Crítica: Taxi Driver (1976, de Martin Scorsese)


Taxi Driver em seu início nos apresenta à Travis Bickle, um veterano de guerra que sofre de insônia e decide virar um taxista no período da noite. “Passo as noites andando de ônibus, metrô. Pensei que se fosse para ficar assim, seria melhor ser pago por isso”. Essa é a motivação de Travis, uma coisa simples, assim como a história do filme. Mas não se engane, a produção é muito mais do que a história nos faz pensar.

O filme é dirigido por Martin Scorsese, e ele faz um trabalho excepcional. O diretor consegue fazer a narração em off não soar forçada, e ela tem um papel importantíssimo no filme, que é nos revelar o que o personagem pensa e como é o seu interior. Scorsese faz questão de nos mostrar a solidão de Travis por meio de movimentos de câmera, como um tracking shot horizontal, que não é tão grande, mas parece muito maior por nos mostrar o personagem andando na rua sozinho, deixar o foco apenas em Travis em uma situação em que ele está andando no meio de uma multidão, ou planos estáticos dele em seu táxi ou escrevendo seu diário.

A primeira parte do filme mostra a visão de Travis do mundo. Ele acha repugnante a maneira com que as pessoas tratam umas as outras, mas, ao mesmo tempo, diz que acredita que deveria ser como elas. Uma participação de Scorsese – como ator – muda o filme. É uma das melhores cenas da produção, e mostra a loucura que era a cidade de Nova York e sua população nos anos 70. Uma coisa chama muita atenção nessa cena – porém. O close-up extremo imediato no rosto de Travis quando o personagem de Scorsese cita a pistola Magnum.44. Isso mostra a atenção do personagem ao falar-se sobre armas, e – talvez – até certa paranóia dele quanto ao assunto. Parece que isso é a gota d’água para Travis decidir comprar sua arma.

O famoso uso da cor vermelha na filmografia do diretor também está presente. Em quase todas as cenas de Travis no taxi ouvindo ou assistindo coisas absurdas, o personagem fica com ódio e o vermelho se mostra muito presente, assim como quando aparece em seu campo de visão alguma pessoa que Travis não gosta – seja por causa de sua cor (o personagem é claramente racista) ou qualquer motivo -. Scorsese demonstra aqui um grande conhecimento da Nouvelle Vague e do cinema europeu em geral, usando um jogo de câmera (que, aliás, é excelente) que parece muito de filmes de Jean Luc Godard e vários jump-cuts.

A atuação de Robert De Niro é absolutamente perfeita. O ator – junto com o também excepcional roteiro escrito por Paul Schrader – constrói um personagem único. Mesmo sendo intolerante e preconceituoso, você gosta muito de Travis por entender sua visão, e – o mais importante -, se importa com ele. A abordagem de Robert De Niro não necessariamente nos faz sentir conectados com o personagem (até porque ele é um psicopata), mas você entende perfeitamente a paranóia social e o desprezo dele pela sociedade. É uma das atuações mais marcantes da história do cinema (e o mundo não sabia o que estava por vir 4 anos depois, em Touro Indomável).

Outra que está perfeita é Jodie Foster. Eu citei na minha crítica de O Silêncio Dos Inocentes (http://minhavisaodocinema.blogspot.com.br/2016/11/critica-o-silencio-dos-inocentes-1992.html) o fato de que Anthony Hopkins passa apenas 16 minutos no filme e rouba a cena. Aqui temos outro caso assim. É impossível pensar em Taxi Driver sem se lembrar de Iris, a prostituta de 12 anos interpretada brilhantemente por Foster. Chega a ser engraçado de tão absurdo que é ver como a personagem lida com o fato de ser quem é. Ela tem uma cena lindíssima e de peso emocional enorme com Harvey Keitel (também ótimo) perto do final do filme.

Taxi Driver é tecnicamente perfeito. A trilha sonora é maravilhosa, e não poderia se encaixar mais na narrativa. Na cena mais importante do filme (quem assistiu sabe do que estou falando) a trilha é praticamente uma versão sombria da música do saxofone, o que demonstra perfeitamente o que o filme e o personagem Travis se tornaram, muito mais do que apenas um cara solitário. A música sugere o que pode acontecer com alguém depressivo e solitário que não tem nada a perder. Depressão, aliás é um tema recorrente no filme, e isso é passado para o espectador. É um dos filmes mais sujos, podres, pesados e “down” da história do cinema.

O roteiro também é espetacular. Por meio de frases escritas no diário de Travis, nós vemos e entendemos sua visão de mundo como algo podre. O desenvolvimento do personagem e sua revolta crescente são feitos de maneira absolutamente genial. Por meio de pequenos gestos, você vê alguns sentimentos surgindo dentro dele, e isso te prepara para o que Travis pode fazer.

A cena mais importante do filme, já citada antes, é a cena de ação mais tensa da história do cinema. É engraçado ver como as cenas de ação nos filmes blockbuster são feitas com muitos cortes, câmera tremida e não fazem o público sentir nada. Aqui, a cena de ação que temos é dirigida de maneira brilhante, com cortes longos, e você fica na ponta da cadeira do primeiro até o último disparo que sai da pistola de Travis.

Taxi Driver é um dos maiores clássicos da história do cinema por causa de sua direção espetacular, seu roteiro excepcional, suas atuações geniais, sua perfeição técnica e sua trilha sonora memorável e marcante. É um filme que foi feito na hora certa. A onda da Nova Hollywood era fortíssima na época e Taxi Driver talvez seja o mais perfeito representante do cinema naquele período. Filmaço.

Título Original: Taxi Driver

Direção: Martin Scorsese

Elenco: Robert De Niro, Jodie Foster, Cybill Sheppard, Harvey Keitel, Albert Brooks, Leonard Harris, Peter Boyle, Diahnne Abbott, Victor Argo, Martin Scorsese, Harry Northup, Bob Maroff

Sinopse: Em Nova York, um veterano da Guerra do Vietnã, é um solitário no meio de uma grande metrópole que ele vagueia noite adentro. Assim começa a trabalhar como motorista de táxi no turno da noite e nele vai crescendo um sentimento de revolta pela miséria, o vício, a violência e a prostituição que estão sempre à sua volta.

TRAILER:


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