Crítica: Batman e Arlequina: Pancadas e Risadas (2017, de Sam Liu)

“Fanfic” é a palavra que permaneceu em minha cabeça durante todo o tempo de tela de Batman e Arlequina, o filme parece muito mais um trabalho não-oficial de fã do que uma obra cânone no universo do herói. O diretor é Sam Liu, realizador de algumas outras animações de histórias em quadrinhos como os recentes Batman: A Piada Mortal e Jovens Titãs: O Contrato de Judas. Entretanto, a essência da obra nada tem a ver com a direção, já que Sam parece estar lá apenas para transpor para a tela o roteiro insano de Bruce Timm e James Kriegg, e é no texto que a animação assume seu caráter completamente fantasioso.

O descompromisso do roteiro se revela já na base da trama: Hera Venenosa e Jason Woodrue, o Homem Florônico, decidem que a humanidade não merece mais viver na Terra e elaboram um plano para transformar todos os seres vivos do planeta em híbridos de plantas e animais. Batman e Asa Noturna então se vêem obrigados a unir forças à ex-namorada do Coringa, Arlequina, que tem seu passado com Hera e os ajudará a dar um fim nessa ridícula ameaça global. Essa história de “salvar o mundo inteiro” já está batida faz tempo, porém o filme consegue renová-la graças ao fato de que os personagens reconhecem a grandiloquência boba do plano, assim os roteiristas acabam transformando-o em uma espécie de sátira dos movimentos “hippies vegetarianos” atuais.

Essa mistura de humor auto-referencial e nonsense está presente em uma grande parte do filme, o que provavelmente incomodará alguns fãs da série animada dos anos 90, pois o traço é parecido, mas o tom é completamente diferente: Batman e Arlequina é uma comédia, apelativa por sinal. Por isso eu disse que a animação parece uma “fanfic”, os roteiristas pegam os personagens do universo oficial e os modelam a seu querer para um propósito humorístico e/ou sexual, há vários tipos de insinuações e referências aqui, algumas mais óbvias que outras: Arlequina e Robin, Hera e Arlequina, Batman e Robin… Só o Alfred escapa mesmo, porque ele nem aparece.

O tom de ironia e humor da obra, que mais a distancia do universo oficial, é ironicamente sua maior força: piadas com peidos, vômitos, ereções e sexo com cócegas não são exatamente elementos que você esperaria em um filme do Batman; por isso, mesmo que não sejam tão engraçadas assim por si só, as cenas ganham um “elemento surpresa”, porque é divertido ver os personagens reagindo a esse tipo de situação não usual. As gracinhas acabam até afetando a narrativa; é interessante notar como, principalmente lá para o terceiro ato, a maioria dos conflitos do roteiro são resolvidos com uma cena de humor (os últimos segundos do filme antes dos créditos são geniais).

As caracterizações dos personagens e atuação de voz funcionam pelo que são: Kevin Conroy faz tudo que pode para manter seu Batman interessante, como sempre, porém aqui está fadado a permanecer sério para efeitos de humor seco. Loren Lester não faz nada, já que seu Asa Noturna é uma espécie de alívio cômico em um filme em que todos são, basicamente, alívios cômicos; na verdade, a impressão que fica é que o personagem foi inserido apenas para a existência de uma cena em específico. Melissa Rauch (a Bernadette de The Big Bang Theory) infelizmente não se destaca muito, a atriz até tem um bom timing cômico, porém seu trabalho de voz não chega nem perto do de Tara Strong como a personagem Arlequina, falta a energia e o carisma.


Apesar de toda essa desconstrução ser bem divertida, ela não consegue sustentar o filme sozinha e em alguns momentos fica bem óbvio que, mesmo com a curtíssima duração de 74 minutos, o roteiro acaba enchendo linguiça (há uma cena que, literalmente, desvia da história apenas para uma piada). A estrutura de três atos é bem simplista: apresentação do plano dos vilões, heróis procuram vilões, embate; mesmo assim fica a sensação de que o roteiro está apenas indo de uma piada pra outra com algumas cenas dramáticas no meio. Além disso algumas situações, apesar de divertidas, ocupam mais tempo de tela do que deveriam: há dois números musicais seguidos e seu aproveitamento destes dependerá do quanto você acha engraçado ver personagens dançando.

  
Batman e Arlequina não traz nada de novo narrativamente, porém sua execução é uma novidade muito bem-vinda; só não espere nostalgia devido ao estilo de animação, porque se tem uma coisa que esse filme não tenta ser é respeitoso com o passado. Até em Lego Batman, também muito bem-humorado, há uma sensação de conservadorismo quanto aos elementos do universo, algo que definitivamente não se encontra aqui.



Título Original: Batman and Harley Quinn


Direção: Sam Liu


Elenco: Kevin Conroy, Melissa Rauch, Loren Lester, Paget Brewster, Kevin Michael Richardson


Sinopse: Batman e Asa Noturna precisam se juntar com Arlequina, a ex-namorada do Coringa, para evitar uma catástrofe global que está sendo planejada pela Hera Venenosa e o cientista Jason Woodrue, também conhecido como Mestre das Plantas ou Homem Florônico.

Trailer

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