Crítica: Doutor Estranho (2016, de Scott Derrickson)



Chegou aos cinemas a nova superprodução da Marvel. ‘Doutor Estranho’ integrará a equipe dos Vingadores, nos próximos filmes onde Homem de Ferro, Capitão América e todos os heróis possíveis lutarão contra Thanos na Guerra Infinita no terceiro e quarto filmes de ‘Vingadores’. Mas por hora, aqui temos a história de origem da personagem. Se ‘Doutor Estranho’ infelizmente traz um roteiro que cai na mesmice que a Marvel vem fazendo, ao mesmo tempo apresenta-se como um dos mais simpáticos filmes de origem. E isto se deve a dois fatores específicos: um ótimo elenco e cenas de ação com efeitos especiais mirabolantes e bem posicionados.



Como já comentado, talvez o maior problema do longa está no seu roteiro, que pouco inova ou refresca. Há uma repetição do roteiro, um filme similar ao primeiro ‘Homem de Ferro’, além de vários clichês heroicos que você já viu várias vezes durante esta década. Temos a típica jornada do herói, antes um homem brilhante, um cirurgião talentoso, mas cujo ego o torna vazio e arrogante. Mas após uma tragédia, que nem é tão grave quanto poderia ser, mas que o incomoda intimamente, afetando diretamente seu orgulho, acompanhamos este homem quebrado na procura da cura. Ao chegar no Nepal, acaba encontrando na espiritualidade e misticismo da Anciã e seus seguidores, o caminho para se tornar algo mais. Assim como a mudança de Tony Stark no primeiro ‘Homem de Ferro’, temos a mudança de personalidade do nosso herói. Falando ainda no roteiro, este apresenta as típicas piadas bobas que toda esta franquia vem trazendo, o que às vezes funciona como alívio e descarga de tensão, mas às vezes joga contra e tira a seriedade e grandiosidade que a franquia propõe. Mas ao menos o alívio cômico aqui é mais controlado, às vezes implícito e de humor negro e que especialmente funcionam com a boa atuação de Benedict Cumberbatch, a boa atuação do coadjuvante Benedict Wong e a capa do herói, que tem vida própria e é praticamente uma personagem à parte. Esta última rende momentos inesperados. 


Como iniciamos a falar do elenco, dizemos que este é um grande acerto. Benedict Cumberbatch é de fato um grande ator, surpreendeu em ‘O Jogo da Imitação’ e aqui traz uma personagem forte. Nas cenas dramáticas, mostra sua experiência adquiridas em outras produção. Seu humor é irônico e funciona e nas cenas de ação também tem um desempenho acima da média. Um dos grandes que surgiu recentemente. Tilda Swinton é maravilhosa como a Anciã, uma atriz extremamente versátil em tudo que faz. Rachel McAdams pouco aparece ou importa dentro da trama, mas um detalhe sutil é que ela representa o lado humano do filme, sempre nas cenas do hospital, salvando vidas e falando seriamente com o Doutor Strange. No início, há uma discussão entre os dois que é uma das melhores cenas do filme, mostrando como o elenco leva a sério a história, por mais fantasiosa que se torne posteriormente. A personagem de Rachel e o cenário do hospital ainda remetem ao lado mais realista e humano das séries Marvel/Netflix (como ‘Demolidor’, ‘Jéssica Jone’ e ‘Luke Cage’), lembra da importância da vida e como a personagem de Claire (Rosario Dawson nas séries citadas) sempre tenta ajudar alguém. O já comentado Benedict Wong está bem divertido no seu papel e Chiwetel Ejiofor está apenas ok, mas o ator sempre parece fazer o mesmo personagem.

No elenco, o único fator que divide opiniões é o vilão, muito mal aproveitado, pois o ator Mads Mikkelsen é excelente, um dos mais subestimados da atualidade. O dinamarquês arrasa na série ‘Hannibal’ e no filmaço ‘A Caça’, talvez ele seja o melhor ator deste filme, porém mais uma vez a Marvel não soube aproveitar seu vilão, entregando apenas um personagem forte e rebelde em poderes, mas sem aprofundar suas motivações. Isto é algo que a Marvel tem tido dificuldades e que a DC está anos luz à frente, entregando vilões assustadores e melhor resolvidos. Mas os pontos positivos se sobressaem aos negativos. Embora ainda leve, é um dos filmes da Marvel que há mais mortes e presença de sangue (mesmo que sutil). É um filme levemente mais sombrio, aproveitando-se da história mística, com elementos orientais e espirituais. O roteiro ainda traz algumas discussões interessantes. Notaram que aqui é um cirurgião que salva vidas, mas ao se tornar um herói espiritual, mata quando necessário? Outro acerto foi trazer um diretor de terror, pois Scott Derrickson já havia feito o ótimo ‘Exorcismo de Emily Rose’ e os médios ‘A Entidade’ e ‘Livrai-nos do Mal’. Aqui o cineasta orquestra muito bem o misticismo do filme. Aliás, uma surpresa é a ação bem posicionada, algo raro nos filmes da Marvel. Por mais bons que os filmes sejam e tenham bastante lutas, no geral as cenas são mal dirigidas, faltava saber posicionar bem as personagens, usar ângulos de câmeras que privilegiassem elas e os cenários. Aqui há este bom posicionamento, privilegiando tudo no longa. Parabéns Derrickson, um diretor a se ficar de olho não apenas no terror, mas na ação, seguindo o caminho de James Wan, que migrou de ‘Invocação do Mal’ para o competente ‘Velozes e Furiosos 7’.


Outra evolução é a boa trilha sonora, pois falta nos filmes da Marvel uma trilha (melodia) tão heroica e grandiosa quanto os filmes e heróis são, pegue ‘Era de Ultron’ e ‘Guerra Civil’ como exemplos, falta-lhes uma boa trilha sonora. Aqui a trilha é ótima e caminha perfeitamente com o filme. Grande trabalho do compositor Michael Giacchino, que fez as trilhas de ‘Os Incríveis’, o seriado ‘Lost’, os novos ‘Missão Impossível’ e ‘Star Trek’, dentre outros. O longa ainda apresenta uma fotografia belíssima e mais obscura. Os efeitos especiais e as cenas de ação são excelentes e de encher os olhos, cheias de elementos psicodélicos e viagens alucinógenas. O 3D não salta aos olhos, mas tem profundidade, principalmente nestas cenas psicodélicas e que apresentam losangos e simbolismos simétricos (que às vezes remete a Kubrick). As cenas das cidades se desdobrando em várias dimensões remetem ao ótimo ‘A Origem’ de Christopher Nolan, porém muito mais complexas e embasbacantes. A direção de arte e o figurino também estão de parabéns, ricos em detalhes e com ótima criação de ambientes e cenários. 

Portanto, vá ao cinema e confira este filmaço, que só não é melhor por falta de coragem da Marvel em trazer um roteiro original e algo que fuja da sua zona de conforto. Mas ao menos o longa introduz novos elementos místicos na saga dos ‘Vingadores’ com sucesso, se preocupa com a vida de suas personagens e mostra uma evolução ao trazer uma boa faixa sonora e criar cenas de ação ousadas e com bons ângulos de câmera. Além de todo deleite visual, com cenas psicodélicas alucinantes que enchem os olhos e desafiam a mente. O final é anti-climático, o que pode desagradar alguns, mas é interessante. Após o filme, fique durante todos os créditos, pois há duas cenas extras importantes relacionadas aos próximos filmes Marvel. ‘Doutor Estranho’ é de fato estranho, mas divertido e pode indicar um amadurecimento na mente dos chefões da casa das ideias da Marvel. E fique ligado, pois ano que vem teremos mais três filmes da franquia: ‘Guardiões da Galáxia Vol. 2’, o novo ‘Homem-Aranha: Homecoming’ e o terceiro ‘Thor: Ragnarok’. 

NOTA: 8,5


Título Original: Doctor Strange

Direção: Scott Derrickson

Elenco: Benedict Cumberbatch, Benedict Wong, Benjamin Bratt (I), Chiwetel Ejiofor, Mads Mikkelsen, Michael Stuhlbarg, Rachel McAdams, Tilda Swinton, Amy Landecker, Chris Hemsworth, Emeson Nwolie, Kobna Holdbrook-Smith, Scott Adkins, Shina Shihoko Nagai, Stan Lee, Tyrone Love.

Sinopse: Doutor Estranho acompanha a história do
neurocirurgião Doutor Stephen Strange que, após um terrível acidente de carro,
perde a habilidade com as mãos, algo fundamental para seu trabalho. Desesperado
para voltar a ser um médico de prestígio, Stephen vai ao Himalaia em busca de
cura e lá se torna aprendiz de um mestre, descobrindo um mundo escondido de
magia e dimensões.

Trailer: 



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