Crítica: Hannah e Suas Irmãs (1986, de Woody Allen)



Assistir a um filme de Woody Allen sempre proporciona uma sensação reconfortante, como se estivéssemos conversando com um velho amigo ou tomando um chocolate quente num dia chuvoso. O cineasta tem uma habilidade nata para escrever roteiros consistentes, com histórias e personagens palpavelmente reais e diálogos que não soam construídos, quase como se o que estivéssemos assistindo não fosse um filme, mas um fragmento de vida real. O mais incrível é ele estar em atividade desde 1969, mantendo a sua média de um filme por ano, o que só reforça o seu talento e vem a provar o quanto a vida, tema inevitável na maioria de seus trabalhos, é inspiradora e cheia de possibilidades, ainda que muitas vezes não faça muito sentido.




Hannah e Suas Irmãs é um dos filmes da safra oitentista de Woody Allen, em que temos como foco o núcleo familiar composto por três irmãs que vivem em Nova Iorque (o cenário de praticamente todos os seus filmes), seus conflitos amorosos e também existenciais. O próprio Woody também está no filme, como acontece na maioria de seus trabalhos, uma característica à la Hitchcock, interpretando, mais uma vez, um judeu neurótico e fracassado. Mais especificamente, sua personagem, Mickey, funciona como uma espécie de alívio cômico, um hipocondríaco que só de sentir o mais leve zumbido nos ouvidos já imagina ter um tumor no cérebro. Mas além disso, a personagem proporciona bons momentos de reflexão – mas com o humor tortuoso característico do cineasta, é claro.



Mickey está conectado à trama por ser ex-marido de Hannah, que é atriz e a mais bem-sucedida das três filhas de um casal de atores bastante famoso à sua época, mas cujo casamento se encontra desgastado, vivendo de lembranças nostálgicas dos bons tempos durante os feriados do Dia de Ação de Graças, em que a família se reúne com parentes e amigos; por sua vez, Hannah é casada com Elliot, um financista perdidamente apaixonado por Lee, uma das irmãs de Hannah, e que se encontra num relacionamento fadado ao declínio com Frederick, um artista rabugento. A terceira irmã é Holly, possivelmente a mais perdida da família, uma insegura e solitária aspirante a atriz que organiza buffets nas horas vagas com a amiga April.



Apesar de tratar de temas sérios, como infidelidade, conflitos familiares, insatisfação pessoal e outros mais universais e constantes na filmografia de Woody, como as questões existenciais, o filme é leve e otimista, com diálogos cheios do humor irônico característico do cineasta, que consegue dessa forma criar um retrato fictício bastante fiel da vida real. A montagem lembra o cinema mudo, com legendas que nos conduzem de um núcleo a outro da história, por vezes com uma frase a ser dita por algum personagem; por outras, com a frase de algum filósofo, como a do escritor russo Tolstói a ilustrar a busca frenética de Mickey por respostas: “O único conhecimento absoluto atingível pelo homem é o de que a vida não tem significado.”



A junção do elenco, que conta com grandes nomes do cinema – incluindo Dianne Weist, que venceu o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por seu papel neste filme – é mais uma das cartas na manga do cineasta que fizeram com que este filme, que poderia ter passado completamente despercebido nas mãos de outro realizador, se tornasse relevante. O gostinho nostálgico da década de 80 proporcionado pelos cenários, figurino e penteados é só a cereja do bolo.




Título Original: Hannah and Her Sisters


Direção: Woody Allen


Elenco: Mia Farrow, Michael Caine, Barbara Hershey, Max von Sydow, Dianne Wiest, Carrie Fisher, Woody Allen.


Sinopse: A amizade e o relacionamento de três irmãs vivendo em Nova Iorque, seus conflitos amorosos e existenciais no meio de um grupo de amigos e parentes não muito homogêneo.


Trailer:

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