Crítica: Perfeitos Desconhecidos (2016, de Paolo Genovese)


Vencedor do prêmio David Di Donatello (considerado como sendo o Oscar italiano) de Melhor Filme de 2016, Perfeitos Desconhecidos aponta toda a praticidade da tecnologia presente em nossas vidas em detrimento da privacidade, mostrando a grande problemática de estendermos o nosso ser aos smartphones, que hoje, assim como dito em um dos diálogos do filme, tem a mesma significância de uma caixa preta, usada nos aviões para descobrir a causa de acidentes aéreos, desde que é nele que expomos praticamente toda nossa vida. Apesar da tecnologia ser a força motriz por trás do roteiro, já que ela é a “causa” dos problemas que não existiriam sem a presença dela, a maior crítica que podemos ver é com relação às próprias pessoas, que mesmo com um convívio significativo muitas vezes não as conhecemos realmente. O filme é uma comédia dramática que consegue prender o espectador apontando o elefante no meio da sala através de diálogos bem elaborados e situações um tanto quanto inusitadas, fazendo com que muitas vezes não saibamos muito bem como reagir.

Assim como a comédia escrita e dirigida, também por Paolo Genovese, Tutta Colpa di Freud, as relações humanas são o grande destaque do filme, mostrando as muitas personas que as pessoas adotam, principalmente hoje em dia, com as redes sociais, onde sua maioria de usuários cria alter-egos em forma de avatares, em prol da segurança da anonimidade, lhes permitindo assim expor suas vontades mais secretas e serem quem realmente são sem o risco de julgamento. 



O roteirista e diretor fala em uma entrevista da diferença entre as transgressões de antes e de hoje em dia. Antes para uma pessoa fazer algo errado ela tinha que tomar uma decisão que exigia um comprometimento maior por parte dela, quando hoje em dia, as transgressões se dividem em níveis que permeiam entre brincadeiras inocentes, envio de fotos pessoais até encontros que podem ser marcados em casa ou no trabalho de maneira muito mais simples e facilitada com qualquer um em qualquer lugar.




Em uma noite de eclipse, um grupo de velhos amigos, composto por três casais e um homem, decide se reunir para um jantar, para colocar a conversa em dia e observar o evento lunar. 
O local de encontro é a casa de um dos casais, Rocco e Eva, que possuem uma filha de 17 anos, cujo relacionamento que tem com a mãe é bastante ruim, o que é uma das grandes ironias do longa, visto que a mãe é psicóloga. Afinal, alguém que ganha a vida ajudando as pessoas com problemas pessoais não deveria ter dificuldades em ter uma boa relação com a única filha adolescente. Ao longo do filme, entre as muitas discussões abordadas, tais como temas sobre sexualidade, matrimônio, paternidade, família, mais de uma vez é levantada a questão sobre a psique de uma pessoa que deveria, em teoria, ser segura de si mesmo e ter um maior controle da própria vida por causa de seu campo de expertise.


Durante o jantar acontece a proposta que dá início a uma cadeia de eventos que são o grande atrativo do filme. Após uma série de discussões sobre a existência ou não de conversas comprometedoras nos aparelhos celulares dos presentes, Eva sugere que todas as mensagens e ligações recebidas naquela noite sejam divulgadas a todos na mesa. A partir desse momento a tensão no filme é estabelecida com maestria, fazendo com que nos sintamos realmente na mesa, ansiando a cada novo alerta do celular. Os planos mais fechados no rosto dos atores, evidenciando as expressões dos personagens a cada notificação, consegue te passar o desconforto sentido por eles. 


Por se passar em um único cenário, assim como acontece no Doze Homens e Uma Sentença, boa parte dos planos sequência são bastante longos, fornecendo continuidades muito bacanas com todos os elementos presentes. Quando por exemplo, um grupo ou outro muda de cômodo e ainda é possível ver uma outra parte da casa, seja a mesa de jantar ou a varanda, o evento fora do plano principal continua em ação, dando uma naturalidade muito grande a cena, principalmente por causa da trilha que é composta basicamente pelo som ambiente causado pelos talheres batendo, lembrando em alguns casos o Deus da Carnificina, do Polanski, no qual dois casais se reúnem em um apartamento para discutir um desentendimento de seus filhos na escola.

Perfeitos Desconhecidos é um filme que apesar de apresentar situações bem cômicas, que beiram o absurdo, consegue ter uma carga dramática bem grande, criando momentos bastante tensos. 




Título Original: Perfetti Sconosciuti


Direção: Paolo Genovese


Elenco: Marco Giallini, Anna Foglietta, Kasia Smutniak, Valerio Mastandrea, Edoardo Leo, Giuseppe Battiston, Alba Rohrwacher


Sinopse: Um grupo de amigos decide se encontrar em uma noite de eclipse para um jantar, quando um deles sugere que todas as ligações e mensagens recebidas sejam divulgadas entre eles. 

Trailer





E vocês? Já viram o filme? Comentem abaixo e digam o que acharam! 



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