Crítica: Power Rangers (2017, de Dean Israelite)





       Super Sentai é um termo culturalmente oriental dado a produções com efeitos especiais e super-heróis, onde tivemos Jaspion e diversas outras obras clássicas aclamadas dos anos 80 para trás. Mas em 1993, a Saban Entertainment apresentou ao mundo os Power Rangers, que viraram uma poderosa marca de apelo infantil, tendo diversos seriados, desenhos, HQ’s e brinquedos. Ganhou dois filmes nos anos 90, que seguiam mais de perto um teor B e quase trash do show televisivo. Os anos passaram e hoje os heróis estão em alta, ainda mais com obras que buscam a nostalgia, tentando referenciar ao máximo as HQ’s, seriados, desenhos, filmes e outros formatos que um dia fizeram sucesso no passado, como os filmes da Marvel e DC. Então o estúdio Lionsgate, que visa crescer e se tornar um gigante tal qual Fox ou Disney, resolveu se unir a Saban e resgatar os esquecidos Power Rangers. É aí que chegamos a este novo filme, que dá uma atualizada na história afim de alcançar os difíceis jovens atuais, ao mesmo tempo em que tenta homenagear e respeitar o material de origem. O resultado? O que poderia ser uma grande bomba (afinal, olha o material de origem), acaba se tornando uma divertida surpresa. Tem suas falhas, mas seu caráter assumidamente bobo acerta o tom na aventura e no principal: a construção de personagens jovens carismáticos.

O roteiro aposta em algo que ultimamente falta nas produções carregadas de efeitos especiais: tenta-se aqui criar personagens definidos, com suas características e problemas pessoais. Em vez de ir direto para a “pancadaria”, temos toda uma introdução repleta de dramas e desafios, onde os jovens remetem aos “garotos problema” de O Clube dos Cinco ou outra produção de John Hughes (lendário cineasta dos anos 80, talvez o que melhor retratou a juventude, em todo cinema). O roteiro propositalmente tenta criar esta referência, com seus próprios 5 problemáticos jovens. Esta construção juvenil funciona até mesmo melhor que algumas séries, como a Scream (baseada na franquia de terror Pânico). Ainda, a produção tem frases de efeito, cenas específicas, pousos, elementos e diversas outras referências que também remetem ao seriado clássico. É louvável também tentar criar uma certa realidade na ação. Por exemplo, sente-se o peso dos Zords, especialmente o Megazord, onde todos devem estar em sincronia, ao mesmo tempo em que sente-se o peso dos mesmos, gerando esforço para controlá-los. Este detalhe lembra o ótimo Círculo de Fogo (2013, de Guillermo del Toro), onde sentimos o peso em cada golpe dos gigantes robôs. 





A direção é de Dean Israelite, que já tinha comandado um filme de fantasia juvenil, o desconhecido e interessante Projeto Almanaque. Vale ressaltar que ambos filmes seguem um estilo de Poder Sem Limites, colocando jovens em uma situação de fantasia, porém com problemas reais. Se o cineasta Josh Trank fez um filme de super poderes em found footage (por trás das câmeras) realista com Poder Sem Limites (2012), ao tentar manter este estilo no último Quarteto Fantástico (2015), não teve êxito. Em contrapartida, se Dean Israelite fez de Projeto Almanaque (2015) um found footage de viagem no tempo interessante e com drama indie juvenil, conseguiu incorporar bem esta pegada em Power Rangers.

Claro que nem tudo são flores. O roteiro não deixa de ser clichê, típico de filmes de origem de heróis que você já viu por aí. Ele faz algumas apostas, mas não é original. A direção de Israelite faz um trabalho ok. Às vezes é bem simples e nada demais. Mas às vezes traz alguns bons ângulos de câmera e consegue manter muito bem o ritmo da ação, especialmente no terceiro ato. As duas cenas de perseguição de carro no início do filme são especialmente bem feitas, com plano-sequências e truques de corte estilosos. Já a edição nas partes mais dramáticas pouco importam. E há umas duas ou três cenas mal cortadas e posicionadas. 


O elenco jovem e desconhecido está de parabéns. Todos tem carisma e conseguem segurar a ponta, especialmente RJ Cyler (Billy/Ranger Azul), pois o garoto é o alívio cômico, o bom coração, o representante de minorias e o portador de necessidades especiais (autismo) da turma, sem deixar de ser um dos heróis. Embora os personagens tenham uma construção clichê, ao mesmo tempo eles tem pequenos detalhes que tentam fugir de alguns estereótipos, como o fato da menina durona de cabelo curto não ser tão inocente, enquanto que a menina incompreendida, na verdade ainda não “saiu do armário”, por assim dizer. Parece vago o que estou dizendo, mas a quesito de comparação, normalmente em filmes e séries a garota LGBT se retrata sempre com cabelo curto e durona. Há aqui uma breve tentativa de variar a imagem. 




Ainda no elenco, quem realmente se diverte é Elizabeth Banks, que está deliciosamente caricata como a vilã, se divertindo no papel de Rita Repulsa. Ela assume e faz muito bem o papel de vilã canastrona. Bill Hader e Bryan Cranston tem os seus momentos com um trabalho mais vocal do que físico. A trilha sonora utiliza pequenas faixas do seriado original, dando nostalgia, enquanto que a nova composição de Tyler Bates dá um tom heroico ao longa. Embora perceba-se o CGI da computação gráfica em algumas cenas, soando artificial, no geral todo o visual está bem legal. Armaduras, Zords, Megazord e os trajes reais da vilã, tudo funciona. Talvez só no exército de vilões que poderia-se criar algo mais palpável. As cenas de ação do terceiro ato empolgam e até poderiam ter durado mais uns 10 minutos. Elas remetem a filmes como Círculo de Fogo e Transformers, porém de maneira mais controlada e com trabalho em equipe estilo Vingadores.  


Apesar de clichê e alguns deslizes, Power Rangers não é a bomba que poderia ser, e na verdade é uma surpresa. É leve, divertido, tem um jovem elenco carismático, traz uma tentativa de aprofundar personagens, um ótimo final e muita nostalgia. Funciona muito mais que o Quarteto Fantástico (2015) e o Esquadrão Suicida (2016). Por fim, devo salientar que percebemos que o tempo passa rápido e ficamos velhos quando aquilo que gostávamos quando crianças – 20 anos atrás – hoje é artigo de luxo e recebe homenagens. E Power Rangers consegue fazer isso, ao mesmo tempo em que atualiza a trama para novas gerações, em um novo mundo. 


Fique para a cena pós-créditos.










Título Original: Saban’s Power Rangers

Direção: Dean Israelite

Elenco: Elizabeth Banks, Naomi Scott, RJ Cyler, Becky G., Anjali Jay, Ludi Lin, Dacre Montgomery, Bill Hader e Bryan Cranston.

Sinopse: o filme acompanha a trajetória de cinco adolescentes comuns, que descobrem dons extraordinários quando eles percebem que a sua pequena cidade, Angel Grove, e o mundo inteiro está a beira de ser extinto por uma ameaça alienígena. Escolhidos pelo destino, os jovens heróis descobrem rapidamente que eles são os únicos que podem salvar o planeta. Mas, para isso, eles terão que superar seus problemas da vida real e se unir como os Power Rangers.

Trailer:







  





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