Crítica: Terra De Minas (2016, de Martin Pieter Zandvliet)

A academia é engraçada. Eles adoram quando os filmes hollywoodianos são felizes, otimistas e pra cima. Mas é muito difícil – quase impossível – que um filme estrangeiro vença o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro sendo feliz, otimista e pra cima. Este excelente filme é muito triste e depressivo, muito bem feito e tem grandes chances de ser o vencedor da categoria de Melhor Filme Estrangeiro.







Under Sandet (ou Terra de Minas) conta a história de um grupo de jovens soldados que recebe a missão de desarmar as minas que tinham sido implantadas pelos alemães durante a segunda guerra mundial.

A direção do filme é do dinamarquês Martin Pieter Zandvliet, e ele demonstra um grande controle da história que conta. Sem poupar o público de se sentir mal, o diretor mostra algumas cenas que são de cortar o coração de quem assiste. As cenas são cruas e sem uma trilha sonora triste para manipular o público. Você se sente muito mal e a maneira com que as cenas são conduzidas exerce um papel importantíssimo nesse sentido. Uma cena em particular é extremamente triste, não só pelo que acontece mas também pela reação do soldado que foi a vítima do acidente, que começa a gritar desesperadamente por sua mãe e por seu lar. Há uma cena no final que é filmada em um plano aberto lateral que te mostra a geografia completa do local e o quão distante um soldado está de salvar o outro, e é uma cena sufocantemente tensa por causa da maneira que o diretor escolheu filmar a cena.

O diretor usa alguns recursos que são constantemente usados por muitos diretores mas quase sempre funcionam, como a câmera tremida para mostrar a desestabilidade mental de um soldado. Há uma cena muito boa aonde um dos soldados está sendo agredido pelo sargento e o diretor usa um travelling mostrando a reação de outros soldados para aquilo que está acontecendo.

A primeira cena serve muito bem para estabelecer o tom do filme e também para mostrar a arrogância absurda e crueldade do sargento Carl, sujeito encarnado com brilhantismo por Roland Moller. No começo eu achei que ele seria apenas mais um sargento cruel que serve para intimidar os soldados – há algumas cenas que me lembraram a interpretação de R. Lee Ermey como o sargento Hartman no clássico Nascido Para Matar, de Stanley Kubrick, só que nada engraçada e muito mais pesada -, mas o filme revela um arco muito interessante e o tira da categoria de apenas um sargento malvado – apesar de algumas cenas dele serem muito revoltantes. O ator aborda seu personagem com imensa sensibilidade, priorizando o andamento do filme e sem tentar chamar todas as atenções para si mesmo.

O outro destaque do filme é Louis Hoffman. Ele interpreta o soldado mais corajoso entre todos eles, o que chega mais perto de enfrentar o soldado Carl. Hoffman convence perfeitamente e se contém muito bem, o que é necessário para o funcionamento de algumas cenas. Há uma em especial em que seu personagem quer conversar com o sargento e mostra a revolta que surge com a resposta de seu superior mesmo ficando com a mesma expressão de quando foi falar com o sargento, pois não pode mostrar um sentimento assim para ele.

O filme tem algumas cenas que são muito pesadas, como a cena aonde os soldados tem que beber a água do mar para matar a sede ou apelam para comida estragada. Há uma cena no final que é filmada em um plano aberto lateral que te mostra a geografia completa do local e o quão distante um soldado está de salvar o outro, e é uma cena sufocantemente tensa por causa da maneira que o diretor escolheu filmar a cena.

O filme tem um grande valor de produção. A direção de arte, figurinos e reconstrução de época são perfeitos e não ficam devendo em nada às grandes produções de Hollywood. A trilha sonora é sutil e junto com a belíssima cinematografia tem um papel importantíssimo na construção do tom do filme.

O filme tem uma cena memorável, que é quando o sargento Carl faz um dos soldados de cachorro. É uma sequência extremamente bem escrita e Roland Moller tem seu ápice aqui. Ele consegue mostrar o sentimento de Carl com perfeição, é uma cena digna de aplausos.

A cena mais importante do filme é uma das coisas mais surpreendentes do cinema em 2016 sem a menor sombra de dúvida. É algo que em momento algum passa pela cabeça do espectador. Assim como muitas outras cenas do filme, não é nada melodramática, é muito cru. Eu adoro o fato de que o filme não explica o que deu errado para o acontecimento da tal cena. Primeiramente, não é importante saber por que isso aconteceu, é importante saber que isso aconteceu e só. Segundo, o público pode deduzir o que houve.

O final do filme é excelente, ele não dá esperanças de que aquilo pode acabar logo e segue o tom do filme.

O filme tem dois problemas: o primeiro é que a evolução do sargento Carl poderia ser muito mais bem detalhada, e o segundo é que a caracterização dos outros soldados deveria ser existente. O único que tem um arco é Ernst, interpretado por Louis Hoffman.

Terra de Minas é um filme muito bem dirigido, muito bem escrito, com duas excelentes interpretações – uma delas brilhante -, um valor de produção admirável e que tem boas chances no Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.




Título Original: Under Sandet


Direção: Martin Pieter Zandvliet


Elenco: Roland Moller, Louis Hoffman, Mikkel Folsgaard, Joel Basman, Laura Bro, Leon Seidel, August Carter, Tim Bülow, Oskar Bökelmann, Maximilian Beck

Sinopse: Um grupo de soldados alemães, outrora combatentes nazistas, recebem uma nova tarefa ao fim da Segunda Guerra Mundial: precisam escavar e remover com as próprias mãos 2 milhões de minas terrestres em ‘’terras inimigas’’, mesmo que alguns deles não tivessem sequer experiência na guerra, para compensar sua contribuição com o regime de Hitler.

TRAILER:




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