Crítica: Ray (2005, de Taylor Hackford)


Ray Charles é um dos
maiores ícones da música americana e tem sua vida pessoal e profissional dignas
de história de cinema. E isso acabou virando realidade em 2005, com o longa
‘Ray’. O filme foca tanto em sua busca pelo sucesso na música, inovando ao misturar
o gospel com o jazz, quanto na sua vida pessoal, conturbada e também marcada
por superações e busca por independência apesar de sua deficiência
visual. 
O filme do diretor
Taylor Hackford traz uma biografia com todas as nuances de uma boa história de
ficção: um personagem principal cheio de qualidades e também de traumas
pessoais, romances, drogas e muita música boa. Fruto de uma família pobre do
sul dos EUA, na infância Ray perde o irmão mais novo e, logo em seguida, a
visão. E isso deixa marcas muito difíceis de curar. Entretanto, por influência
de sua mãe, ele busca sempre a sua independência. ‘Ray’ acerta em focar na
superação de um homem cego que viaja sozinho, trabalha sozinho e nunca se deixa
diminuir por causa de sua deficiência.

Na sua busca pelo
sucesso, Ray Charles também se envolve com drogas, o que também é mostrado no
filme. Isso humaniza o personagem, que mostra todas as suas fragilidades. Ao
mesmo tempo em que Ray trilha o caminho do sucesso profissional, também caminha
para a autodestruição. Talvez nessa parte do filme haja um excesso de flash
backs
, que procuram conectar seu vício com os traumas da infância. Não
chega a comprometer a história, mas em alguns momentos quebra a dinâmica do
filme com uma dose dramática exagerada. 
A vida pessoal de Ray
também é bem explorada, e suas relações com a família, as mulheres e os colegas
de trabalho ficaram bem explicadas e interessantes. Abordar todos esses
aspectos da vida de um grande artista chega a surpreender: Ray não é defendido
como um artista quase intocável, como poderia-se esperar devido ao seu grande
sucesso, ele é um ser humano real. E que ser humano! Esse é um dos principais
pontos positivos do filme: trazer a sua história crua, sem tentar suavizar seus
problemas. Como citado anteriormente, talvez a tentativa de justificá-los é que
tenha diminuído o potencial do longa, que poderia ser um clássico indiscutível
do cinema. Convenhamos: um filme que retrata a história de um homem cego,
pobre, negro, que vive sozinho em plenos anos 1940/50, com um imenso talento,
mas que também se envolve com várias mulheres e é viciado em heroína tem tudo o
que é necessário para um grande sucesso. Justamente pelo grande personagem Ray
Charles, vale a pena assistir ao filme. Especialmente se você não conhece sua
trajetória na música.
Um outro destaque para
o filme é a riqueza de detalhes da construção de sua carreira. Vemos desde o
início, tocando com bandas itinerantes , até a explosão de sucessos já na sua fase
mais madura musicalmente. Sua história é bastante explorada, e até quem nunca
ouviu falar em Ray Charles compreende bem sua trajetória. O diretor acerta em
ser bem biográfico mesmo, passando por todas as suas fases, passo a passo.
 
A atuação de Jamie
Foxx é um capítulo a parte. Incrível como Ray Charles, ele convence no papel e
inclusive ganhou o Oscar por esse trabalho no ano de 2005. Curiosidades: foi o
próprio Jamie (que também é músico) que tocou piano nas gravações do filme e o
próprio Ray Charles o acompanhou em sua preparação para vivê-lo no cinema. As
demais atuações são boas, mas sem o mesmo brilho. A trilha sonora, como se pode
esperar, é ótima, o melhor do filme!
‘Ray’ é um filme
obrigatório para amantes da música, de cinebiografias e também fãs de boas
histórias de superação. Um filme que traz a sua história completa, sem censurar
seus maiores dramas pessoais. Justamente por isso, vale a pena ver (e depois
ouvir muito) Ray Charles!
Nota:7,5

Título original: Ray

Direção: Taylor
Hackford

Elenco:
Jamie Foxx, Kerry Washington, Regina King, Clifton Powell, Harry Lennix, Bokeem
Woodbine, Curtis Armstrong.

Sinopse: Em 1932 Ray
Charles (Jamie Foxx) nasce em Albany, uma pequena e pobre cidade do estado da
Georgia. Ray fica cego aos 7 anos, logo após testemunhar a morte acidental de
seu irmão mais novo. Inspirado por uma dedicada mãe independente, que insiste
que ele deve fazer seu próprio caminho no mundo, Ray encontrou seu dom em um
teclado de piano. Fazendo um circuito através do sudeste, ele ganha reputação.
Sua fama explode mundialmente quando, pioneiramente, incorpora o gospel ,
country e jazz, gerando um estilo inimitável. Ao revolucionar o modo como as
pessoas apreciam música, ele simultaneamente luta conta a segregação racial em
casas noturnas que o lançaram como artista. Mas sua vida não está marcada só por
conquistas, pois sua vida pessoal e profissional é afetada ao se tornar um
viciado em heroína.
 Trailer:
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