Crítica: A Luz Entre Oceanos (2016, de Derek Cianfrance)






A Luz Entre Oceanos é a adaptação do livro de M.L. Stedman, que narra a história de um homem, Tom Sherbourne (Michael Fassbender), que após retornar de batalha na Primeira Guerra Mundial, busca a solidão como zelador de um farol numa ilha isolada, a Janus Rock, onde vivem ele e sua recém-esposa Isabel (Alicia Vikander). Certo dia, eles resgatam um pequeno barco onde se encontra um bebê e decidem tomá-lo em seus cuidados, descobrindo, posteriormente, que poderia se tratar da filha perdida de Hannah (Rachel Weisz).



A trama que se sugere a partir dessa sinopse tem um caráter fortemente romântico e trágico, e o diretor Derek Cianfrance, dos ótimos e subestimados Blue Valentine (ganhou o péssimo título de Namorados Para Sempre no Brasil) e O Lugar Onde Tudo Termina, sabe o material que tem em mãos e decide contar a história fazendo uma reverência aos grandes dramas épicos da Literatura e do Cinema clássico.
Nos primeiros 10 ou 15 minutos de filme, fica claro que o tom e a linguagem adotados por Cianfrance vão propositalmente flertar com características dramáticas clássicas, como personagens enfrentando grandes dilemas morais e assumindo o teor melodramático na maior parte da projeção. Quando o rosto de Tom abre o primeiro plano do filme, vemos ali um homem que carrega um peso grande em sua expressão, e mesmo que os diálogos seguintes exponham claramente o motivo (lembrando que a sutileza não é uma das grandes características dos melodramas), ainda assim a narrativa trata de mostrar ao espectador, através de um clima emocional intenso, que o sujeito convive com um passado traumático.
A partir do momento em que Tom conhece Isabel, ele se abre e é possível notar que as ações passionais de um típico romântico farão parte de toda a história. O filme se torna mais caloroso, as cores mais evidentes e o tom narrativo acompanha a evolução dos personagens a partir dali. São nos momentos de paixão do casal que Cianfrance deixa evidente suas intenções narrativas através da linguagem que adota. Assim, quando Tom escreve uma carta de amor para Isabel, a montagem não hesita em investir na fusão clássica de suas imagens, remetendo a um clima tipicamente novelesco. A trilha sonora de Alexandre Desplat (vencedor do Oscar pela trilha de Grande Hotel Budapeste) também pontua com bastante evidência os momentos mais dramáticos e românticos do filme.
É de se admirar a coragem de Derek Cianfrance de contar a história dessa maneira. Esse tipo de épico dramático costuma ser relacionado a obras açucaradas demais e com uso exagerado de clichês. Qual a razão, portanto, de A Luz Entre Oceanos funcionar tão bem? Porque faz bem o que é necessário nesse subgênero: manipula intensamente as emoções do espectador. Neste momento, entra o fator mais importante de nossa ligação com a história: as atuações do casal principal.
Michael Fassbender exibe seu controle minimalista de sempre, mantendo o olhar de Tom sempre um pouco ressentido, mesmo nos momentos em que traduz ternura. É interessante ver que mesmo enxergando um certo tipo de dor em seu semblante, é notável que seja tão evidente seu amor por Isabel. 
Alicia Vikander é a grande catalisadora das emoções do filme. A linda atriz sueca se entrega mais uma vez com paixão a seu personagem, conferindo uma jovialidade e intensidade marcantes. É pela atuação comovente de Vikander que é possível sentir toda a angústia nos momentos trágicos que o casal atravessa. A química evidente entre os dois (talvez até por serem um casal na vida real) traduz na tela uma relação tenra e amorosa, o que será importante para que o impacto dos acontecimentos dramáticos, principalmente da metade do filme para frente, faça jus à reverência que se propõe.
E a base de A Luz Entre Oceanos é, de fato, o aspecto emocional, tanto dos personagens como do visual. A ilha de Janus Rock é o ambiente perfeito e expressivo para servir de paisagem para os arcos dramáticos do casal. Porém, é importante observar que mesmo as belas imagens da praia e do mar sendo inseridas em vários momentos do filme, elas funcionam porque Cianfrance dá a elas um papel dramático. Note, por exemplo, como o design de som confere uma trilha diegética, através dos fortes ruídos do mar e do vento, nos momentos de grande tensão emocional. Sempre que vemos Tom ou Isabel passarem por momentos expressivos, também vemos o farol em segundo plano, e este nos lembra que tudo no Cinema é também um símbolo. Neste caso, pode ser interpretado como um lugar de perda e da salvação, assim como sua própria função literal, pois é neste ambiente que a felicidade do casal é construída, cultivada e estremecida.
Quando Hannah entra na vida de Tom e Isabel, o roteiro de Cianfrance e Stedman se preocupa em não transformá-la numa simples intrusa, já que é perfeitamente possível entender as ações que ela toma durante o filme. Esta é a representação do aspecto trágico da história, sendo a responsável por intensificar ao máximo a tensão dramática. 
Não será surpresa se alguns espectadores saírem de A Luz Entre Oceanos decepcionados com o tom carregado do filme, mas trata-se de uma ótima história, e que talvez exija ainda mais que nos entreguemos aos nossos extremos emocionais. O Cinema é uma arte extremamente abrangente porque justamente nos dá a opção de sermos manipulados tanto pela frieza quanto pela emoção, e nesse segundo quesito, A Luz Entre Oceanos cumpre bem seu papel.
Título Original: The Light Between Oceans
Direção: Derek Cianfrance
Elenco: Alicia Vikander, Michael Fassbender, Rachel Weisz, Bryan Brown
Sinopse: Tom Sherbourne (Michael Fassbender), zelador de um farol, e sua mulher, Isabel (Alicia Vikander), vivem na costa Oeste da Austrália. Ao descobrirem uma bebê náufraga em um bote à deriva, decidem adotá-la. Mas à medida que a criança cresce, seus novos pais descobrem as consequências de assumir uma criança como sendo sua – especialmente após conhecerem uma mulher (Rachel Weisz), que perdeu sua bebezinha e seu marido no mar na mesma época em que Tom e Isabel adotaram sua filha.




Trailer



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