Não podia deixar de mostrar a verdadeira Jeannette:



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