Crítica: Cubo (1997, de Vincenzo Natali) – O Complexo Jogo da Sociedade Humana!




Existem alguns filmes dos anos 90 que ficaram obscuros. Eles não fazem parte dos lendários anos 70 ou 80 e nem dos filmes recentes dos anos 2000. Ainda mais se for algo B e independente, onde a computação gráfica engatinhava na época e seu visual hoje parece um tanto datado. Esta década trouxe vários filmes que se encaixam nestas características e por isso acabam caindo no esquecimento. Um deles é este que falaremos agora. Cubo foi lançado em 1997 e por um breve momento causou certo frenesi e alavancou um número considerável de fãs na época. Ele é mais um daqueles ótimos filmes, que na metade final dos anos 90; pregavam sobre o medo do futuro, o temor sobre o bug do milênio e o caminho em que a sociedade estava tomando. Cubo acabou meio prejudicado com o tempo, mas é um filme extremamente conceitual, que merece uma releitura com a mente mais aberta. Embarque neste enigma com a gente!

Era o ano de 1997 e o cinema vinha trazendo diversas produções apocalípticas, misteriosas ou explorativas sobre fim do mundo, asteroides, anticristo, dominação das máquinas, etc.Também discutia-se muito sobre como a tecnologia estava tomando conta de tudo, pois o celular, a internet e o computador começavam a popularizar nas casas americanas naquela época. Era o início da era digital que temos hoje e muito se falava sobre como o povo ficaria alienado da vida real com tanta coisa virtual. E ainda vinham as ideias mais cartunescas sobre como o computador dominaria o mundo. Adicionava-se nisso conceitos de empresas poderosas da tecnologia, cultura cyberpunk, um pouco de cultura oriental, filosofia e questões político-sociais. Assim chegavam aos cinemas diversos filmes interpretativos, cujo clímax foi a obra Matrix em 1999. Este Cubo surgiu dois anos antes e embora sejam temáticas diferentes, existe esta associação pela época em que foram feitos. Cubo é um filme classe B, com um orçamento limitadíssimo, uma ficção científica com toques de terror, que devido aos poucos recursos, flerta com o trash. Há muitos mistérios neste primeiro filme, envolto de uma crítica social interessante, quase que um estudo de comportamento. Na trama, pessoas desconhecidas são inseridas em uma espécie de “cubo mágico” gigante, onde deve-se resolver enigmas para poder sair de dentro dele. Cada pedaço do “cubo” é uma sala, que apresenta uma armadilha ou um passo a mais para a “liberdade”.

Dentre os defeitos da obra, é incontestável que o baixíssimo orçamento diminui fortemente o impacto do mesmo. Alguns cortes e efeitos especiais são muito grosseiros, datados e beiram o amadorismo. A direção de Vincenzo Natali também não é das melhores. Novato na época, o cineasta viria a ter certo reconhecimento dentro do cinema B com obras limitadas, mas de boas ideias, como o thriller de ficção científica Splice – A Nova Espécie (de 2011). Outro grande problema é o elenco, bastante ruim. Os nomes desconhecidos não seriam problema se tivessem talento, mas aqui realmente deixa-se a desejar, com atuações muito forçadas, beirando o cômico às vezes. Especialmente Maurice Dean Wint, que entrega um vilão de olhos “arregalados” bastante estranho. Por que então, esta obra merece consideração?

Bem, além do fator “nostalgia” da época de lançamento, dissertado nos primeiros parágrafos; o longa realmente traz no seu roteiro algo no mínimo original. O fato das personagens serem propositalmente estereotipadas (a moça nerd e traumatizada, o policial mau, o doente mental gênio, uma senhora solitária e problemática, etc), estas mesmas possibilitam que o expectador assista a uma experiência social, em um jogo didático e matemático, porém com consequências mortais. É interessante também que em dado momento, o convívio entre eles passa a ser mais perigoso do que as armadilhas em si. Faz-se assim a crítica social, de que as pessoas daquela época (final dos anos 90) já estavam com suas vidas tão “ocupadas” com o cotidiano, grandes empresas e avanços tecnológicos, que na verdade estavam perdendo sua humanidade, perdendo as coisas simples e melhores da vida. Estas ideias, hoje amplamente divulgadas, criticando esta era digital e falsa, já eram lá em 1997 pregadas, e Cubo precocemente fez isso.

E nem tudo é tão ruim. Algumas cenas funcionam, tem algumas mortes fortes e que serviriam de inspiração a filmes futuros. Exemplos: no primeiro Resident Evil há uma cena em que uma rede de laser corta em cubos uma pessoa. Esta sequência foi claramente tirada de uma das mortes de Cubo. Outra coisa interessante é que mesmo sem a parte de ficção científica, esta ideia de colocar desconhecidos em cenários com armadilhas seria amplamente utiliza em obras como a franquia Jogos Mortais. A direção de arte do filme é o melhor, com designe e salas coloridas, bem construídas e que chamam a atenção visualmente, causando uma sensação que mistura sonho psicodélico com um layout retrô-futurista. Cubo não é perfeito; na verdade tem muitos problemas e por isso ficou fadado a ficar um tanto esquecido no tempo. Mas há uma grande ideia, que passa por cima de qualquer limitação. Uma produção muito conceitual, com críticas interessantes, um ótimo mistério, que aos poucos vai sendo revelado nas sequências: Cubo 2: Hipercubo (2003) e Cubo Zero (2004). As continuações também tem seus problemas, mas mantém um nível parecido do primeiro, onde é interessante que mesmo se explicando parte do que acontece, no geral isso ocorre de maneira implícita, deixando aberto a interpretações para quem assiste, nunca subestimando a inteligência do público. Se você gosta de mistérios complexos, ficção científica que flerta com a filosofia e terror classe B, assista a Cubo com a mente aberta e disposto a aceitar que de certa forma, hoje a sociedade vive presa a cubos mágicos eletrônicos, a conceitos quadrados e a estereótipos que ela mesma aceita que se imponha. E poucos são os que decifram seus segredos, afim de quebrar estes limites e enfim se libertar, ou libertar a sua mente. Vivemos em tempos em que a sociedade humana hipócrita é repleta de jogos complexos, verdadeiros labirintos à vida. No final das contas, Cubo fala disso.

Título Original: Cube

Direção: Vincenzo Natali

Elenco:Andrew Miller (I), David Hewlett, Maurice Dean Wint, Nicky Guadagni, Nicole de Boer, Wayne Robson, Julian Richings;

Sinopse: um policial (Maurice Dean Wint), um ladrão (Wayne Robson), uma matemática (Nicole de Boer), uma psicóloga (Nicky Guadagni), um arquiteto (David Hewlett) e um jovem autista (Andrew Miller) são misteriosamente presos em um labirinto de alta tecnologia. Sem comida nem água, eles precisam encontrar um meio de sair do local. Mas precisam também tomar cuidado para não acionar armadilhas letais, que surgem em estranhos cubos.

Trailer:









Galeria de imagens:


















E você, lembra deste filme? O que achou ou entendeu?





2 thoughts on “Crítica: Cubo (1997, de Vincenzo Natali) – O Complexo Jogo da Sociedade Humana!”

  1. Eu amei o filme procurei em todos os lugares só achei online ,todos os seis tinha um dom com mesmo propósito sair do cubo a proposta era se unir ,mais o egoísmo , relacionamento interpessoal , falharam , realmente estúpidez humana é ilimitada …

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