Crítica: Beasts of No Nation (2015, de Cary Joji Fukunaga)

“Todos que conheço estão morrendo. E eu penso: Se essa guerra um dia acabar, não posso voltar a fazer coisas de crianças. A guerra está consumindo tudo. Folhas, árvores, terra, pessoas. Consome tudo. Faz as pessoas sangrarem em toda parte. Somos como animais selvagens sem ter para onde ir.”



Começo essa crítica com esse trecho da narração de um dos personagens principais de “Beasts of No Nation”, uma produção original da Netflix, de 2015, escrito, dirigido e filmado por Cary Joji Fukunaga. Esse drama de guerra teve algumas premiações, tais quais de melhor ator coadjuvante para Idris Elba e o prêmio Marcello Mastroianni no Festival de Veneza para Abraham Attah.


“Beasts of No Nation” foi o primeiro filme de Abraham Attah, que logo depois, em 2017, teve aparição no filme Homem Aranha: De Volta ao Lar. Abraham está sendo considerado um talento nato, e que está dando início a uma carreira de muito sucesso! E não é para menos, a atuação desse jovem rapaz faz parecer que o que estamos vendo não é sequer um filme, parece que uma pessoa lhe acompanhou o tempo todo enquanto lutava na guerra de verdade, de tanta realidade que sua atuação trouxe para o filme. 

O filme se passa pela perspectiva do menino Agu (Abraham Attah), que aparenta ter uma infância feliz mesmo tendo respingos da guerra civil africana na ”zona de amortecimento” onde está alocado, que está sendo reforçada pelas tropas do ECOMOG. Mas, a infância e felicidade acabam quando a guerra de fato toma conta de tudo, logo, Agu se vê obrigado a despir-se de seu sorriso, infância e ingenuidade e vestir-se de força e coragem para continuar vivendo e sobrevivendo dia após dia. Agu, mesmo estando exposto a todo esse transtorno da guerra, luta consigo mesmo para não deixar morrer completamente o menino feliz e correto que era. 
Agu e meninos brincando com seus poucos recursos pouco antes da guerra tomar conta da vila onde estavam alocados.
Agu quando foi “amparado” pelo grupo de resistentes.
Comandante do grupo de resistentes que “amparou” Agu.

Caso você goste de filmes que te localizam histórica e geograficamente, talvez se sinta um pouco perdido com esse filme, pois a guerra é apresentada em algum país não especificado do Continente Africano. No entanto, acredita-se que o intuito do filme não é sobre contar especificamente sobre a guerra que ocorreu em um determinado país, mas sim, mostrar o que acontece nas guerras na maior parte das vezes, principalmente nas africanas. Mostrar toda a crueldade que sofrem os civis, tanto adultos quanto crianças, bem como mostrar as inúmeras e incontáveis violações de direitos humanos. É visto também, um pouco do trabalho da ONU em relação ao resgate das crianças. 



Não aconselho que assista esse filme para passar tempo ou relaxar, tampouco é um filme para ser assistido duas vezes. Esse filme serve para caso você queira se conscientizar um pouco mais sobre as possíveis atrocidades que ocorrem em períodos de guerra. Estamos cientes desses conflitos quando acontecem, mas para muitas pessoas acaba por ser indiferente, pois não está lhe afetando diretamente de alguma forma. Só que quando você dá um chance para esse filme, consequentemente dá chance para a guerra te afetar indiretamente, pois ver esse filme é sentir-se lá, exposto e vulnerável na guerra. É como se Agu e todas aquelas crianças fossem sua família, pois você se sente agredido, desprotegido, impotente e com medo de morrer e de perder mais pessoas pela qual você já criou algum laço.



Ao se tratar desse filme, falar sobre fotografia, trilha sonora, ou qualquer outro detalhe que “embeleze” o filme, soa como futilidade, pois o que realmente importa nesse filme é unica e exclusivamente a mensagem que trás, a reflexão que permanece quando o filme termina. Mas, sim… o filme tem uma ótima fotografia e uns efeitos sonoros que lhe deixam com ainda mais vontade de chorar. Prepare-se para ouvir sons de tiros, metralhadoras e explosões o tempo todo.
O enquadramento das cenas retrata ainda melhor todos os acontecimentos da guerra, e sempre vistos pela perspectiva de Agu.

Com certeza você já entendeu que “Beasts of No Nation”, não é um filme para para preparar pipoca e se aconchegar no sofá. Possui 137 minutos agonizantes, mas extremamente necessários para a conscientização e transformação de nós em seres humanos mais piedosos.


E no final, você sabe que possui empatia quando percebe que já viu filmes com imagens muito mais fortes, mas por conta da história e todo contexto no geral, esse acaba se tornando um dos filmes mais cruéis já vistos. É de cortar o coração ver e saber que é real (e muito pior na realidade) crianças perdendo sua infância e vestindo guerra. Perdendo suas famílias de forma brutal simplesmente por conta de que algumas pessoas precisam ter para si o controle do mundo, ou parte dele. Sofrimento causado por pessoas que não sabem viver em paz, ou que precisam de guerra para conseguir paz.



“Sol, por que está brilhando neste mundo? Estou esperando para pegar você com as minhas mãos, espremer tanto que não poderá brilhar mais. Assim, tudo será sempre escuro e ninguém terá que ver todas as coisas terríveis que estão acontecendo aqui.”

Título Original: Beasts of No Nation


Direção: Cary Joji Fukunaga



Elenco: Abraham attah, Emmanuel Nii Adom Quaye, Idris Elba, Jude Akuwudike, Kurt Egyiawan, Ama Abebrese, Emmanuel Affadzi, Kobina Amissah-Sam.



Sinopse: Quando a guerra civil de uma nação africana destrói sua família, o pequeno Agu acaba se juntando a mercenários e se transformando em um soldado-criança. Agu usa a esperança de ver sua mãe novamente como força para continuar lutando na guerra, mas também como um escudo para não deixar que tamanha crueldade corrompa a pessoa pura e bondosa que era.



Trailer:


Conscientização é preciso. Espero que o filme seja valioso para vocês.

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