Pura arte: cenas de filmes com poesia, metáforas, abstratos, psicodélicos e ângulos de câmera inspirados.


Hoje trazemos uma matéria diferenciada, bem mais visual do que lida. Trazemos uma seleção de cenas e imagens de vários filmes, que apesar de estilos e gêneros diferentes, ambos carregam arte e interpretações nas suas entrelinhas. Algo que sempre me chamou muito a atenção no cinema é o que está por trás das imagens. Há a situação em cena, como uma ação, efeitos especiais ou cenas dramáticas e bem atuadas. Mas analisando mais profundamente, há outras coisas implícitas ali. Há momentos em que o diretor, os roteiristas, o pessoal da direção de arte e toda equipe do filme decidiu colocar de maneira indireta elementos que fazem referência a algo mais, seja uma metáfora, um sentido reflexivo, uma poesia abstrata ou uma homenagem. Alie isso com alguns ângulos de câmera inspirados de certos cineastas, que apenas enriquecem ainda mais o filme. Temos assim algo que beira uma obra de arte. E nosso intuito com esta postagem é justamente isso, dar pequenos exemplos visuais que mostram muito além do que um simples entretenimento. Leia atentamente nossas breves descrições. Mas acima de tudo veja bem estas imagens, olhe e olhe novamente bem de perto e com a mente aberta. Consegue enxergar?



O diretor Stanley Kubrick talvez tenha sido um dos mais perfeccionistas que já existiu. Nesta cena de ‘2001: Uma Odisseia no Espaço’, note como ele tinha a mania de centralizar um elemento principal bem no meio da imagem e partindo do centro ele trabalhava com formas geométricas de maneira muito simétrica. Note o enquadramento de câmera perfeito focando no astronauta, enquanto que no seu redor temos o designe 360° da nave perfeitamente simétrico e igual em ambos os lados.


Também temos esta bela sequência, que além de explorar a imensidão do espaço, faz um verdadeiro balé, fazendo a nave dançar ao som de ‘Danúbio Azul’ do compositor Johann Strauss. Muita poesia!

Veja a cena na íntegra:




Ainda no filme ‘2001: Uma Odisseia no Espaço’, Kubrick filosofa sobre diversas questões. Em uma delas, vemos o primata achar o osso e o usar a seu favor, temos assim a descoberta da ferramenta. Mas logo em seguida ele transforma a ferramenta em arma. Seria a maneira do diretor dizer que junto com o avanço sempre teremos a utilização deste mesmo avanço para o mal?





Outro filme do mestre Kubrick, desta vez um clássico do terror. Em ‘O Iluminado’, note como o cineasta novamente centraliza a câmera em um elemento e a partir dele trabalha a direção de arte. No caso, este corredor do hotel, com este chão cheio de losangos e símbolos um tanto psicodélicos. Estes elementos psicodélicos são usados constantemente durante o longa para dar a sensação de pesadelo, fantasia e terror.




No clássico ‘Nosferatu’ de 1922 temos uma das primeiras aparições dos vampiros e do terror genuíno. Em uma época em que o cinema era mudo e preto e branco, note como o diretor usa o jogo de luz e sombras para revelar a criatura de maneira implícita. Esta técnica marcou um estilo específico da arte: o expressionismo alemão.




Agora um filme popular mais focado na ação, o violento ‘300’ também tem seu percentual de arte. A equipe do filme se preocupa muito em retratar as cenas do filme tal qual é a HQ de origem. Há momentos em que não parece um filme, mas parece que estamos folhando as histórias em quadrinhos. Como visto na imagem acima, a utilização de câmera lenta, sombras e jogo de cores fortes fazem deste um delírio visual, propositalmente chamativo.









Também baseados em histórias em quadrinhos, os dois ‘Sin City’ utilizam recursos visuais únicos e chamativos. Temos uma fotografia preta e branca, um clima suburbano noir obscuro cheio de gângsters e criminosos. Em contraste temos elementos de cores chamativos, como sangue, batom e outros detalhes vermelhos, olhos verdes e outras características contrastantes.




Nesta outra cena também de ‘Sin City: A Dama Fatal’, além do contraste do preto e branco com o amarelo do cabelo da atriz, temos um jogo de sombra para narrar o que ocorre, em vez de mostrar explicitamente.



‘Divertida Mente’ da Pixar já é complexo por si só, onde cada uma das personagens é na verdade um sentimento na cabeça de uma menina que está crescendo e passando por mudanças. Usa-se todo um mundo de fantasia e imaginação, com personagens coloridos, artifício para segurar a atenção das crianças. Mas no fundo é um filme original, maduro e que explora a complexidade da mente humana.






Outro sucesso da Pixar, ‘Wall-e’ já traz no seu roteiro um filme com uma moral ecológica e social, homenagens aos clássicos da ficção científica (incluindo ‘2001: Uma Odisseia no Espaço’) e um trabalho gráfico detalhado. Mas é no belo romance entre o casal de robôs que temos outro ponto forte. Além de poético, a expressividade dada ao protagonista é algo espantoso. Note o brilho dos olhos de Wall-e. Ou na cena em que ele brinca no espaço. Ah, vale lembrar que Wall-e é cinéfilo, inclusive sempre assistindo ‘Dançando na Chuva’.








Um dos filmes mais complexos que já assisti, ‘A Árvore da Vida’ é praticamente duas horas e meia de filosofia. O cineasta Terrence Malick usa uma direção ousada, ângulos de câmera diferenciados e uma fotografia de tirar o fôlego, tudo para dissertar sobre a família, religião, a moral, a criação do universo e da Terra, uma reflexão sobre a vida em si. Como nas fotos acima mostram, o cineasta nos leva em uma viagem sensorial, desde a formação do universo, passando pela era dos dinossauros até chegar no mundo como conhecemos hoje.




Ainda em ‘A Árvore da Vida’, Malick utiliza personagens centralizados em paisagens de fotografia deslumbrante, que além de contemplativas, discutem elementos como fé e espiritualidade.



‘O Regresso’ vai além de ser o filme que deu o Oscar de Melhor Ator para Leonardo DiCaprio. Além de extremamente bem dirigido e de apresentar cenas sufocantes, em dados momentos o diretor utiliza a grandiosidade da bela paisagem para contrastar esta grandiosidade contra um simples homem machucado e em busca de vingança. 



Agora temos um representante do cinema B. ‘O Fantasma do Paraíso’ é uma produção um tanto esquecida lá de 1974 mas curiosamente é um de meus filmes favoritos. O filme é na verdade uma adaptação do clássico conto do ‘Fantasma da Ópera’, porém ambientado numa discoteca de rock hippie dos anos 70. O filme traz momentos musicais, um drama um tanto “deprê”, elementos de terror gótico e cenas escuras. Em contraste com um personagem obscuro e estas cenas escuras e góticas, temos uma direção de arte que utiliza de cores saturadas e berrantes. Veja na imagem como o vermelho e o azul do cenário se destacam e diferem do personagem de trajes escuros. 









Chegamos a ‘Suspiria’, meu terror favorito. Lá de 1977 e do mestre Dario Argento, é um representante do giallo (thriller italiano) porém bem mais atmosférico. Para causar a sensação de pesadelo, o cineasta abusou de elementos simbólicos psicodélicos, cores carregadas e uma trilha sonora angustiante. Visualmente é considerado uma obra de arte. O jogo de cores berrantes bem combinadas passam uma sensação atmosférica lúdica e obscura. Várias cenas utilizam uma direção de arte que coloca objetos centralizados, formas geométricas estrategicamente elaboradas, ângulos de câmeras que utilizam a perspectiva de objetos como lâmpadas e vitrais. Tudo em ‘Suspiria’ é construído para ser visualmente psicodélico e perturbador. Repare os detalhes das imagens acima.





O emocionante ‘As Aventuras de Pi’ traz o uso da computação gráfica de maneira poética e lúdica. Além da história encorajadora, ao mesmo tempo temos elementos reflexivos. Na cena específica onde o tigre na beira do barco olha para o horizonte, nos perguntamos: o que aquele animal estaria “pensando”? Bem, quem viu o filme até o final entende perfeitamente a metáfora. Pura poesia visual!





Outra animação da Pixar, ‘Toy Story 3’ traz um final emocionante, principalmente para quem viu os anteriores. Mas um fator curioso que o torna especial é sua história sobre amadurecimento, a transição da infância para a vida adulta. Quando os personagens centrais (que são brinquedos) estão à beira da destruição, não são apenas objetos prestes a serem destruídos. Implicitamente temos a referência de que quando as crianças crescem, coisas como os brinquedos são esquecidos. Querendo ou não, quem é atingido são os adultos e pais, que já não tem mais seus filhos pequenos na volta brincando. A vida passa, as crianças crescem e as coisas mudam. Claro que aqui é um filme infantil e Woody e sua turma tem seu final feliz, mas isso ocorre em um novo ciclo. São as mudanças inevitáveis da vida.







Mais puxado para a ação e o entretimento, ‘Mad Max: Estrada da Fúria’ não apenas foi o melhor filme de 2015, trouxe críticas político-sociais, representou o verdadeiro feminismo (aquele realmente válido), ele também representou a velha escola de Hollywood. O veterano diretor George Miller dirige brilhantemente o filme com ângulos de câmera extraordinários e de “cair o queixo”. Os carros e as engenhocas foram criadas de verdade. As acrobacias foram realizadas realmente, sem uso de computação. É todo um trabalho perfeccionista e caprichado para trazer algo insano e verdadeiro. Isso porque às vezes a arte exige um toque de loucura.







‘Drácula de Bram Stoker’ chama a atenção por adaptar fielmente o livro de origem da história do vampiro mais famoso da cultura pop. O romance é tão presente e fundamental quanto o terror. Além de um figurino e penteado de época lindos, o filme transpira um romance melancólico, uma vez que o maligno ser busca na sua imortalidade o seu amor perdido.


Nesta cena também de ‘Drácula de Bram Stoker’ o diretor Francis Ford Coppola utiliza uma fotografia vermelha e um jogo de sombra nos cadáveres para dar um aspecto artístico, ao mesmo tempo em que a cena não se torna explícita. Através disso conseguimos ver o horror da guerra, sem ser totalmente visível, ao mesmo tempo em que esta técnica enriquece visualmente o longa.




O elogiado ‘Corrente do Mal’ é um filme indie que acabou se tornando o melhor terror de 2015. O filme traz um enredo ousado: uma maldição sexualmente transmissível. O tempo todo os jovens do filme sentem a presença de algo os seguindo. Isso se dá através de enquadramentos de câmera bem utilizados. Trata-se de uma metáfora às doenças sexualmente transmissíveis (DST’s) e como as vítimas sentem como se algo (a perspectiva de morte) os persegui-se.







No clássico ‘Halloween’ de John Carpenter também temos enquadramentos de câmera que dão a impressão de que algo vigia a protagonista. O diretor utiliza as lentes da câmera como se fossem os olhos do assassino, enquanto ele segue sua irmã e suas demais vítimas.







No filme ‘Melancolia’ do polêmico cineasta Lars von Trier, temos uma mistura de drama e filosofia. Literalmente entramos em um estado de melancolia enquanto vemos os dilemas de uma família e a reaproximação de duas irmãs durante o casamento de uma delas. Isto tudo ocorre enquanto o mundo está próximo de um cataclisma e de seu fim. As personagens decidem na maior parte do tempo ignorar isso, mas conforme o desastre se aproxima, o estado emocional delas sofre mudanças. Reflexões emocionais e cenas apoteóticas marcam o filme.



Cena da colisão em ‘Melancolia’:






Outra produção de Lars von Trier, este fez polêmica e muitas pessoas abandonaram a sala do cinema no meio da projeção do filme. ‘Anticristo’ é bastante complexo de se entender. Filosoficamente o diretor fala da raiz do mal, utilizando um ponto de vista sexual. Contrastando a relação abalada de um casal após a perda do filho, o filme faz conotações do sexo como o originador da dor e do pecado. O casal passa uns dias em uma cabana, em um lugar poeticamente chamado de Jardim do Éden. Lá utiliza-se uma fotografia às vezes preta e branca, às vezes pálida, acinzentada e levemente pigmentada de cores quentes ou pastéis. O filme é dividido em capítulos e há narrações dos animais presentes ali. Numa mistura louca de drama e terror, o cineasta choca a plateia com cenas de difícil digestão. E por fim ainda saímos com a mente fritando.







Na ficção científica ‘Interestelar’ vemos uma pequena equipe se aventurar nos limites das galáxias em busca de uma nova Terra. O diretor Christopher Nolan diversas vezes usa o silêncio e a vastidão sideral para contrastar como somos minúsculos diante a imensidão celestial. Pode-se ver isso na imagem acima. Além disto, o filme usa esta viagem espacial até os confins do universo para apresentar uma metáfora à algo tão  simples e verdadeiro: o amor de um pai pela sua filha. O filme também traz referências a ‘2001: Uma Odisseia no Espaço’.







Apesar de criticado por alguns, ‘Avatar’ trouxe os melhores avanços visuais da última década e se tornou a maior bilheteria de todos os tempos, único filme a arrecadar quase 3 bilhões de dólares. Mas acima disso, o cineasta James Cameron usa todo este universo mágico para falar de algo que marcou a história da humanidade. Estamos falando das colonizações europeias, que dizimaram os nativos, como as civilizações índias das Américas. A computação, a fotografia, a iluminação e a direção de arte utilizadas em ‘Avatar’ são incríveis e constroem todo um novo mundo, conforme na imagem acima. A civilização Na’vi precisa proteger seu mundo, algo que na vida real os índios não conseguiram. Algumas características morais e culturais de algumas civilizações se perderam para sempre.







Sensualidade também pode vir acompanhada de arte e de críticas. No fantástico e amargo ‘Lua de Fel’, o diretor Roman Polanski usa o erotismo, a sedução e o hardcore de um casal para explorar a ascensão e a morte de um amor. Note como a câmera foca no desempenho da dança sensual da atriz, tem toda uma criação do ambiente e em uma cor quente, para passar ideia de paixão. Mas o sembrante da atriz (que por sinal é esposa do diretor) define bem o que o filme conta: uma paixão sem limites fadada à desgraça. ‘Lua de Fel’ não é apenas um de meus filmes favoritos e um dos 10 longas mais sensuais de todos os tempos. Também é extremamente reflexivo, ácido e sarcástico, realisticamente amargo. Com este filme é possível fazer uma terapia em casal.



A superprodução ‘Matrix’ revolucionou o cinema na virada do século passado. Além disto, trouxe uma singularidade, o fator chave para se entender a trilogia. A saga na verdade faz uma união de conceitos filosóficos orientais, religião (Cristo, salvação), estilo cyberpunk, lutas marciais, robôs e inteligência artificial, cultura pop em massa; tudo isto dentro de uma linguagem de computação, popularizando conceitos como vírus de computador e números binários. Na cena acima temos um exemplo, onde a realidade é mostrada a partir do ponto de vista eletrônico.



O clássico e intocável ‘O Rei Leão’ não apenas emociona até hoje, como usou a morte de Mufasa para ensinar toda uma geração de crianças dos anos 90 uma verdade da qual não se escapa: a morte faz parte do ciclo da vida. A cena em que o filhote se deita junto do pai morto é de rachar o coração, mas também traz ensinamentos de que às vezes precisa-se encarar duras verdades. E desde cedo é importante aprender estas verdades.





‘Sr. Ninguém’ é possivelmente um dos filmes mais complexos de se entender numa primeira vista. Mas a partir de uma história original, acompanhamos flashs desfragmentados das várias opções da vida de um mesmo homem. Desde criança ele é incapaz de tomar uma decisão. Conforme na primeira imagem, notamos que ele não sabe se irá ficar com sua mãe ou seu pai. A partir deste ponto ele se torna incapaz de fazer escolhas e passa a ter a habilidade de viver todas opções que a vida lhe dá. Mas todas opções o levam a momentos bons e ruins, pois a vida é assim. Um filme muito belo e cuidadoso, também contrasta cenas do passado em cores quentes (1° imagem) com cenas de um futuro mais claro, limpo e sem cor, um futuro sem sentimentos (2° imagem).




‘V de Vingança’ é uma aula sobre luta de direitos, liberdade de expressão e combate à governos corruptos e autoritários. A famosa máscara de Guy Fawkes hoje é símbolo de anarquistas e grupos hackers que lutam por um ideal. Neste caso aqui a crítica e a reflexão se estendeu das páginas da HQ para as telas. E das telas para a vida real. É a arte transcendendo para a vida, em nome de um ideal. Como na imagem acima, o longa ainda guarda espaço para um poético e trágico romance. Mas o que perdura disso não é o romance em si, mas as ideias plantadas em nome de um futuro melhor.






Paul Verhoeven sempre teve uma pegada ácida, crítica e ultrajante nos seus filmes. A cena acima é de ‘Showgirls’, o longa que destruiu a carreira deste diretor. Isto porque foi um fracasso, devido as cenas explícitas de erotismo que traz. Além do seu visual ser constantemente julgado como cafona. Ao ver o filme, notamos que realmente é cafona e ultrajante. Mas aí está o segredo de ‘Showgirls’, algo que a maioria não captou. A cafonice é proposital. O diretor quis realmente vulgarizar e chocar, uma vez que sua intenção era criticar o mundo dos shows e danças de cassinos e casas noturnas americanas. Indiretamente ele acaba criticando a própria Hollywood, que nos seus bastidores guarda segredos sórdidos. A protagonista passa o filme todo negando ser uma vadia, em meio a pessoas muito baixas. Tudo para no fim se revelar justamente uma vadia. Ninguém é totalmente limpo no mundo do entretenimento. 






O sucesso ‘A Origem’ traz a implantação e extração de falsas memórias através de sonhos, com camadas, como um sonho dentro de um sonho. O brilhante Christopher Nolan traz questões emocionais, morais e sociais, ao mesmo tempo em que brinca com nossa mente e filosofa o que seria possível dentro do mundo dos sonhos. Além de enquadramentos de câmera bem realizados, como na luta sem gravidade (1° imagem), traz cenas psicodélicas memoráveis, como a cidade se desdobrando em cima de si mesma (2° imagem).




‘Cinema Paradiso’ é um filme feito para cinéfilos. É um relato, uma carta de amor ao cinema, às telas e aos projetores. A história se desenvolve toda em cima de um garoto que cresce em torno de filmes. Note na imagem acima o brilho nos olhos, o encanto dele ao ver um filme. É o amor ao cinema, algo que todos nós que somos cinéfilos entendemos bem.





Outro lindo filme que fala sobre o cinema, ‘O Artista’ é recente mas elaborado em preto e branco e parcialmente mudo. O filme metaforicamente brinca com a transição do cinema mudo para o falado. Na história de amor que se segue, vemos a decadência de um artista do cinema mudo, enquanto a atriz é a queridinha do cinema falado. Também mostra bastante dos bastidores da Era de Ouro de Hollywood. Apesar da falta de cor, é belo visualmente. Algumas cenas marcam e são estrategicamente elaboradas, como esta acima, onde o artista e seu cão assistem dos bastidores o fim de um filme. O “The End” invertido também simboliza o fim de uma era e o começo de outra na indústria cinematográfica.







Um dos filmes menos conhecidos aqui na minha lista, ‘Vestígios do Dia’ é um belíssimo e sincero drama britânico, que acompanha o romance de um mordomo e uma governanta. Note como o diretor utiliza na primeira imagem a janela como ponto de perspectiva, como se nós estivéssemos observando-os. E na segunda imagem temos a utilização de uma bela fotografia, um belo pôr do sol que está levando vestígios de um dia, metaforicamente falando está levando vestígios de lembranças de um amor não resolvido. 




O argentino ‘O Segredo dos Seus Olhos’ começa como um suspense e logo mostra a que veio, com um belo romance dramático. A cena da despedida no trem já se tornou clássica. As mãos na janela, a tristeza da despedida e a perspectiva de um amor perdido são vários dos detalhes e emoções que uma única cena consegue transpassar. 




Nesta imagem acima pode-se não ver muito, mas ao assistir o dinamarquês ‘A Caça’ nós entendemos a intenção do diretor. Este belíssimo filme traz uma história de difícil digestão, onde este professor inocente é injustiçado e perseguido violentamente após ser acusado de abusar sexualmente da filha do seu amigo. Além de mostrar que a mente confusa de uma criança pode sim mentir, o filme traz sérias reflexões sobre boatos, preconceitos e quebra de tabus. Uma obra absolutamente imperdível.






Também pouco conhecido, ‘Triângulo do Medo’ é um pequena pérola dentro do cinema do terror. Na primeira imagem temos cenas internas do navio, onde a direção de arte cria algo que lembra e homenageia o já citado ‘O Iluminado’. Além disto, a trama traz um pouco de mitologia grega, onde uma mãe ruim acaba presa em um ciclo inquebrável, pagando pelo tratamento ruim que deu ao seu filho autista. A cena em que uma versão dela mata a martelo a sua outra versão (2° imagem) é um plot twist de respeito.






O clássico ‘O Sétimo Selo’ já é filosófico por si só. O longa traz discussões fortes sobre a guerra e a humanidade. E conforme a imagem acima, vemos a morte jogando xadrez com um personagem, enquanto se disserta sobre várias questões. Apenas um dos vários e impactantes filmes do cineasta Ingmar Bergman.



No dramático e misterioso ‘Cisne Negro’, vemos o perfeccionismo se tornar paranoia e obsessão na vida de uma bailarina, que acaba de fato se tornando um ser obscuro e negro, igual ao cisne da dança. A própria desenvoltura da atriz durante a produção já começa a sofrer as mudanças, que podem ter diversas interpretações.




Um belíssimo musical construído inteiramente em cima das músicas dos Beatles, ‘Across the Universe’ é pura nostalgia e recheado de elementos coloridos e psicodélicos. O filme simplesmente abrange tudo que ocorreu nos anos 60: revoltas, Vietnã, corrida espacial, drogas, cultura “paz e amor”, liberdade artística e de expressão. É tudo que ocorreu nesta revolucionária década, embalada e contada através das letras das canções da mais famosa banda inglesa. São várias as cenas marcantes, dentre elas esta daí em cima, com romance e dança em baixo da água.





Outro belíssimo musical, ‘Os Miseráveis’ traz diversas cenas tocantes ou grandiosas. Uma específica é esta daí em cima, que rendeu a Anne Hathaway o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. No filme, ela é uma prostituta doente que raspa os cabelos e se despede da filha. Na vida real, a atriz realmente cortou seus cabelos no set de filmagem para dar maior realismo à cena. O resultado é algo marcante, com Anne cantando, atuando brilhantemente e chorando de verdade, tudo ao mesmo tempo e despedaçando seu coração. Nesta única cena consegue-se brilhantemente expor todo sofrimento que a personagem está passando, afinal ela sabe que não verá mais sua filha.







Guillermo del Toro sempre imprime uma estética caprichada nas suas produções, abusando de uma fantasia original com um teor gótico e assustador. Em ‘O Labirinto do Fauno’ ele utiliza um conto de fadas obscuro e pesado para traçar uma metáfora com um terror maior e verdadeiro: o fascismo espanhol. Além de histórico, é uma produção simbólica e interpretativa. Um dos poucos filmes do cinema recente que merece um 10 redondo e já é um clássico. Outro fator interessante é que o filme consegue ser belo e terrível em um mesmo nível, tornando-se assim uma obra de arte.





Mais do que o melhor vilão da história do cinema, o Coringa de ‘Batman: O Cavaleiro das Trevas’ é um símbolo de anarquia. O diretor Christopher Nolan brilhantemente transforma um personagem de HQ em algo maior, intrigante e assustador. Cada cena dele merece atenção pelos detalhes e trejeitos de sua psicopatia. Note que muito além do filme, o Coringa representa todo caos sem motivo em que o mundo se encontra. Como podemos observar na foto acima, é no olhar dele que percebemos que para muitos, enxerga-se o mundo e as pessoas de maneira distorcida, gerando todos os atos obscuros que dia após dia vemos nos jornais. Como ele mesmo diz, a loucura só precisa de um empurrãozinho. 










Uma obra sensacional e de tirar o fôlego, ‘Gravidade’ chama a atenção pela direção eletrizante e com ângulos de câmeras inacreditáveis. Algumas cenas são em 360° e duram minutos sem um único corte, resultado de um trabalho espantoso de Alfonso Cuarón. E além de todo este espetáculo visual, o longa traz diversas cenas interpretativas. Note na 1° imagem a solidão dos olhos de uma mãe que perdeu sua filha e está deprimida, enquanto observa a imensidão da Terra. Dali de cima, tão longe, ela se sente tão insignificante diante todo um planeta. Na 2° imagem, já no meio do filme, vemos ela dormir sem gravidade numa posição “fetal”, sendo uma metáfora de transição. Ela ganha força e renasce com garra de sobreviver.







A ficção científica ‘Chappie’ fracassou em 2015, mas o defendo como um ótimo filme. Além de trazer críticas sociais fortes em uma África largada à miséria, a cena em que o robô título encontra pela primeira vez um cachorro é poética. É uma inteligência artificial tendo contato com uma vida animal orgânica. Seriam ambos seres vivos? Esta é só uma das questões que o filme traz.







‘O Homem Duplicado’ é uma produção difícil de entender, mas pesquisando sobre o livro de origem descobrimos algumas coisas. Um detalhe interessante é que durante o filme são apresentadas aranhas gigantes. Mera metáfora as mulheres da vida do personagem? Vale lembrar também que dentro da psicanálise as aranhas comumente são relacionadas à confusão e à síndromes relacionadas a duplicações.







É inacreditável que este filme seja desconhecido da maioria. Extremamente bem dirigido e tão intenso quanto o novo ‘Mad Max’, ‘O Expresso do Amanhã’ traz os últimos humanos da Terra vivendo em um trem sempre em movimento. A divisão de classes, onde os ricos tem luxo e os pobres comem baratas e são mortos tece uma metáfora com as divisões sociais da sociedade de hoje. Nesta cena específica vemos o confronto entre os dois lados. Metaforicamente, não deixa de ser o confronto de classes “ricos vs pobres”. Em um mundo apocalíptico, a humanidade não se dividiria ainda mais?






Sério que ‘King Kong’ se encontra nesta lista? Sim! Nesta imagem do remake de 2005 encontra-se o motivo. Além de todo espetáculo visual, da crítica ecológica sobre não tirar os animais de seus habitats e da aventura em si, o amor entre uma mulher e o gorila é na verdade uma adaptação do clássico conto ‘A Bela e a Fera’. O próprio escritor do livro se baseou nisso, sabia? Um amor proibido, não apenas pela natureza, mas acima de tudo, por causa da maneira como os outros às vezes encaram seres incríveis como feras e monstros. 




Esta cena é do complexo ‘Sob a Pele’, onde Scarlett Johansson interpreta uma bela alienígena, que atrai sexualmente homens para sugar-lhes sua energia vital. Muito filosófico, o filme disserta sobre a real importância da beleza externa e o quanto isso pode ser de impacto nos sentimentos das pessoas. Por trás de toda beleza estética e aparente, o que guardamos sob nossa pele?


Esta foi uma pequena amostra, se pudéssemos abranger tudo que é interpretativo dentro do cinema passaríamos dias aqui. Espero que gostem desta matéria especial e se tiver algum filme específico que se encaixa neste assunto, não deixe de comentar.

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