Crítica: Indignação (2016, de James Schamus)






Baseado no livro cult de Philip Roth, Indignação está em cartaz em circuito limitado, em poucos cinemas no Brasil. O drama traz a história de Marcus, jovem judeu que decide cursar a Universidade de Winesburg e lá se envolve com a jovem Olivia. O problema é que Marcus é ateu e com ideias muito próprias e Olivia é uma jovem traumatizada e sexualmente à frente de seu tempo. Isto gera uma repressão e anti-semitismo na conservadora faculdade.

O drama já merece pontos pela maneira em que apresenta a história, com três introduções. As duas primeiras são aleatórias, em tempos distintos, como se fossem dois parênteses iniciais. Aí se abre o terceiro parêntese, onde de fato a trama do filme discorre. Assim, podemos já dizer que este se fecha da mesma forma, encerrando as três linhas temporais, amarrando as pontas soltas. Esta inicialização e finalização funcionam bem. A direção de James Schamus é apenas correta. Ele já havia produzido e roteirizado filmes, mas aqui é sua estreia no comando de uma fita. Falta-lhe um pouco de força na condução da trama e enquadramentos de câmeras mais ousados. Tudo já é bem familiar de outros filmes. Em nenhum momento é amador ou ruim, é tudo bem conduzido, mas somente isso, somente correto. Já o roteiro é bom, embora nunca genial, apresenta diálogos muito interessantes, onde de forma cotidiana se discute as questões que o longa aborda.
Claro que aqui pode ficar certa decepção a quem espera um drama forte, provocante e marcante, que arrecadaria diversos prêmios no Oscar. Isso não ocorre, preferindo-se discutir assuntos importantes de maneira branda, calma e às vezes sutil. Aliás, sutileza é o que define este filme. Marcus é ateu, questionador, quieto e solitário por escolha e está bem assim. O jovem Logan Lerman (o herói título de Percy Jackson) interpreta de maneira didática o personagem. Nunca ruim, mas nunca bom o suficiente. O ator tem pouco carisma, mas talvez isso seja resultado do roteiro apresentar um protagonista um tanto apático, é a personalidade de Marcus, científico: imaturo e difícil de dialogar. Já a bela Sarah Gadon entrega uma Olivia com camadas. Tem seu lado doce e sedutor, um tanto malicioso, tem sua sexualidade definida, numa época que isso era vergonhoso para as mulheres. Mas ao mesmo tempo é fragilizada por traumas e problemas oriundos da família. Muito implicitamente, entende-se que ela era abusada pelo pai. Já a atriz Linda Emond é a mãe de Marcus e entrega a melhor personagem coadjuvante do longa. Em momentos chave ela entrega uma contida, mas grandiosa atuação, digna de ao menos concorrer a um prêmio coadjuvante. O restante do elenco está ok.




A grande força do filme está nas cenas de monólogos e debates, quase teatrais, onde discute-se as mais variadas questões que o longa traz. A cena em que Marcus confronta intelectualmente o reitor é sensacional. Longa (talvez uns 5 minutos), a cena mostra como alguém que é preconceituoso e tem certo destaque usa de palavras macias e uma falsa preocupação, para na verdade disseminar seu racismo. E as respostas de Marcus, sempre baseadas na inteligência, confrontam e irritam o reitor. 
Visualmente, o filme é comum, com um ou outro figurino e direção de arte inspirado. O mesmo se diz da trilha sonora, que não chega a causar emoção. A tal indignação que o título sugere é bastante abrangente: trata-se de todo e qualquer pensamento ou ação que qualquer uma das personagens tenha ou faça e que vai contra os costumes extremistas e hipócritas da sociedade na época. E de alguma forma todas personagens causam “indignações” umas nas outras. Como por exemplo quando a mãe de Marcus pensa em separar do marido, o que seria algo inaceitável, especialmente na comunidade dos judeus. Mas ao mesmo tempo ela não quer que seu filho se envolva com uma jovem problemática. Estes fatores trazem uma grande ambiguidade a todos na trama. Ao final do filme, podemos dizer que é um drama contido, que infelizmente não entrega todo potencial que tinha, um potencial que era gigante e podia cutucar duramente feridas inflamadas da sociedade. Falta um protagonista mais carismático e falta uma ousadia e um melhor trabalho nas características visuais e sonoras. Mas é um filme que nunca apela ao dramalhão, tem diálogos e debates contundentes, além de nos fazer refletir em todas aquelas questões que ainda hoje nos indignam. Vivemos em tempos em que cada vez mais se prega uma falsa “liberdade”. Mas velhos preconceitos nunca estiveram tão presentes quanto hoje.





Título Original: Indignation

Direção: James Schamus

Elenco: Ben Rosenfield, Logan Lerman, Sarah Gadon, Tracy Letts, Bryan Burton, Danny Burstein, Doris McCarthy, Eli Gelb, Joanne Baron, Linda Emond, Noah Robbins, Philip Ettinger, Pico Alexander, Steven Kaplan (III), Susan Varon, Tom Bair.

Sinopse: em 1951, Marcus (Logan Lerman), um jovem judeu de Nova Jersey, é um dos recém chegados à Universidade Winesburg, em Ohio. Entre novas experiências, Marcus também sofrerá com repressões e violência na conservadora faculdade, onde lida com anti- semitismo e repressão sexual. Local também em que um breve momento sua vida converge com a brilhante filha de um ex-aluno.



Trailer:





  










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