Crítica: O Iluminado (1980, de Stanley Kubrick)


O Iluminado é baseado no romance homônimo de Stephen King, um dos escritores mais famosos e polêmicos do mundo.

King destrói o filme todas as vezes que perguntado sobre. Um fato assim faz muitos dos fãs do livro olharem torto para o filme, assim como deixa alguns curiosos. Há dois fatos aqui: 1 – Eu não li o livro, mas o pretendo. 2 – O Iluminado é filme primorosamente executado.

Dirigido pela lenda Stanley Kubrick, o filme começa mostrando Jack Torrence – o personagem centro da trama – indo para uma entrevista de emprego no Hotel Overlook. Emprego tal que consiste em tomar conta do hotel durante o inverno, onde ele e sua família estarão presos enquanto a estação passa.


Essa primeira cena mostra um Jack Torrence gente boa, animado com o emprego novo e entusiasmado em terminar de escrever seu livro ainda no hotel. A inteligência de Kubrick já começa por aí. O arco de Torrence – na minha opinião – é o mais perfeito de um filme único na história do cinema. Em termos de linguagem, Kubrick dá um show de direção(pra variar). Tecnicamente, talvez seja até melhor.Ele usa recursos de câmera para não deixar o primeiro ato enfadonho, como planos sequência, travellings, tracking shots e outros.As cenas de apresentação do hotel são importantíssimas para deixar o espectador ciente do tamanho e da distância de um lugar para o outro do hotel. Porém, talvez, elas teriam ficado desinteressantes sem esses recursos citados. Do jeito que foi feito, a fluidez é absoluta, e você fica investido na história.

Há alguns enquadramentos históricos no filme, mas não vou citá-los para não dar spoiler.

Os últimos 40 minutos do filme são de uma tensão absurda, e a câmera de Kubrick é muito alerta nessa parte do filme. Ele tem um grande leque de recursos. Subjetivas e contra-plongées não exagerados são muito usados nessa parte, assim como cortes rápidos e um jogo de câmeras genial.

Algo muito interessante na direção de Kubrick são as cenas rotineiras onde o espectador espera que vai ver a mesma coisa de antes, como por exemplo a cena onde Danny está andando em seu carrinho e vocês sabem o que acontece. Na primeira vez que você assiste o filme você espera que será apenas mais uma cena, quando o diretor te surpreende fortemente.

O roteiro do filme é espetacular. Pode-se ler com ênfase e lentidão, mais ou menos como ES-PE-TA-CU-LAR.

O arco de Torrence – já citado acima – é absolutamente perfeito(também pode ler com ênfase, de preferência). É um filme de terror como O Bebê de Rosemary, ou mais recentemente, A Bruxa. Ele se molda na expectativa e no suspense, mas, na hora da explosão, entrega muito bem.

Os outros personagens – Danny, Wendy e Dick Hallorann – cumprem seu papel no filme com eficiência.

Além do arco e desenvolvimento, o roteiro tem frases e cenas muito famosas que se alastraram por cinéfilos do mundo inteiro. Quem não lembra de “Here’s Johnny?” ( que, aliás, foi um improviso de Nicholson) ou “ Redrum?”.

Em Curitiba, onde eu moro, há um grafite gigantesco no centro da cidade com uma pintura de Jack Nicholson sorrindo e a frase “ Só trabalho e sem diversão fazem de Jack um bobão “, ou, no original “ All work and no play makes Jack a dull boy”. Coisas assim provam um bom roteiro.

Há muitas pessoas que não gostam de O Iluminado. Eu aceito isso perfeitamente. Mas, se tem algo unânime no filme, isso é a atuação de Jack Nicholson. É uma das performances mais brilhantes do cinema sem a menor sombra de dúvida. Na mesma medida em que o roteiro desenvolve seu personagem, Nicholson muda seus trejeitos, olhares, linguagem corporal e quase tudo no personagem. É absolutamente perfeito. Não há nem nada mais a acrescentar.

Muitos criticam a atuação de Shelley Duvall e, de fato, comparada com Jack Nicholson ela fica muito atrás. Mas eu gosto da performance de Duvall, ela me convenceu como uma mulher aterrorizada com aquilo que o marido está se tornando e como uma mãe que ama seu filho.

Danny Lloyd interpreta seu xará Danny Torrence, o filho de Jack e Wendy – o iluminado do título -. Ele está muito bem no filme, eu acho que ele passa tudo o que uma criança daquela idade faria se estivesse na mesma situação.

Outras coisas que chamam a atenção no filme são a fotografia, a trilha sonora que é aterrorizante, a edição e a edição de som e mixagem de som.

O Iluminado é um filme tenso, assustador, com um roteiro excelente, direção perfeita de Kubrick, uma atuação central brilhante e outras atuações competentes dos personagens secundários e tecnicamente perfeito. É um dos maiores clássicos da história do cinema de terror, um dos meus filmes favoritos de todos os tempos e totalmente obrigatório.


Título Original: ‘The Shining’

Direção: Stanley Kubrick

Elenco: Jack Nicholson, Shelley Duvall, Danny Lloyd, Scatman Crothers, Joe Turkal, Lia Beldman, Billie Gibson, Barry Nelson, Philip Stone, Barry Dennen.

Sinopse: Jack Torrance, um escritor e um alcoólatra em recuperação, aceita um emprego como zelador fora de época de um hotel isolado chamado Hotel Overlook. Seu filho possui habilidades psíquicas e é capaz de ver coisas do passado e do futuro, como os fantasmas que habitam o hotel. Logo depois de se instalarem, a família fica presa no hotel por uma tempestade de neve e Jack torna-se gradualmente influenciado por uma presença sobrenatural; ele desaba na loucura e tenta assassinar sua esposa e filho.


Trailer:


E você, já assistiu a O Iluminado? O que achou do filme? Concorda com a crítica? Deixe aqui seu comentário e obrigado por ter lido.


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