Crítica: Nunca Diga Seu Nome (2017, de Stacy Title)

O gênero de filmes de terror é, atualmente, um
tópico relativamente problemático: com a ascensão do PG-13 e consequente
banalização da violência, foram postos no mercado uma infinidade de obras
puramente comerciais com um público-alvo adolescente que adora “levar aquele
sustinho” com barulhos altos e outros clichês. Isso acabou por criar um certo
preconceito no mundo do cinema em cima do terror, como se fosse um gênero
perdido e há até quem defenda que exemplares um pouco mais complexos como A
Bruxa
ou o recente Ao Cair da Noite deveriam ter um subgênero apenas para eles.
É um pensamento ridículo, obviamente, mas com filmes como Nunca Diga Seu Nome
sendo lançados, até compreensível.


A trama acompanha três jovens, o casal Elliot
(Douglas Smith) e Sasha (Cressida Bonas) e o terceiro elemento, John (Lucien
Valiscount); os amigos decidem se mudar para uma casa formando uma espécie de
mini-fraternidade. Tudo vai bem, até que o nosso protagonista Elliot encontra
os dizeres “Não pense. Não Fale.” e “The Bye Bye Man” na gaveta de um
criado-mudo e alguns acontecimentos suspeitos começam a tomar lugar:
alucinações, barulhos estranhos, problemas de 
confiança e o aparecimento de uma
estranha figura de capuz passam a atormentar a vida dos três.


Logo de cara nota-se que originalidade não será o
ponto alto do filme: a cena inicial, com a câmera no meio da rua em um bairro
do subúrbio, retrata um personagem que entra e sai de duas casas desesperado e
é praticamente idêntica à abertura de Corrente do Mal, de 2014. Há também outras “referências” no roteiro e principalmente na forma como a diretora Stacy Title
conduz as cenas, dois exemplos gritantes foram uma cena em que o “Bye Bye Man” é exposto apenas ao espectador através de um espelho, truque que praticamente
todo filme envolvendo espíritos já utilizou e um enquadramento centralizado em uma criança atravessando um corredor que parece “alongar” a distância entre a câmera e a parede final,
obviamente inspirado em O Iluminado. Não há problema algum em utilizar pastiche
em filmes, Tarantino está aí para provar isso, entretanto deve haver um
aparente respeito e um quê de originalidade, duas características não
encontradas aqui.


Se as cenas não são criativas, pelo menos o monstro
(ou o conceito deste), é. A tal entidade de nome ridículo está muito mais preocupada
com extinguir a sanidade dos protagonistas através de alucinações do que
matá-los; isso deu uma sensação, mesmo que pequena e apenas no primeiro ato, de
novidade, a maior preocupação dos jovens é diferenciar o real da ilusão, não sobreviver.
Entretanto tudo tem um preço e essa mecânica acaba desgastando rápido demais,
tanto a diretora como o roteirista Jonathan Penner parecem esquecer algo muito
básico: para que a mentira possa existir, é necessária a existência da verdade.
Os personagens apresentam, através de diálogos expositivos, suas inseguranças e
medos logo no início do filme e o “Bye Bye Man” cria suas ilusões baseadas
nesses mesmos conflitos repetitivamente durante todo o tempo de tela; pra
piorar tudo, os protagonistas acabam nunca encontrando nenhuma hostilidade
física, ou seja, qualquer desvio da norma o expectador já automaticamente deduz
(corretamente) que se trata apenas de uma alucinação e o senso de perigo foi
pelo ralo.

Também não ajuda muito a confusão, proposital ou
não, criada pelo modo como o antagonista opera; é criada toda uma mitologia ao
redor do vilão (com direito ao clássico “a mesma coisa aconteceu anos atrás”), porém os elementos que o compõem nunca são devidamente esclarecidos. Não estou
reclamando que o filme não explica tudo, e sim que o roteiro apresenta
particularidades que não têm propósito, nem narrativo e nem do ponto de vista do
universo criado: o cachorro, por exemplo, a péssima renderização rende algumas
risadas, mas ele não faz nada além de ter olhos que brilham no escuro; as moedas
apenas denunciam a chegada do espírito; o criado-mudo se teletransporta? Vale
mencionar também que a cena que “engata” o filme, apresentando o tal “Bye Bye
Man” fisicamente pela primeira vez, não faz sentido algum e quebra o próprio conceito do
vilão.


Ainda mais confusos do que os furos de roteiro estão
os atores, do trio principal nenhum funciona: Douglas Smith, uma espécie de
Dane DeHaan genérico, interpreta Elliot de forma completamente preguiçosa e
formulaica nos primeiros dois atos e como uma caricatura de pessoa traumatizada
no terceiro; o que é uma pena, porque o conflito pessoal dele é até minimamente
interessante. Lucien Valiscount entrega uma performance bem chata, mas nem
consigo culpá-lo tanto assim porque seu personagem está lá apenas para servir
como a base das alucinações de Elliot. Cressida Bonas está literalmente
risível, é impossível levar a sério qualquer frase dita pela personagem Sasha
porque Bonas parece estar lá apenas porque foi entregar algum produto no
estúdio e o diretor estava desesperado porque a atriz original desistiu do
projeto, já vi muitas atuações melhores em peças de ensino médio. A pobre 

Carrie-Anne Moss (Trinity da trilogia Matrix) está bem com sua participação relativamente pequena, entretanto fica aquela sensação de pena de ver uma atriz esforçada em uma obra que não a merece.

A história não faz sentido, os personagens são
unidimensionais e os atores não estão nem aí, mas tecnicamente o filme é bom?
Para isso respondo apenas com *risos*. Logo na mencionada primeira cena, aquela
copiada, é possível perceber como é tudo muito amador: Corrente do Mal utilizou
a locação do subúrbio para passar uma sensação de isolamento, juntamente com o céu nublado e uma trilha sonora surreal crescente que aumenta o suspense; aqui mais
parece um Cool Cat Saves The Kids da vida com seu contraste estourado e paleta
de cores simplista. A edição de som é ridícula, qualquer efeito sonoro cuja
ação não foi presenciada em tela é falso que dói, desde a moeda caindo até os
pássaros cantando ao fundo. A montagem é até um pouco eficiente em pular entre
presente e passado sem parecer o famoso “flashback forçado”, porém como conexão
lógica não funciona muito bem; há uma pequena reviravolta baseada em uma
mudança de percepção próxima ao final do filme que provavelmente fazia sentido
no roteiro, mas que acaba parecendo muito forçada devido a algumas informações
previamente concedidas.

Nunca Diga Seu Nome é lastimável, um conceito
interessante que infelizmente se perdeu em um filme de terror muito abaixo da
média que não dá medo, nem diverte e muito menos faz sentido. Eu não sei nem
muito bem o que eu estava esperando, o mês de janeiro aqui no Brasil é
geralmente favorecido pelas estreias de filmes aclamados pela crítica e que têm
grandes chances com premiações, mas nos EUA quando um estúdio planeja o
lançamento para
 o início do ano é geralmente um mau sinal, aqui se confirmou.

Tìtulo Original: The Bye Bye Man

Direção: Stacy Title

Elenco: Douglas Smith, Cressida Bonas, Lucien Laviscount, Jenna Kanell, Carrie-Anne Moss.

Sinopse: Três estudantes saem para acampar no estado de Wisconsin, mas acabam perseguidos por uma criatura mística e sobrenatural, conhecida como “The Bye Bye Man”.

Trailer:
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