Crítica: T2 Trainspotting (2017, de Danny Boyle)

T2 Trainspotting é a continuação de Trainspotting – Sem Limites de 1996, e conta a história de Mark Renton (Ewan McGregor) voltando para Edimburgo, 20 anos após ter traído seus amigos. 

A obra é inspirada, assim como o primeiro filme, em um livro do escritor Irvine Welsh (aliás, confere aqui outros filmes inspirado na obra dele) chamado Porno, que foi escrito em 2002. 

Dada as devidas apresentações, devo dizer que é sempre considerado muito arriscado fazer uma continuação para filmes tão bons, e, principalmente mais de 20 anos depois. Ainda mais, levando em conta o que significa esta película: o filme de 1996 não é um blockbuster que é pensado desde o começo para ter 2, 3 ou mais filmes dentro do mesmo cânone de personagens. E mesmo o seu sucesso comercial, que arrecadou, apenas no Reino Unido, 72 milhões de libras (custou U$$ 1,5 milhões), não foi motivo para que a equipe responsável pela aposta certeira encaixasse um filme na sequência só para levantar um dinheiro a mais. E seu sucesso inquestionável pela crítica fez com que o filme e seus personagens fossem cultuados pelo mundo pop atual. 


Portanto, fica claro que o ar de “novo-clássico” causou um receio que permeou toda a continuação, travando a narrativa em alguns pontos.  

Mas é óbvio
que não tinha como investir nessa continuação, sem respeitar exacerbadamente
sua origem e todo o clima único que permeava a obra de 1996, e, de uma forma
extremamente bem feita, foi respeitada toda a história.

O novo filme traz os personagens para uma realidade atual, mas os mantém com as características que os tornaram um ótimo grupo em tela anteriormente. É como se os 20 anos passados entre uma história e outra, não tivessem afetado em praticamente nada a maturidade deles. 

Partindo do princípio que todos que estão lendo esta  crítica assistiram ao primeiro filme, haverá alguns spoilers sobre a primeira história durante a análise. (Se não assistiu ainda, tá esperando o que?? O filme tá na rede de Streaming mais próxima de você! Corre lá e aproveita!)

Pois bem, no ponto inicial, Spud é o único que ainda se mantém viciado em heroína e continua o mesmo atrapalhado de sempre, passando por algumas rehabs, tentando arranjar algum emprego e tentando largar a droga sem sucesso. 

Franco Begbie está preso nestes últimos 20 anos, por motivos que não são sabidos (no começo do filme), e tenta sem sucesso um recurso na justiça para sair da prisão. Begbie nutre um ódio enorme por Mark, por ele ter fugido com todo o dinheiro da venda da heroína no passado, e como seu ex-colega Spud, não mudou quase nada nas últimas duas décadas e  mantém seu espírito brigão e caricato dos outros tempos.


Já Sick Boy, que agora é conhecido pelo nome de batismo Simon, herdou um bar que serve de fachada para os seus empreendimentos com prostitutas em Edimburgo. Cada vez mais viciado em cocaína, Simon nutre um grande remorso pelo acontecido, mas não remói este trauma de forma aparente. 

O protagonista Mark Renton, volta para sua cidade tentando se desculpar com os amigos, após, aparentemente, ter vivido este tempo muito bem em Amsterdã. Desde o começo do filme, Ewan McGregor traz um tom mais centrado pro seu personagem que o de seus colegas, aquele típico cara na escola que estava junto nos rolês, mas sempre conseguia se safar.


O segundo filme fala mais de amizade que o primeiro, e seus 117 minutos se dão exatamente através do desenrolar da nova união do grupo. O ponto sóbrio que canaliza estas amizades fica a cargo da personagem Veronika, interpretada pela atriz pouco conhecida, Anjela Nedyakolva, que começa o filme num relacionamento “esquisito” com o personagem de Sick Boy.


Tirando o fato novo com a personagem Veronika, e  algumas linguagens vanguardistas (um pouco deslocadas, do contexto do filme, diga-se de passagem) o  filme é 90% nostálgico e admite isso respeitosamente, repetindo alguns planos propositalmente de seu antecessor e fazendo toda a devida homenagem que deveria ser feita. Mas o que mais impressiona, é a nova ressignificação de efeitos especiais por parte da equipe. Se  no primeiro longa usa-se destes efeitos para deixar o clima mais sombrio e surreal na visão de Mark Renton, como na parte que ele mergulha na privada mais suja de toda a Escócia, ou para colocar um bebê morto caminhando no teto do quarto do protagonista durante uma abstinência, os detalhes em T2 Trainspotting são meramente artísticos, como mostrar um elevador subindo por fora da parede, ou assinaturas de luz no ar durante uma cena em que não se pede esse tipo de recurso.


No mais, a película trabalha o bromance entre seus personagens de uma forma ainda mais cativante que no primeiro longa, é como se, ao decidir fazer o segundo filme, o diretor Danny Boyle, durante as suas repetidas rememorações deste filme, tenha dado prioridade majoritariamente a amizade. 

 
Se liguem no olhar da vaca no canto esquerdo da tela
<~
O tom da película, é claro que
tenta manter o ritmo intenso e encantador, que foi o que realmente fez a
experiência da primeira obra ser completa. Mas, infelizmente, dá para sentir
neste filme que as coisas não funcionam tão bem assim. Claro que o famoso montador, Jon Harris (que também editou  Kick-Ass: Quebrando TudoKingsman:
Serviço Secreto 
e o indicado ao Oscar 127 Horas, além
de muitos outros filmes populares para a atual geração) fez um trabalho
muito bom, mas pecou na inserção de cenas desconexas em dois pontos centrais
do filme, deixando-o muito abaixo da experiência proporcionada pelo editor
japonês Masahiro Hirakubo, responsável pela perfeição na montagem do primeiro
filme. 

O roteiro trabalha bem seus personagens
e tem sequências excelentes, que são muito bem dirigidas por Danny Boyle, que
ainda consegue inserir um trabalho discreto de metalinguagem durante a
narrativa. Mas, por se tratar de uma continuação tão presa aos princípios da
primeira obra, não consegue entregar nada de muito surpreendente.

Mas no apanhado geral, e,
principalmente pelo fato de ser uma continuação de um filme que não precisaria,
necessariamente, dessa sequência, o filme foi ótimo e, com certeza, deixa
o espectador com menos medo de uma possível terceira adaptação para esses
personagens no cinema. 



T2 Trainspotting me deixou animado ao sair do cinema. Apesar de suas
pequenas falhas e de ficar muito abaixo na injusta comparação com o primeiro
filme, certamente será uma das melhores películas lançadas neste ano.

Mas agora que empolguei com a ideia de
um T3, quero também que a falta de ideia original no grande cinema
nos traga um Curtindo a Vida Adoidado 2Amélie Poulain 2Clube
da Luta 2
Laranja Mecânica 2, ou até mesmo, por que não, um DONNIE
DARKO 2
(Ah é, esse já tem 🙁 ). Desempolguei.

Mas é certo que, após a saída do
cinema, todos vocês vão querer ser turistas do seu próprio passado!


Título Original: T2 Trainspotting

Direção: Danny Boyle

Elenco: Ewan McGregor, Ewen Bremner, Jonny Lee Miller, Robert Carlyle, Anjela Nedyalkova, Shirley Henderson, Scot Greenan, Irvine Welsh,  

Sinopse: Renton (Ewan McGregor) retorna à cidade natal depois de vinte anos de ausência. Hoje, ele é um homem novo, com um emprego fixo e livre das drogas. Os amigos não tiveram a mesma sorte: Sick Boy (Jonny Lee Miller) comanda um comércio fracassado, Spud (Ewen Bremner) continua dependente de heroína e Begbie (Robert Carlyle) está na prisão. Aos poucos, Renton revela que sua realidade não é tão positiva quanto ele mostrava, e volta a praticar os crimes de antigamente. Sequência de Trainspotting – Sem Limites (1996), inspirada no livro “Porno”, de Irvine Welsh.

TRAILER



E quanto a vocês, o que acharam desse filme? Foi uma
continuação digna? Qual outro clássico vocês acham que Hollywood poderia tentar
fazer um continuação? Deixa aqui em baixo nos comentários!

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