Crítica: Isolados (2014, de Tomas Portella)


Lançado por
aqui em Setembro de 2014, o longa nacional ‘Isolados’ vinha com a premissa de
ser um terror inovador. No entanto, o trailer de certa forma testa o espectador
e acaba por ser um baita suspense psicológico. Apesar das fracas críticas que
andou recebendo, ele não é dos piores; ficou sim devendo em alguns aspectos,
mas nada que chegue ao ponto de classificá-lo como péssimo. Pelo menos o diretor se empenhou criando uma história interessante. Realço que ele é um daqueles filmes no estilo: “ame ou odeie”.

Lauro é um médico psiquiatra. Renata, sua namorada, é uma insegura escritora de contos de banca de jornal. Com o relacionamento abalado, os dois decidem alugar uma casa de campo na Serra Sudeste do país. Quando para em um posto de gasolina seguindo viagem, ele ouve do proprietário de um bar que homicídios horríveis andam tomando conta da área, mas Lauro esconde o assunto dela, pois a mesma é uma paciente que teve traumas de infância e se impressiona facilmente com as coisas, tomando uma medicação controlada. Assim que chegam à moradia, a empregada Luzia diz que não esperava por eles devido aos incidentes hediondos. Ele então escuta as notícias no rádio e começa a se preocupar quanto a segurança de Renata. Teimosa, ela resolve sair às escondidas da casa para andar sozinha, até que seu marido sai ofegante em busca dela na floresta. Ele a vê sendo atacada por um desconhecido, mas alguém bate em sua cabeça e Lauro apaga. Quando desperta, descobre que Renata ainda está viva e a leva de volta para dentro. Porém, ela está ferida e ele acaba ficando acordado para protegê-la. Até que no cair da noite, o perigo começa a rondar a casa e a situação se torna insustentável. Não demora muito pra descobrirem que não estão sozinhos. Estarão eles realmente seguros dentro do local, isolados? A partir daí, o público já começa a roer as unhas de tanta aflição e se perguntar: “qual a motivação dos assassinos” e “o que o casal fará para sobreviver?”; são questionamentos que vão surgir no espectador ao longo de sua curta duração, que está em torno de 1 hora e 25 minutos.
Sobre o elenco:
temos aqui o astro Bruno Gagliasso, que após o sucesso interpretando um serial
killer na minissérie ‘Dupla Identidade’, é literalmente um “monstro” aqui. Fica
difícil não se impressionar com o árduo esforço que o ator tem feito em seus últimos papéis. Em vista
disso, a não ser que você admire o trabalho do mesmo, provavelmente pense que
ele está o maior “banana”, pois na maior parte das cenas incorpora um personagem cuja expressão facial também deixa um pouco a desejar. Em várias cenas ele fica olhando pra um lado e pro outro, dando indícios de que está sendo cercado e
perseguido, mas permanece quieto, suando e balançando uma vela (o que só torna
o clima ainda mais sombrio). Já Regiane Alves interpreta Renata, mulher dotada
de uma personalidade problemática, resultada de experiências traumáticas do
passado. Ela até que atuou de forma superior comparada com Gagliasso. Além disso, a relação entre ela e Lauro parte da crueldade à compaixão. Uma pena que
essa provável química viria a findar, uma vez que o casal caiu no azar em viajar para
o interior daquele lugar na semana em que dois assassinos mataram e estupraram
uma garota da região. Pra piorar a situação, os suspeitos (que segundo
revelações foram criados na roça), conheciam a mata ao redor como ninguém e não
pretendiam fazer só uma vítima. Confesso que filmes tanto brasileiros quanto
americanos cujas locações são filmadas nessas áreas de mato fechado (cenário
perfeito de mortes aparentemente sem explicação), me deixam inquieto
simplesmente por trazer um desconforto perturbador (ainda mais no ambiente
escuro da sala do cinema), mas no fim das contas não dura muito tempo. Contamos
ainda com a atuação do renomado José Wilker, como Dr. Fausto. O ator que faleceu em Abril de
2014, poucos meses antes da estréia, merece destaque no enredo; sua performance apesar de curta, é notável.

Com relação ao
roteiro, infelizmente teve alguns furos, mas nada que decepcione tanto assim.
Muita gente talvez ache o desenvolvimento lento devido aos diálogos excessivos,
mas convenhamos: a novela ‘Velho Chico’ também é “mais parada do que água
de poço”, né? Compreendamos que a arte do cinema é
algo tão profundo e valioso que não se resume apenas a blockbusters clichês com efeitos especiais exagerados e
sequências desnecessárias. Inclusive este segundo aspecto envolve frutos que
Hollywood tem plantado há muito tempo e que logo vai colher: a falta
de criatividade. Enfim, pegando carona na ideia de suspenses mais
clássicos, ‘Isolados’ tem várias referências à ‘O Bebê de Rosemary’, ‘Os
Outros’, ‘Ilha do Medo’ e ‘O Iluminado’, que possuem seu ritmo com uma
narrativa natural e ao mesmo tempo envolvente. Ademais, todos sabemos que a maioria dos filmes nacionais são aquelas comédias pastelões repletas de palavrões
e que podem até divertir alguns, mas também desagradar outros. No entanto, não
afirmo aqui que o filme é ruim; só não é ótimo. Recordo-me que fui
ver ele desacompanhado no cinema (não assista sozinho, em hipótese alguma!) e apesar de toda a atmosfera inerte, ele mete medo
sim. Tanto que a fotografia é sempre bem escura, com 80% do filme formado por um jogo de câmeras de cenários obscuros. A trilha sonora também foi sinistra;
as faixas são macabras e te alerto uma coisa: caso você veja de luz apagada, se prepare.

Por fim, não é
atoa que ele dividiu opiniões (mais negativas do que positivas), mas as fracas
recepções não foram motivo para descartá-lo da minha coleção. Continuará lá por
um bom tempo, porque sinceramente eu curti o filme sim. Parte das inadequações
exibe um evidente conteúdo impactante, constituído de violência e presença de
sangue (moderada), com direito até a explicação de momentos importantes através
da técnica de flashbacks (que vão inclusive te pregar uma peça: “por
que não reparei nisso antes?”). E pra não te desanimar, querido leitor, aviso
que ele mantém uma intrigante reviravolta no desfecho. Tenso!

Nota: 7

Direção: Tomas Portella


Elenco: Bruno Gagliasso, Regiane Alves, Carol Macedo, Débora Olivieri, Edmilson Barros, Fernanda Pontes, José Wilker, Juliana Alvez, Ney Murce, Orã Figueiredo, Roberto Birindelli, Sílvio Guindane.


Sinopse: Lauro é psiquiatra. Renata, sua namorada, uma insegura escritora de contos de banca de jornal. Com o relacionamento abalado, decidem alugar uma casa na serra para descansar. Ele ouve sobre ataques violentos que vem acontecendo na área, mas esconde o assunto dela, que se impressiona facilmente. Porém, quando o perigo ronda a casa e eles estão isolados, a situação se torna insustentável e inicia-se uma trama repleta de suspense.

Trailer:
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