Crítica: Columbus (2017, Kogonada)

Columbus é o filme de estreia do diretor Kogonada, um novo diretor sul coreano que vem arrancando aplausos com este seu primeiro trabalho em festivais pelo mundo. Mas será que o filme realmente faz jus a esta crítica positiva que o levou a ter mais de 90% de aprovação no site Rotten Tomatoes? 

A história da película nos leva até Columbus, uma cidade no meio dos Estados Unidos, que é conhecida por ter muitas obras de arquitetos modernistas em seu território. Lá vive, desde que nasceu, Casey (interpretada por Haley Lu Richardson, que participou do filme Fragmentado), uma bibliotecária apaixonada justamente pela arquitetura de sua cidade. Sem muitas expectativas de vida, ela e seu colega de trabalho, Gabriel (Rory Culkin), conversam sobre futuros que nunca se realizarão. Enquanto isso, Jin (John Cho das sagas Star Trek e American Pie) aterrissa na cidade por conta de um problema com o seu pai, um arquiteto famoso da Coreia do Sul. Os dois acabam por se conhecer e descobrem que tem muito em comum, apesar de uma vida completamente diferente.

O diretor Kogonada, deixa exposto até dentro de um diálogo do próprio filme, que a intenção dele é fazer um filme sobre o cotidiano que, nos cinemas de blockbusters de hoje em dia, não têm mais tanta relevância na sétima arte. E, do primeiro ao último minuto ele tenta não extrapolar no sentimento dos seus personagens, exatamente para trazer essa sensação de que estamos acompanhando a vida de duas pessoas quaisquer, onde acontece algo sutilmente mágico entre elas.

Só que a inexperiência explícita do estreante diretor, deixa alguns deslizes acontecerem durante o filme. A necessidade de realçar a beleza arquitetônica da cidade, por vezes, não combina com o tom simples que o diretor quer impôr ao seu trabalho. Nada parece orgânico, nada é natural e os atores estão sempre tendo algumas ações muito mecânicas para trazer seus personagens para um sentimento ameno e contido, apesar das relações que vão se emaranhando durante a  convivência deles; e tudo isso para não parecer um filme exagerado. E para os momentos mais marcantes do filme, Kogonada acaba escolhendo por cenas clichês do cinema hollywoodiano. Um exemplo disso é quando a protagonista, dança em frente a um prédio lindo durante a noite, apenas com o farol do carro ligado. Para uma obra que busca se livrar explicitamente dessas amarras do pedantismo das comédias-românticas feitas nos Estados Unidos, não cabe sequências desse tipo, que certamente já foram filmadas em pelo menos uma centena de filmes em Hollywood.

Apesar da ação mecânica citada a pouco, que é imposta em algumas partes do filme, a protagonista se destaca muito por sua atuação. Ela se encaixa muito em sua personagem, e os planos sempre bem escolhidos de fotografia juntos a uma montagem lenta, muito bem feita pelo próprio diretor, não ajuda só em sua interpretação, como na interação com todos os outros personagens do filme, que também não decepcionam em seus trabalhos. 


Com tantos acertos quanto erros, o que mostra a média tão positiva de críticas, Columbus é uma obra que com certeza é assistível, e que por conta da forma em que as notas são dadas nesses sites de crítica especializadas, a sua tolerância se torna um ponto fora da curva. Mas quem realmente se apaixonará por esse filme é um nicho muito específico de amantes de arquitetura ou quem passa pelas agonias dos personagens principais. 


Título Original: Columbus

Direção: Kogonada

Elenco: Haley Lu Richardson, John Cho, Parker Posey, Rory Culkin, Michelle Forbes


Sinopse: Casey mora com a sua mãe em uma pequena cidade assombrada pela promessa de modernismo. Jin, um visitante do outro lado do mundo, comparece para ver seu pais, que está morrendo. Sobrecarregado pelo peso do futuro eles encontram refúgio um no outro e na arquitetura que os cerca.


TRAILER
Agora, segue alguns comentários do diretor Kogonada sobre o trabalho para a Supo Mungam Films:


Influência do Lugar
Kogonada: Fiz uma viagem de um dia a Columbus há uns anos atrás com a minha esposa e meus dois filhos. Tinha lido recentemente sobre essa meca da arquitetura modernista nas terras agrícolas de Indiana. Andando por lá, encontrei edifícios desenhados por Eero Saarinen, I. M. Pei, Richard Meier e outros. Havia uma inegável intensidade naquilo – esta tranquila cidade no conservador Centro-Oeste, funcionando como um vivo (e fantasmagórico) museu da promessoa de modernismo. Me senti imediatamente inspirado a fazer um filme lá. Durante a nossa visita e na volta pra casa, eu já tinha uma ideia sobre os personagens e sobre como a história se desdobraria.
Aspectos Pessoais da História
Morte é separação, e toda separação é um tipo de morte. Eu sempre fui assombrado por ambos. O pequeno e o último adeus. Tenho pais idosos e crianças em crescimento e cada vez mais sinto o peso desta separação que está por vir. Há significado na ausência? Como lidamos com a inevitabilidade disso? A história de COLUMBUS emerge destas questões. 

Responsabilidades Familiares de Jin e Casey
Há uma dolorosa citação no começo do filme FILHO ÚNICO de Yasuhiro Ozu que diz: “A Tragédia da vida se inicia com a ligação entre pais e filhos”. Jin e Casey estão sobrecarregados por este vínculo, mas de maneiras muito diferentes: Jin quer partir, Casey quer ficar. Ambos os desejos estão relacionados ao peso que eles sentem. 

Casey e a Arquitetura
Eu acho que, para Casey, a arquitetura é uma porta de entrada para uma maneira de enxergar. Também dá a ela ar para respirar em um crítico momento de sua vida. Eu não tenho certeza de que ela virará uma arquitetura, mas ela se tornou mais consciente esteticamente. Eu acho que isso é realidade para qualquer um de nós que foi movido por alguma forma de arte. Muitas vezes, suscita sensibilidades para outras formas de arte e também para a humanidade. Nesta forma, é progressiva. O encontro de Casey com a arquitetura reflete o meu próprio encontro com o cinema em um momento crítico. E o primeiro modesto edifício que comove Casey é semelhante ao tipo de cinema que mexeu comigo. 

Sobre Chris Weitz (produtor do longa)
Eu ainda estou tocado por sua generosidade de espírito. Nos conhecemos pelas mídias sociais. Acredito que ele respondeu a um texto que escrevi para a Sight&Sound sobre o Hirakazu Koreeda. Fiz contato com ele e trocamos e-mails. Ele e seu irmão Paul estavam tabalhando no remake de PAIS E FILHOS do Koreeda. Lembro que ele me enviou um filme de Koreeda que eu ainta não havia visto. Eu eventualmente disse a ele que havia escrito um rotieiro. Ele se ofereceu para ler e então veio a bordo como produtor. Do começo até o fim ele apoiou e protegeu minha visão artística. Eu sou extremamente grato. 

Sobre Haley Lu Richardson
Eu fui extremamente sortudo. Logo no começo do processo, eu identifiquei Haley Lu como uma atriz em potencial para interpretar Casey. Na época eu só a tinha visto no filme THE YOUNG KIESLOWSKI e em um episódio de LAW & ORDER. Chris Weitz foi incrivelmente colaborativo. Ele enviou o roteiro a ela e então nós nos encontramos. Tivemos uma longa conversa sobre tudo (Isso se tornou um padrão para nós. Longas conversas sobre tudo). Ela é realmente uma das melhores pessoas que eu já conheci. Ofereci o papel a ela sem fazer teste, apenas com uma forte intuição de que ela era Casey. Percebo agora o quão sortudo nós fomos. Ela é especial e eu tenho certeza de que esses sentimentos vão se tornar cada vez mais evidentes: do quão sortudo eu fui e do quão especial ela é.

Sobre John Cho
Depois de ler o roteiro, Chris Weitz imediatamente sugeriu que eu considerasse o John Cho para o Jin. Na época, admito que eu pensei: “mas eu nunca a vi em um papel desse tipo” – O que mostra o quanto é difícil para um ator asiático-americano conseguir um papel principal quando um diretor asiático-americano cai na mesma armadilha dos outros. Chris acreditou nele e John leu o roteiro, conversamos ao telefone e imediatamente percebi a minha falta de visão. Aqui está um ator que ama cinema, que começou no teatro, que ia além de profundo e talentoso e que tinha trabalhado de forma constante, mas muitas vezes limitada devido a sua etnia. John foi o primeiro ator ligado ao filme e ele deu um tom generoso para todos, que se provou contagiante. Em um mundo diferente, John teria feito a carreira de Marcello Mastroianni. Ele tem presença dentro e fora da tela. Inquisitivo e envolvente. Talvez esse mundo seja agora.


😉 Não se esqueçam de deixar aí embaixo se quer assistir o filme, ou se já assistiu, se concorda ou discorda da minha opinião.

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