Muita gente diz que o humor está
perdendo a graça porque se rendeu ao “politicamente correto”. É muito comum nos
depararmos com o que achamos ser uma patrulha que vem, cada vez mais, com a
tendência de ditar uma série de limites absolutos do que se pode ou não usar
como pretexto para uma piada. Mas como tudo é na realidade, nada é tão simples
de ser reduzido a dois extremos. A verdade é que o humor é bom quando consegue
ser engraçado (obviamente) e quando consegue flertar com o “politicamente
incorreto” de maneira que se diferencie da humilhação e dos avanços naturais
dos valores das novas gerações, mesmo que estes venham a desagradar quem acha
que as coisas simplesmente não evoluem.
perdendo a graça porque se rendeu ao “politicamente correto”. É muito comum nos
depararmos com o que achamos ser uma patrulha que vem, cada vez mais, com a
tendência de ditar uma série de limites absolutos do que se pode ou não usar
como pretexto para uma piada. Mas como tudo é na realidade, nada é tão simples
de ser reduzido a dois extremos. A verdade é que o humor é bom quando consegue
ser engraçado (obviamente) e quando consegue flertar com o “politicamente
incorreto” de maneira que se diferencie da humilhação e dos avanços naturais
dos valores das novas gerações, mesmo que estes venham a desagradar quem acha
que as coisas simplesmente não evoluem.
Pois para mim, essa linha que
separa as duas coisas é fina e sua manipulação é diretamente proporcional ao
talento de quem se pretende abordá-la. Um exemplo claro é o especial Live At The Beacon Theater, do
excepcional Louis Ck. Em um trecho do stand-up,
o comediante conta uma história hilária de 10 minutos sobre como ele odeia um
garoto de 6 anos, colega de turma da escola de suas filhas pequenas.
Aparentemente, deveríamos sentir certa aversão de ver um adulto de mais de 40
anos descrevendo diversas maneiras sobre como ele destruiria a vida da criança,
mas, ao final, notamos que não estamos rindo do alvo (a criança), e sim da
própria imagem que o humorista construiu especificamente para que ríssemos
dele, e não da criança.
separa as duas coisas é fina e sua manipulação é diretamente proporcional ao
talento de quem se pretende abordá-la. Um exemplo claro é o especial Live At The Beacon Theater, do
excepcional Louis Ck. Em um trecho do stand-up,
o comediante conta uma história hilária de 10 minutos sobre como ele odeia um
garoto de 6 anos, colega de turma da escola de suas filhas pequenas.
Aparentemente, deveríamos sentir certa aversão de ver um adulto de mais de 40
anos descrevendo diversas maneiras sobre como ele destruiria a vida da criança,
mas, ao final, notamos que não estamos rindo do alvo (a criança), e sim da
própria imagem que o humorista construiu especificamente para que ríssemos
dele, e não da criança.
Essa habilidade, infelizmente,
ainda parece ser mais rara de ser encontrada quando vemos outros artistas de stand-up fazerem piadas com qualquer
tipo de alvo sem se preocupar de maneira nenhuma com o efeito ou com a eficácia
do riso. Claro, cada um sabe do que acha graça e não cabe a nós delimitar o
humor dos outros, o que me leva, finalmente, ao filme Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola, adaptado do livro homônimo
do apresentador e comediante Danilo Gentilli. Narrando as aventuras do período
escolar de Pedro (Daniel Pimentel) e Bernardo (Bruno Munhoz), o filme conta
como os dois alunos resolvem se revoltar contra a regras da escola a fim de
conseguir nota para passar de ano. Para isso, encontram um livro escondido no
banheiro escrito por um ex-aluno (Danilo Gentilli) repleto de instruções de
como se tornar um péssimo aluno. Cada vez mais influenciados, os dois começam a
aprender todo tipo de subversão enquanto tentam se esquivar da vigia constante
do diretor da escola, Ademar (Carlos Villagrán).
ainda parece ser mais rara de ser encontrada quando vemos outros artistas de stand-up fazerem piadas com qualquer
tipo de alvo sem se preocupar de maneira nenhuma com o efeito ou com a eficácia
do riso. Claro, cada um sabe do que acha graça e não cabe a nós delimitar o
humor dos outros, o que me leva, finalmente, ao filme Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola, adaptado do livro homônimo
do apresentador e comediante Danilo Gentilli. Narrando as aventuras do período
escolar de Pedro (Daniel Pimentel) e Bernardo (Bruno Munhoz), o filme conta
como os dois alunos resolvem se revoltar contra a regras da escola a fim de
conseguir nota para passar de ano. Para isso, encontram um livro escondido no
banheiro escrito por um ex-aluno (Danilo Gentilli) repleto de instruções de
como se tornar um péssimo aluno. Cada vez mais influenciados, os dois começam a
aprender todo tipo de subversão enquanto tentam se esquivar da vigia constante
do diretor da escola, Ademar (Carlos Villagrán).
A intenção aqui não é outra senão
uma homenagem romantizada aos tempos de escola do autor. Assim como tantos
outros filmes e diretores fizeram sob outros estilos e premissas, as histórias
que relembram a infância guardam grande potencial para cativar a memória de
qualquer um que tenha ultrapassado uma geração inteira. Mas é necessário
salientar que o “romantizar”, nesse caso, é num sentido mais amplo, já que ser
o “pior aluno” aqui é visto como uma qualidade. Nesse sentido, o filme consegue
se equilibrar durante algum tempo entre a simples representação de uma época e
idade onde a falta de maturidade permitia exageros e entre uma mensagem que
insiste em ignorar a evolução que tivemos em relação ao que se dizia e se fazia
há 20 anos.
uma homenagem romantizada aos tempos de escola do autor. Assim como tantos
outros filmes e diretores fizeram sob outros estilos e premissas, as histórias
que relembram a infância guardam grande potencial para cativar a memória de
qualquer um que tenha ultrapassado uma geração inteira. Mas é necessário
salientar que o “romantizar”, nesse caso, é num sentido mais amplo, já que ser
o “pior aluno” aqui é visto como uma qualidade. Nesse sentido, o filme consegue
se equilibrar durante algum tempo entre a simples representação de uma época e
idade onde a falta de maturidade permitia exageros e entre uma mensagem que
insiste em ignorar a evolução que tivemos em relação ao que se dizia e se fazia
há 20 anos.
Convenhamos, o que parece exagero
e maldade em relação ao que vemos no filme era uma realidade para muita gente,
seja de qual “lado” você estivesse. O filme, dentre outras coisas, não hesita
em mostrar que ser pré-adolescente num passado até recente soaria quase como um
filme de terror para muita criança de hoje em dia. Os apelidos maldosos, as
brincadeiras perigosas, os machucados e a falta de preocupação com seus efeitos
ao longo dos anos é uma representação do que acontecia, quer você goste ou não.
Se você aceitar o fato, vai conseguir dar algumas risadas com a narrativa, que
é até eficiente em permitir que achemos graça de algumas situações que, normalmente,
tentaríamos reprimir na vida real. Se um filme é uma janela de 2 horas para a
imaginação, não é certo excluir abordagens polêmicas em nome de respeitar o
“politicamente correto”, sob pena de se limitar a arte e, consequentemente, a
tornando imune às reflexões.
e maldade em relação ao que vemos no filme era uma realidade para muita gente,
seja de qual “lado” você estivesse. O filme, dentre outras coisas, não hesita
em mostrar que ser pré-adolescente num passado até recente soaria quase como um
filme de terror para muita criança de hoje em dia. Os apelidos maldosos, as
brincadeiras perigosas, os machucados e a falta de preocupação com seus efeitos
ao longo dos anos é uma representação do que acontecia, quer você goste ou não.
Se você aceitar o fato, vai conseguir dar algumas risadas com a narrativa, que
é até eficiente em permitir que achemos graça de algumas situações que, normalmente,
tentaríamos reprimir na vida real. Se um filme é uma janela de 2 horas para a
imaginação, não é certo excluir abordagens polêmicas em nome de respeitar o
“politicamente correto”, sob pena de se limitar a arte e, consequentemente, a
tornando imune às reflexões.
E para quem é mais velho, há,
certamente, qualidade técnica no filme em mostrar uma época familiar para os
que tem mais de seus 30 anos. A ambientação – ao menos quando não se envereda
para o fantástico e o exagero – remete bem às escolas do final do século passado
(quanto tempo!). A sensação é de que estamos realmente revisitando uma idade
cheia de lembranças (boas ou ruins) e com inerente capacidade de despertar
nossa nostalgia, ainda mais se passando em uma realidade brasileira. Fora isso,
a narrativa comandada por Fabrício Bittar (Politicamente
Incorreto) é calcada num ritmo frenético de uma montagem que preza a
dinâmica das gags visuais e diálogos rápidos, remetendo a uma direção que se
aproxima mais das comédias americanas do que os exemplares lamentáveis
produzidos pela Globo todo ano.
certamente, qualidade técnica no filme em mostrar uma época familiar para os
que tem mais de seus 30 anos. A ambientação – ao menos quando não se envereda
para o fantástico e o exagero – remete bem às escolas do final do século passado
(quanto tempo!). A sensação é de que estamos realmente revisitando uma idade
cheia de lembranças (boas ou ruins) e com inerente capacidade de despertar
nossa nostalgia, ainda mais se passando em uma realidade brasileira. Fora isso,
a narrativa comandada por Fabrício Bittar (Politicamente
Incorreto) é calcada num ritmo frenético de uma montagem que preza a
dinâmica das gags visuais e diálogos rápidos, remetendo a uma direção que se
aproxima mais das comédias americanas do que os exemplares lamentáveis
produzidos pela Globo todo ano.
O elenco adolescente merece
reconhecimento. Pimentel e Munhoz conseguem dar a Pedro e Bernardo carisma
suficiente para que gostemos de suas figuras, o que acaba “nos enganando” a
defendê-los em seus piores momentos (mérito do filme e das atuações). Outro
destaque são as ótimas participações de Moacyr Franco como o zelador mais
“sem-noção” que você verá esse ano. Já Carlos Villagrán, nosso eterno Quico,
oscila entre a paródia e o exagero, por vezes fazendo com que seu personagem
fique irritante, e Danilo Gentilli… bem, interpreta ele mesmo e serve mais
como uma ponte de auto referência com o público – por exemplo, quando quebra a
quarta parede para fazer piada com a qualidade do próprio filme, o que funciona
no começo, mas depois vai se transformando em auto indulgência pela falta de um timing cômico visual um pouquinho mais
cuidadoso.
reconhecimento. Pimentel e Munhoz conseguem dar a Pedro e Bernardo carisma
suficiente para que gostemos de suas figuras, o que acaba “nos enganando” a
defendê-los em seus piores momentos (mérito do filme e das atuações). Outro
destaque são as ótimas participações de Moacyr Franco como o zelador mais
“sem-noção” que você verá esse ano. Já Carlos Villagrán, nosso eterno Quico,
oscila entre a paródia e o exagero, por vezes fazendo com que seu personagem
fique irritante, e Danilo Gentilli… bem, interpreta ele mesmo e serve mais
como uma ponte de auto referência com o público – por exemplo, quando quebra a
quarta parede para fazer piada com a qualidade do próprio filme, o que funciona
no começo, mas depois vai se transformando em auto indulgência pela falta de um timing cômico visual um pouquinho mais
cuidadoso.
Porém, se por um lado o filme
acerta no seu tom sarcástico e que não o impede de rir de si mesmo várias
vezes, por outro tudo começa a se complicar quando a moral do filme justifica
toda sua abordagem apoiada numa mensagem problemática: de que se você realmente
sofreu com as perseguições na época da escola, a culpa é mais sua, e não dos
outros. Ok, poderíamos até justificar a mensagem dizendo que tudo que você se
tornou na vida, inclusive suas qualidades, é fruto do quanto você atravessou. Só
que o filme se esquece que as pessoas são diferentes e é fácil falar que você
“exagerou” em problematizar o bullying quando você estava somente de um lado; e
mais, é um erro comum tentar atribuir nossas lições ao longo da vida a
pré-adolescentes, como se estes tivessem a mesma maturidade e experiência de um
adulto. Não há uma preocupação em delimitar um limite que separa o “ora, apelido ruim e briga na escola todo
mundo teve” e “aquela garota se matou
depois de anos sendo perseguida nas redes sociais”. Sim, os autores
defendem que não deveria haver um limite, mas é fato indiscutível que ele
existe e é extremamente prejudicial para uma boa parte dos alvos (só ver o
ótimo documentário Audrie & Daisy,
disponível na Netflix).
acerta no seu tom sarcástico e que não o impede de rir de si mesmo várias
vezes, por outro tudo começa a se complicar quando a moral do filme justifica
toda sua abordagem apoiada numa mensagem problemática: de que se você realmente
sofreu com as perseguições na época da escola, a culpa é mais sua, e não dos
outros. Ok, poderíamos até justificar a mensagem dizendo que tudo que você se
tornou na vida, inclusive suas qualidades, é fruto do quanto você atravessou. Só
que o filme se esquece que as pessoas são diferentes e é fácil falar que você
“exagerou” em problematizar o bullying quando você estava somente de um lado; e
mais, é um erro comum tentar atribuir nossas lições ao longo da vida a
pré-adolescentes, como se estes tivessem a mesma maturidade e experiência de um
adulto. Não há uma preocupação em delimitar um limite que separa o “ora, apelido ruim e briga na escola todo
mundo teve” e “aquela garota se matou
depois de anos sendo perseguida nas redes sociais”. Sim, os autores
defendem que não deveria haver um limite, mas é fato indiscutível que ele
existe e é extremamente prejudicial para uma boa parte dos alvos (só ver o
ótimo documentário Audrie & Daisy,
disponível na Netflix).
Há piadas engraçadas no filme,
mas há também outras que perigosamente justificam suas intenções, principalmente
por uma inabilidade em dosar a linha sobre a qual discuti anteriormente (lembro aqui de um segmento bem desnecessário envolvendo Fábio Porchat). Até
quando o humor só está servindo para mirar o mesmo alvo de sempre, sem que se
separe a graça do ataque gratuito? Assim como se diz no filme, algumas pessoas
“não precisam ser o que o sistema escolar
e os outros querem que elas sejam”. Para isso, basta ser “o pior aluno”. O
filme não fez muita questão de mostrar outras definições para esse “pior”. Só
espero que quem o assista, seja capaz de fazê-lo melhor.
mas há também outras que perigosamente justificam suas intenções, principalmente
por uma inabilidade em dosar a linha sobre a qual discuti anteriormente (lembro aqui de um segmento bem desnecessário envolvendo Fábio Porchat). Até
quando o humor só está servindo para mirar o mesmo alvo de sempre, sem que se
separe a graça do ataque gratuito? Assim como se diz no filme, algumas pessoas
“não precisam ser o que o sistema escolar
e os outros querem que elas sejam”. Para isso, basta ser “o pior aluno”. O
filme não fez muita questão de mostrar outras definições para esse “pior”. Só
espero que quem o assista, seja capaz de fazê-lo melhor.
Título Original: Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola
Direção: Fabrício Bittar
Elenco: Bruno Munhoz, Daniel Pimentel, Carlos Villagrán, Danilo Gentilli, Moacyr Franco, Raul Gazolla, Joana Fomm, Fábio Porchat
Sinopse: Bernado (Bruno Munhoz) e Pedro
(Daniel Pimentel) são estudantes e enfrentam as clássicas tarefas de cumprir as
obrigações escolares, tirar boas notas, ter bom comportamento e cumprir as
regras da escola, cada vez mais elaboradas graças ao diretor Ademar (Carlos
Villagrán). Frustrados, Pedro acaba encontrando um diário de como provocar o
caos na escola sem ser pego, o que leva os dois amigos a seguirem as dicas do
caderno.
(Daniel Pimentel) são estudantes e enfrentam as clássicas tarefas de cumprir as
obrigações escolares, tirar boas notas, ter bom comportamento e cumprir as
regras da escola, cada vez mais elaboradas graças ao diretor Ademar (Carlos
Villagrán). Frustrados, Pedro acaba encontrando um diário de como provocar o
caos na escola sem ser pego, o que leva os dois amigos a seguirem as dicas do
caderno.
Trailer
Vamos lá leitor! Depois de chegar da sessão, nos conte o que achou do filme e obrigado pela leitura 🙂