Especial: VIKINGS (2013 – 2017)

A série gravada na Irlanda e produzida pelo History Channel, traz o drama histórico dos escandinavos e nos apresenta ao mundo desses comerciantes, guerreiros, exploradores e apaixonados nórdicos a partir do seu dia a dia. Vikings é aquele tipo de série que você acha que sabe o que está por vir. Violência, traição e etc. Mas além de tudo isso, a série que pode parecer meio fantasiosa, é na verdade baseada em histórias reais de vikings que viveram naquela época. Vem ler um pouco sobre a série, a história e seus personagens tão surpreendentes.


ATENÇÃO: SE VOCÊ NÃO TERMINOU TODOS OS EPISÓDIOS NÃO LEIA. CONTÉM SPOILERS!


Primeiro preciso dizer que depois que você passa do terceiro episódio, já era. Quando você perceber já passou horas e horas assistindo e com muito custo deixa para depois. Aconteceu comigo inclusive. O fascínio da série tem muito a ver com a força dos personagens, literalmente. Nórdicos com seus costumes poucos sutis, deuses que olham por eles e até um Vidente, sem contar os boys magia. Por falar em deuses, nosso protagonista Ragnar Lothbrok se diz o próprio descendente de Odin, e porque não?


Nascido e criado fazendeiro, o jovem Ragnar (Travis Fimmel) tinha diversos sonhos em conhecer e conquistar novas terras além das que seu povo já havia visto. Casado com a bela Lagertha (Katheryn Winnick), tem dois filhos: Bjorn (Nathan O’Toole) e Gyda (Ruby O’Leary). Secretamente resolve construir barcos com seu peculiar amigo Floki (Gustaf Skarsgard). Tais barcos acabam se tornando uma nova geração de dracáres (navio dragão), sendo mais rápidos que os antigos. Ragnar então desafia o governante local e sai em incursão para a Inglaterra. Com o apoio do seu irmão Rollo (Clive Standen) – a gente não gosta dele – o comboio consegue realizar os primeiros saques em Nortumbria, onde, além de ouro e prata, Ragnar volta com um novo escravo, o monge Athelstan (George Blagden).

Voltando para casa, a inimizade entre Ragnar e o Conde Haraldson (Gabriel Byrne) só aumenta, acarretando no assassinato do conde pelas mãos do próprio Ragnar, que então sucede seu posto. Enquanto isso, Athestan está cada vez mais enraizado na cultura nórdica e aos poucos Ragnar e ele criam uma estranha e forte amizade. Ao ouvir as histórias, o Rei Horik (Donal Logue) vai visitá-lo, Ragnar então jura lealdade ao rei e decide ajudá-lo em uma disputa por terras contra Jarl Borg (Thorbjørn Harr). Nesse meio tempo ele acaba seduzido pela Princesa Aslaug (Alyssa Sutherland) – definitivamente nós não gostamos dela! – mas é claro que nada termina bem. Tomado por inveja, Rollo coloca as manguinhas de fora e acaba traindo o irmão.

Tenho para mim que é aí que tudo começa a dar errado.

Aslaug aparece das cinzas e pior, grávida – só prestou para fazer filho, quatro para ser mais precisa – Lagertha fica p* quando Ragnar sugere ter duas esposas, ela então vai embora e Bjorn decide ir com ela. (A gente começa a gostar cada vez mais da Lagertha a partir daqui). Rollo vira a casaca contra Ragnar, ajudando Jarl Borg (Thorbjørn Harr). Foram minutos de puro sangue e luta incessante de ambos os lados, onde aparentemente ninguém ia ceder, Ragnar então usa a lábia e faz todos pararem de lutar e melhor, juntando ambos os lados para sua causa de ”conquistar novas terras”. Rollo é perdoado, isso mesmo, perdoado! E então começa as intrigas entre Horik, Borg e Ragnar. É traição para todo lado, plano em cima de plano para derrubar o próximo, reviravoltas e é claro, muito sangue. E para completar conhecemos outro rei, dessa vez o Rei Ecbert (Linus Roache), de Wessex, que acaba fechando um acordo cheio de boas intenções com Ragnar, mas será mesmo?

Após a ida de Lagertha, Ragnar parece perder um pedaço de si mesmo, porque, querendo ou não, ela era uma importante aliada e a voz de razão em meio a toda sua loucura. Ele desanda a tal ponto que acaba sendo levado pelo espirito de desconfiança de Horik com o acordo de unir-se a Jarl Borg para atacar a Inglaterra e acaba desfazendo o acordo. O estranho é ele achar que vai ficar por isso mesmo, quando a gente sabe que não vai. Afinal já estamos no meio da segunda temporada e até nós sabemos como eles lidam com coisas. Jarl Borg então impiedosamente em retaliação volta enquanto o mesmo está com Horik atacando a Inglaterra e acaba com suas terras, fazendo com que a família de Ragnar vá para as montanhas com a ajuda de Rollo.


Interessante notar como Rollo ”supera” a sua queda após a traição e tem essa chance de se mostrar útil ao irmão e ainda provar sua lealdade. Apesar de bruto, ele se mostra bastante astuto. Neste ponto, percebemos muito mais a fundo os personagens e os que os move. Começamos a ficar mais ligados a eles e as suas crenças, aos seus deuses e aos destinos que são traçados. Athelstan agora é uma peça chave na trama, apesar de muitos não confiarem nele pelo seu passado cristão, principalmente Floki, que o odeia, Ragnar o vê como um irmão e seu melhor amigo, sendo a única pessoa que ele de fato confia.

É claro que a internet não perdoou.

Na terceira temporada, Ragnar é Rei e está com grandes responsabilidades agora. Sua busca incessante em novas terras e novos caminhos não é mais um sonho. Ragnar é visto como um visionário e ninguém duvida mais de suas escolhas, apesar de parecerem impossíveis. Athelstan está cada vez mais perdido em suas crenças: acreditar em Jesus, em Odin ou nos dois? Cada qual provando sua existência a esse antigo monge. É como se ele lutasse para acreditar que os dois são possíveis de co-existir. A cena do festival onde, pela primeira vez vemos os nove sacrifícios é muito significativa tanto para ele como para nós. Dá a impressão que nós somos como o Athelstan, cristãos perdidos em um mundo novo onde nem tudo é o que parece. Os sacríficos que eles fazem são muito bem vindos e visto de bom grado por todos. Tais sacríficos servem para, de certa forma, purificá-los em seus próprios sacríficos pessoais, em suas escolhas, na batalha ou no que quer que seja. Os purificam do medo e da incerteza. Os deixam mais fortes.

Mais uma vez, Athelstan é de grande ajuda a Ragnar, já que o mesmo conta sobre uma cidade tão maravilhosa e ao mesmo tempo, impenetrável. Paris é a próxima parada dos nórdicos. Porém, Athelstan está cada vez mais em conflito consigo mesmo e acaba por ter uma epifania acreditando piamente que Jesus o escolheu novamente. Ao contar tudo a Ragnar, ele o aceita da mesma forma que antes e respeita sua escolha, entretanto Floki o vê como um inimigo. “Como uma cristão pode ser visto como um amigo?”. “Como Ragnar não vê o perigo iminente?”. Bom, nesse momento Floki está impossível, sua loucura varia ao extremo e ninguém o suporta mais, nem nós, nem Ragnar, nem a santa Helga (Maude Hirsti). Acho que dá para imaginar o que acontece depois…

LEMBRANDO: VOCÊ ESTÁ LENDO OS SPOILERS PORQUE QUER!

A morte de Athelstan destrói de vez seu espírito e deixa Ragnar profundamente atormentado. Ao partir para Paris, dessa vez ele conta com a ajuda de Lagertha que, a essa altura, é Condessa e com seu filho Bjorn (Alexander Ludwig).


Lagertha sempre foi um personagem complexo, suas emoções dificilmente atrapalham suas escolhas e sua razão e inteligencia são o seu grande forte. É corajosa e não foge dos problemas quando bate de frente com eles. Ao mesmo tempo que é gentil ela é capaz de destruir qualquer um que atravesse seu caminho. Sua melhor qualidade talvez seja ser mãe, acima de tudo e também sua maior frustração. Após conseguir conquistar seu lugar e suas terras, ela entende que nem só de viagens e conquistas se vive. Preferindo muitas vezes ficar onde está para cuidar do que já é seu. Ela entende que para trás ficam pessoas muitas vezes desprotegidas e ela pega para si a responsabilidade de cuidar delas. Já para Ragnar as viagens, más escolhas e o peso da coroa acabaram destruindo ele. Sem contar aquela rainha fajuta que ele acabou sendo obrigado a casar (Aslaug) que não o ajudava em nada, simplesmente queria um posto onde todos as respeitassem – ou não.

Nessa temporada fica cada vez mais nítido que o que realmente move Floki é seu amor pelos deuses, a necessidade de ser útil ao seu povo é maior do que a própria felicidade, como ele disse a Helga ”ele estava sufocado com tanta felicidade”, preferindo então largar tudo, sua casa, família e estabilidade para lutar em novas batalhas, podendo perder tudo. O que de fato aconteceu por um tempo. Floki é inflexível quanto aos costumes vikings numa época onde cristianismo também é uma forma de diplomacia. Diplomacia que Ragnar entende bem, entende inclusive que o nosso Deus e os deuses deles não são tão diferentes, algo impensável para todo o restante. Ragnar começa a entender que com o tempo, conquistar novas terras, conhecer novas culturas o fazem absorver esse conhecimento também. Antes era Athelstan que carregava o dilema moral, agora os papéis se invertem.



A quarta temporada foi só ladeira a baixo para Ragnar. Diferente das outras que morriam em 10 episódios, essa vai contar com o total de 20! Tudo culpa do Athelstan? Não sabemos, o fato é que para variar Rollo trai todo mundo e vai viver com o inimigo. Mas a gente já sabia, porque o Vidente (John Kavanagh) nos contou a profecia. Temos um pouco de tudo acontecendo: Floki finalmente é preso pela morte do monge – meio sem querer, mas foi. Rollo está mais do que nunca agregado a cultura parisiense, conseguindo o que sempre quis. Respeito e fama, ganhou uma esposa de quebra. Ragnar continua com o foco central da história, mas outros personagens começam a ganhar espaço. De fato, o mais interessante seja o seu filho mais novo Ivar – O Sem Ossos, também conhecido como ‘O Capiroto’. Desde criança se mostra violento e com um comportamento bizarro em comparação as outras crianças e a coisa só piora depois de crescido. Ragnar começa uma ”amizade” com uma nova escrava, Yidu (Dianne Doan), que apresenta a ele um ”remédio” para a mente. Estou até hoje querendo saber o que era aquilo, provavelmente algum tipo de ópio talvez, porque Ragnar começou a ter umas viagens muito loucas e ter visões e aos poucos, acabou viciado naquilo. Em consequência, seu povo não acredita mais tão cegamente no seu julgamento e começamos a ver uma possível ascensão de Bjorn nesse momento.





Nessa temporada é explorado a relação dos personagens com o Deus cristão, pois nas passadas, sempre aprendemos ou víamos como os vikings eram em relação a seus deuses e em comparação dos seus deuses ao Deus cristão. Deus torna-se onipresente até mesmo para um Viking que deixa seu lado arredio por crer em Odin e passa a aceitar de bom grado as bençãos que agora ele tem. Rollo finalmente consegue vencer o irmão em batalha e isso é o fim para Ragnar. Muitos anos depois, Kattegat agora é um centro comercial muito forte e importante para a região e com o sumiço de Ragnar quem toma conta agora são seus filhos Ivar (Alex Høgh Andersen), Sigurd (David Lindström), Ubbe (Jordan Patrick Smith), Hvitserk (Marco Ilsø) e Bjorn que está pronto para ir para o Mar Mediterrâneo quando Ragnar reaparece com a ideia fixa de viajar para a Inglaterra. No fim, cada um vai para o seu lado e Lagertha aproveita a oportunidade para tomar de volta sua terra e sua casa de Aslaug, que mesmo se entregando, não é perdoada.

Para evitar maiores spoilers, só vou dizer que me senti assim no final do episódio. Entendedores, entenderão.

Entendemos finalmente que Ragnar, por trás de toda sua ”derrota” e perdição vai para a Inglaterra a fim de concretizar a profecia de sua morte, mas como sempre, ele nunca faz nada sem ter um plano, por mais estranho que pareça. Inclusive ele estava cheio de moral, tanto que o próprio Odin foi pessoalmente dar a noticia de sua morte aos filhos. Respondendo a pergunta de Ragnar antes dele chegar a Valhalla “Como os porquinhos grunhirão quando souberem como o velho javali sofreu?” Eu te respondo com um simples “ÉPICO!”



Agora só nos resta esperar o último episódio da 4ª Temporada para sofrer mais um pouco e sonhar com a 5ª Temporada.



Curiosidades sobre a história que nem todo mundo sabe:

*Ragnar Lothbrok, o fazendeiro que se se torna rei na Escandinávia do século 9, provavelmente é uma lenda. Como os nórdicos não deixaram relatos escritos, sua mitologia atravessou os séculos na voz de poetas, os skalds, que criavam narrativas coloridas das aventuras dos guerreiros para celebrar suas vitórias. Mais tarde, esses poemas abasteceram as “sagas”, que são os relatos épicos redigidos na Islândia do século 13, ou seja, quando o período viking já havia terminado. De acordo com a pesquisadora Elizabeth Rowe, da Universidade de Cambridge, que estudou a lenda de Ragnar, o herói pode ter nascido entre 808 e 812. Em 841. Porém, outros dizem que Ragnar teria comandado a imensa frota de navios que atacou e saqueou Paris em 845. Por ser uma época muito, muito distante então não é possível precisar a veracidade dos acontecimentos e se todos eles pertenceram de fato à Ragnar. Seus feitos podem ser associados a outras fontes historicamente corretas como o Rei Horik I, Rei Reginfrid, um rei que governava parte da Dinamarca e entrou em conflito com Harald Klak, o “Reginherus” que atacou Paris na metade do século IX, Ragnall ua Ímair dos Anais Irlandeses, e, por fim, o pai dos líderes Vikings que invadiram a Inglaterra com o grande exército pagão em 865.


*Björn Ironside, que seria um desses filhos, é um personagem histórico mesmo. Ele fez saques memoráveis no Mar Mediterrâneo entre os anos de 859 e 862. Um dos relatos conta que Björn chegou à cidade italiana de Pisa. Depois de saqueá-la, seguiram terra adentro até outra cidade, Luna – e achou que tivesse chegado a Roma. Para conseguir entrar na cidade, Björn mandou emissários inventarem a história de que os vikings aportados ali eram exilados em busca de comida e de um enterro cristão para seu chefe morto. A população permitiu a passagem do caixão até que o capitão de Björn, Hastein saltou lá de dentro e saqueou a cidade com seu bando. Quando descobriram Luna não era Roma, mandaram matar todos os homens do vilarejo. Mesmo tendo retornado com uma esquadra minguada dessa expedição mediterrânea, Björn ainda se aventurou em saques pela Inglaterra e França, sempre saindo ileso – o filho de Ragnar teria essa incrível capacidade de sobreviver a batalhas sangrentas, daí o apelido “Flanco de Ferro”. Björn retornou à Escandinávia e assumiu o reino de Uppsala (na atual Suécia).


*Ivarr the Boneless, foi o mais célebre dos reis “filhos de Ragnar”. A origem do apelido “sem ossos” é incerta – o mais aceito é que realmente faça alusão a alguma má formação física, seja de nascença, como a série mostra, seja por alguma doença degenerativa (como a miastenia, que aflige Stephen Hawking). Seja como for, tinha a fama de ter braços tão fortes que suas flechas seriam mais poderosas que as dos companheiros. Ivarr liderou um exército que invadiu a Grã-Bretanha em 865 e se estabeleceu em York, norte da Inglaterra. Depois ainda dominou Dublin, assumindo ali o posto de rei.


*Rollo era grande mesmo. As sagas o retratam como um homem tão corpulento que “um cavalo nem podia carregar”. “Rollo”, por sinal, é uma latinizaçnao do nome original: Hrólf. Bom, Hrólf invadiu a França e, em 911, chegou a Paris navegando pelo rio Sena. Quando os franceses contra-atacaram, o comandante viking tinha matado todos os cavalos, vacas e animais que encontrara. Construiu uma barreira com os corpos empilhados, e o cheiro do sangue amedrontou os cavalos de seus adversários, que recuaram. Foi nesse momento que o rei francês sugeriu um acordo: os invasores podiam ficar na região, mas a defenderiam de outros ataques dos homens do Norte. Hrólf foi convertido ao cristianismo e rebatizado como Rollo, assumindo a região do norte da França conhecida como Normandia, justamente por causa da origem dos novos habitantes. Rollo casou com a filha do rei Charles 3º, e seu tataraneto William, o Conquistador, foi o primeiro rei normando da Inglaterra. Por isso, Rollo seria a origem indireta de toda a monarquia europeia, inclusive da atual família real britânica. Na série Vikings, Rollo é irmão de Ragnar, mas isso não tem nem na mitologia nórdica: foi só licença poética dos roteiristas mesmo.


*Corvos aparecem de forma constante na série. Eles tiveram grande importância cultural e religiosa na sociedade nórdica antiga. Eram vistos como os agentes de Odin – o qual diziam possuir dois corvos: Hugin (que significa “Pensamento”) e Munin (Memória) que voavam buscando informações. Os vikings acreditavam que quando os corvos apareciam, Odin podia vê-los.


*Na abertura da série, as mulheres que aparecem são, supostamente, as 9 filhas de Ran – as personificações das ondas. A abertura também mostraria a passagem de um viking para a morte, deixando para trás ouro e armas, que flutuam em torno de seu corpo.



TRAILER DO EPISÓDIO 20:


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