Oasis: Supersonic – A estreia da Netflix que você deixou passar

Com todo o burburinho gerado pelo hit 13 Reasons Why, uma produção da gigante Netflix lançada neste abril foi ofuscada. Conduzida pela mesma parceria de sucesso por trás de Amy, James Gay Rees e Asif Kapadia, Oasis: Supersonic descreve a trajetória da banda desde a sua formação até o lançamento do magistral (What’s the story?) Morning Glory, de 1996, considerado por muitos o seu auge incontestável. Pensamento inclusive dos protagonistas da história, Liam e Noel Gallagher, que a seu próprio modo Caim e Abel ajudaram a produzir o filme e narraram a polêmica trajetória do icônico grupo britânico que criaram e que, até hoje, conta com uma fiel legião de fãs.



O ponto inicial escolhido para o documentário mostra o ápice alcançado pelo Oasis em sua carreira: os dois concertos em Knebworth que esgotaram suas vendas em minutos (vendas online aqui sonhavam em nascer) devido aos 2,5 milhões de pedidos de bilhetes, que poderiam lotar a capacidade do local mais de 50 vezes. Ao descrever o momento de glória, os músicos dão a entender ao espectador que estavam destinados a chegar ali: era apenas uma questão de tempo. Se não atingiram o sucesso antes, em nada tiveram culpa – o público que estava idolatrando os artistas errados. 


Um dos concertos do Oasis em Knebworth, o ápice da banda britânica



É nesse tom narcisista (nada mais adequado) que então saltamos para o início dos anos 90, com os primeiros passos de Liam Gallagher em Manchester na ainda The Rain. Nos fatos descritos pelo próprio, é notória a dependência da chegada do irmão Noel ao (então) Oasis para o mínimo de aprimoramento do projeto, mas é intrigante ver o quanto Liam se nega a reconhecer o fato. A disputa de egos nos serve para ressaltar: mesmo quando a banda ainda não era nada, o desagrado entre os dois já existia, fato comentado pela própria mãe dos irmãos no longa. O desafeto seguiu o grupo pelo seu auge e até seu fim – a banda se encerrou em 2009 em meio a uma briga irremediável entre Liam e Noel, que até hoje não se reconciliaram. 


Imagem da banda no início dos anos 90, antes da fama

O tom irreverente e até desdenhoso com que os músicos narram os acontecimentos é determinante para a identidade do documentário. Ao contar da descoberta do grupo por Alan McGee (olheiro da Creation Records), por exemplo, que ao assisti-los num concerto e lhes propor contrato automaticamente mudou suas vidas, os irmãos lembram do momento com uma simplicidade que beira a presunção. O discurso despojado (e porque não arrogante) seguiu o grupo em especial nas interações com a imprensa, uma vez que a fama lhe chegou. Em entrevistas escolhidas, vemos o desdém com que os músicos respondem à atenção: o importante é tocar suas canções, consumir suas drogas e falar o que quiser, quando quiser e para quem quiser ouvir. 


Liam e Noel em entrevista exibida no documentário

Como nenhum dos narradores da história se mostra na tela nos dias atuais, temos quase 100% de tempo de tela usado para imagens de arquivo, o que enriquece o material. Gravações pessoais de amigos e membros da banda mostram o clima tenso e ao mesmo tempo descontraído dos bastidores, com intervalos para referenciar o momento na linha temporal através da música sendo composta ou a canção lançada na época. Além disso, não foi preciso nenhum conflito ou discussão ser escolhido para anunciar um ponto alto ou clímax: a irritação e explosividade podem ser vistas a todo momento, até mesmo em trechos de alguns shows – destaque para o concerto de Los Angeles em que todos estavam exaustivamente drogados e mal conseguiam finalizar as músicas, levando Liam a atirar um instrumento na plateia de chateação.


Review do concerto em Los Angeles na Whiskey, em 1994, descrevendo a loucura vista no palco

Rees e Kapadia poderiam ter concentrado seus esforços em mostrar como a rixa familiar impactou a todos e resultou na ruptura do grupo. Ao invés disso, fazem a excelente escolha de descrever como a banda sobreviveu e brilhou apesar da mesma. Na narrativa sobre o colapso nervoso que fez Noel desaparecer no meio de uma turnê, escolhe exibir gravações do músico compondo os sucessos de Definitely Maybe, ao passo que o mesmo comenta o período e percebeu que o que tinham nas mãos era muito mais grandioso que seu esgotamento. Vemos como resultado vários trechos de entrevistas desbocadas e bastidores recheados de discussões, apenas para serem seguidos por takes de concertos lotados, premiações e turnês mundiais de consagração.


Oasis no Brit Awards de 1996, no qual receberam vários prêmios e se auto intitularam “a melhor banda do mundo”



Para além de uma muito bem executada fan service (ver a gravação original de Champagne Supernova e o momento que Noel compõe Wonderwall garante isso), Oasis: Supersonic nos traz a criação e ascensão de uma banda há quase dez anos encerrada. O documentário não chegou aqui para inflar o ego de nenhum dos membros da equipe (eles já são inflados muito além do suficiente) ou iniciar uma jogada de marketing para ensaiar um retorno. Na verdade, uma geração está crescendo sem ouvir as canções e discursos desse grupo britânico – e isto é tão grave que fez os irmãos Gallagher se reunirem numa mesma produção para um objetivo em comum: mostrar o que estão a perder.




E aí, já assistiu Oasis: Supersonic? Conta pra gente o que achou!

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