Crítica: Snowden – Herói Ou Traidor (2016, de Oliver Stone)


Snowden conta a história de Edward Snowden, ex-funcionário terceirizado da Agência de Segurança dos Estados Unidos, que torna-se inimigo número um da nação ao divulgar a jornalistas uma série de documentos sigilosos que comprovam atos de espionagem praticados pelo governo norte-americano contra cidadãos comuns e lideranças internacionais.


O filme tem a direção do veterano Oliver Stone, responsável por filmes como Platoon, Nascido Em Quatro De Julho e JFK – A História Nunca Contada e ele consegue imprimir um ritmo rápido, que funciona durante quase todo o filme. Assim como na maioria de seus trabalhos, o diretor deixa claro que é um liberal de esquerda e, principalmente, anti-republicano, o que pode ser um problema para algumas pessoas. É o que eu sempre digo, temos que separar a arte do artista. Eu não sou nem liberal de esquerda e nem anti-republicano, mas isso não significa que eu tenho que odiar qualquer um que seja (e, claro, isso também se aplica a odiar alguém que seja anti-partido democrata ou conservador de direita).

Já que o roteiro também é escrito por Stone (em parceria com Kieran Fitzgerald), o cineasta se mostra confortável dentro do tema que trabalha. Ele sempre traz temas em seus filmes que tentam desconstruir a imagem de país perfeito que os Estados Unidos tem (Nascido Em Quatro De Julho é o melhor exemplo), e nesse filme ele faz isso com muito prazer.

Há algumas cenas engraçadas no começo do filme (como uma divertidíssima discussão entre Snowden e sua namorada Lindsay Mills sobre o, na época presidente americano, George W.Bush e o liberalismo presente na personalidade de Lindsay), e as cenas com Nicolas Cage.

O filme tem momentos espetaculares. Há três cenas em especial que são geniais, uma envolvendo uma descoberta de Snowden, contada pelo personagem de Rhys Evans em um telão, aonde o rosto de Levitt é filmado em plano detalhe (uma hora os olhos, outra hora a boca, outra hora tanto os olhos quanto a boca em um close ups extremos) e deixa o público extremamente apreensivo junto com o personagem. A outra é uma sequência feita em computador, que mostra um zoom dentro da webcam e mostra vários arquivos de pessoas normais e suas vidas pessoais sendo transformadas no final no olho de Edward Snowden. Oliver Stone é um diretor muito bom, sem dúvida alguma. E a última é uma cena bem perto do final do filme, aonde Snowden está falando sobre a esperança de que um dia as pessoas terão sua privacidade garantida, e o diretor mostra não ter esperança quanto a isso, escondendo o rosto do personagem atrás de um notebook.

A atuação de Joseph Gordon Levitt é fantástica. O ator entrega uma performance incrivelmente real, a voz dele é idêntica a do real Edward Snowden, e, fisicamente também está muito parecido com Snowden. Além disso, ele nos dá uma performance minimalista, sem exageros e extremamente verossímil. A aparição do real Edward Snowden no final do filme só faz isso ficar ainda mais claro.

As outras atuações do filme são competentes, mas ficam apagadas pela extraordinária performance de Levitt. Shailene Woodley está bem, mesmo sendo usada muito mais do que deveria. A história principal do filme não é a relação dela com Snowden, e sim as revelações dele para o mundo. Sem tanto tempo dela em tela, o filme poderia ser muito mais coeso. O personagem de Rhys Evans é bem genérico, mas o ator está bem e tem algumas cenas muito boas, como uma em que duvida da imensa capacidade de Snowden em criar um programa mega complexo em poucos minutos, e o diz “vamos ver aonde você estragou”. Eu, pessoalmente, tenho vontade de rir quando vejo o rosto de Nicolas Cage, mas consegui levar o personagem dele a sério, por incrível que pareça.

Eu gostei muito da trilha sonora do filme, passa um clima pesado que serve muito bem à narrativa. A fotografia (de Anthony Dod Mantle) é bonita. A montagem (de Lee Percy e Alex Márquez) é excepcional, a estrutura dela funciona muito bem como um filme que começa em seu final (isso não é um spoiler).

Outra cena que eu quero comentar é uma conversa que se torna briga entre Snowden e Lindsay. Quando eles estão conversando normalmente, a cena é sem cortes, Oliver Stone move a câmera ao passo em que cada um deles começa a falar, e isso mostra que eles estão na mesma “vibe”. Quando eles começam a brigar, a cena corta a cada vez em que um deles começa a falar, o que mostra que eles estão completamente separados, pelo menos naquela cena.

Mas o filme não chega lá. Falta força emocional para a narrativa, você só se importa com Edward Snowden, os outros personagens estão na narrativa mas você não liga para o que acontece com eles, é um filme totalmente sem força em seu roteiro. É um bom filme, mas ele fica devendo nessas questões.


Snowden é um filme tecnicamente perfeito. A direção é muito boa e cheia de metáforas, a fotografia é bonita, a trilha sonora funciona perfeitamente e a montagem é excelente. O roteiro não é forte o suficiente para fazer o filme ser realmente memorável. Foi um pouco decepcionante para mim. Mesmo assim, é um filme importante e bom, que deve ser visto por quem se interessa pelo tema e por quem é fã de Oliver Stone.

Título Original: Snowden

Direção: Oliver Stone

Elenco: Joseph Gordon Levitt, Shailene Woodley, Melissa Leo, Zachary Quinto, Rhys Efans, Tom Wilkinson, Nicolas Cage, Scott Eastwood

Sinopse: Ex-funcionário terceirizado da Agência de Segurança dos Estados Unidos, Edward Snowden torna-se inimigo número um da nação ao divulgar a jornalistas uma série de documentos sigilosos que comprovam atos de espionagem praticados pelo governo norte-americano contra cidadãos comuns e lideranças internacionais.


TRAILER:



E você, já assistiu a Snowden? O que achou? Gosta do trabalho de Oliver Stone? Qual o seu filme preferido do diretor? Deixe aqui o seu comentário e obrigado por ter lido.

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