Crítica – Planeta dos Macacos: A Guerra (2017, de Matt Reeves)




Os remakes e retornos as sagas clássicas são imensamente criticados, parece que cada vez tem mais detratores. E muitos tem razão, devido a alguns reboots fracos, vide Ben-Hur de 2016. Mas nada na vida é tão regrado assim, e a verdade é que alguns remakes são sim bem feitos, atualizando tramas clássicas, ao mesmo tempo em que as presta reverência. E três sagas de ficção científica estão muito bem: os novos Star Wars, Star Trek e Planeta dos Macacos. Nos concentrando na franquia dos símios, Planeta dos Macacos: A Origem foi uma surpresa em 2011, com sucesso de bilheteria e crítica, trazendo uma trama emocionante e realista. Em 2014, Planeta dos Macacos: O Confronto trouxe uma dura crítica política-social, aliada a uma ótima direção de Matt Reeves, que criou momentos de tensão fantásticos. Eis que chegamos neste filme aqui. Planeta dos Macacos: A Guerra chega novamente dirigido por Matt Reeves. O longa chega de maneira mais tímida, com menos bilheteria que os anteriores. Mas as críticas são novamente altíssimas, sendo inclusive, considerado um dos melhores filmes de 2017 até então. 

Não vou me aprofundar muito na sinopse, mas o que dá pra dizer é que o título engana. Quem espera uma “guerra”, muita ação e adrenalina, poderá se decepcionar, pois a mesma ocorre de maneira mais densa, no psicológico do personagem central. César continua sendo a força e a alma da franquia, com uma atuação (sim, é atuação de verdade) impactante. Seu desempenho cênico supera a maioria dos atores de 2017 até então, deixa pra trás qualquer super-herói do cinema recente. Extremamente humano, com força de expressão e no olhar; passa raiva, medo, melancolia e coragem. Andy Serkis está de parabéns. O ator nasceu para emprestar seu rosto nas capturas de movimentos. E sua dedicação não fica só nisso, pois o ator se engaja em estudar, se aprimorar, produzir e testar novas técnicas nos filmes em que participa, tornado-se assim, sua especialidade. Isso é o que chamamos de artista.


Mas todos os símios são extremamente reais e cativantes. Os seres possuem brilho e umidade nos olhos, texturas de pelos (com um diferencial mesmo quando molhados ou na neve), expressões humanas e movimentos sutis e realistas. Aliado a isso, o roteiro faz questão de aprofundar estes personagens, muito bem desenhados por dúvidas, medos, dualidades e traumas. Assim, o roteiro e a direção trazem cenas muito maduras, às vezes pesadas, que imergem num clima opressor e triste, podendo levar muitos as lágrimas. O roteiro também guarda metáforas e muitas críticas políticas, sociais e históricas. Na frase “Kong bom é Kong morto”, refletimos sobre o que parte da sociedade prega em relação aos marginalizados. Temos espaço para críticas a escravidão, a segregação, a manipulação política e o uso da força desta em cima da população indefesa. Além de todo este conteúdo questionador, a obra traz referências a cultura pop, como surpreendentes ligações aos outros filmes da saga (especialmente a grandiosa 1° produção) e até a Apocalipse Now, ao usar um vilão militar surtado (algo que outro filme com macaco também fez este ano, o Kong: A Ilha da Caveira).


Se todo elenco que empresta movimentos aos animais digitais são fantásticos, o elenco que aparece na forma humana é mais caricato e robótico, porém de maneira proposital, o que acaba sendo um acerto. Woody Harrelson entrega um vilão extremamente frio, mas isso funciona para contrastar o quanto as pessoas perderam sua humanidade. E mesmo assim o roteiro aborda motivos válidos para o mesmo agir assim. Mas esta desumanização das pessoas e humanização dos animais é bem-vinda, mostrando os opostos de ambos os lados. Esta dura crítica não deixa de dizer que as pessoas perderam sua humanidade, seu calor e amor a muito tempo. O filme só usa uma metáfora científica para explorar isso. E ainda sobra um espaço para tecer um paralelo com a típica jornada do herói, mesclada com uma referência bíblica a Moisés.

Planeta dos Macacos: A Guerra chega perto da perfeição. Salvo a utilização da avalanche como uma solução fácil e uns outros clichês – coisas que poderia-se ter arriscado mais -, a obra é extremamente emocionante, ousada, madura e bem executada. Há muita técnica na direção de Reeves, criando tensão e clímax constantemente, sem deixar de aprofundar relações. Algumas tomadas são em off, mostrando a guerra em segundo plano, focando nos estragos psicológicos que esta causa em um primeiro plano. Isto é sensacional, assim o filme não idealiza que uma guerra é algo útil ou benéfica, sabemos que ela só destrói. Com efeitos especiais de última geração, mas utilizados de maneira contida e a favor da narrativa da trama, é um filmaço que merece ser visto. Até então, é o melhor filme que vi em 2017. Depois que Logan deu um soco no estômago, este aqui deu uma pancada na cabeça, a Fox está de parabéns pela coragem. É impossível não refletir que a Terra está nos seus 8 bilhões de pessoas, evoluiu-se tanta coisa, mas a “humanidade” perdeu-se a muito tempo. A Terra precisa de macacos como estes. Ave César. 

Título Original:  War For The Planet Of The Apes


Direção: Matt Reeves


Elenco: Andy Serkis, Woody Harrelson, Steve Zahn, Karin Konoval, Terry Notary, Amiah Miller, Judy Greer, Michael Adamthwaite.


Sinopse: Humanos e macacos cruzam os caminhos novamente. César (Andy Serkis) e seu grupo são forçados a entrar em uma guerra contra um exército de soldados liderados por um impiedoso coronel (Woody Harrelson). Depois que vários macacos perdem suas vidas no conflito e outros são capturados, César luta contra seus instintos e parte em busca de vingança. Dessa jornada, o futuro do planeta poderá estar em jogo.



Trailer:





Imagens:







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