Crítica: Cinquenta Tons de Cinza (2015, de Sam Taylor-Johnson) Um fracasso nada quente!


Cinquenta Tons de Cinza talvez seja a maior vergonha do cinema de 2015. Isto porque seu enorme sucesso de bilheteria (quase 600 milhões de dólares) não justifica sua qualidade duvidosa, resultando em um fracasso de crítica. Como se explica este fenômeno? Da mesma forma que se explica o fenômeno Crepúsculo, que por sinal foi quem originou este daqui. Como assim? Tentarei explicar brevemente. Com o grande sucesso dos livros e filmes Crepúsculo, devido aos fãs fanáticos dos livros irem em massa aos cinemas ver os filmes, a escritora britânica Erika Leonard James fez uma homenagem, uma fanfic apimentada levemente baseada na saga da Bella e do Edward. Fez tanto sucesso na Inglaterra, que virou uma trilogia, ganhou o mundo e virou um best-seller erótico para a mulherada. Lógico que não demoraria para virar filme. E de novo deu bilheteria por causa do frenesi dos fãs fanáticos. Esta é a única explicação para filmes tão ruins darem tanto dinheiro. Bem, então chegamos aqui na crítica do primeiro filme. Acontece que esta “bomba” acaba tendo os mesmo defeitos da saga Crepúsculo. Irônico, não?

Se no outro romance brega, a garota insossa quer se entregar ao vampiro, mas este está relutante em beber do sangue dela, em Cinquenta Tons de Cinza a garota insossa é quem reluta em se entregar para os prazeres masoquistas do milionário. Em ambos os casos das sagas a falta de química dos atores é berrante. Mas nos concentremos neste daqui. Dakota Johnson interpreta uma Anastasia apagada, tonta, um tanto lenta. No fundo eu simpatizo com a atriz, gostei dela em Aliança do Crime e creio que fora desta saga ela pode se sair bem. Mas aqui falta “sal”, ela não convence. Já Jamie Dornan interpreta um Christian Grey robótico. Parece que a cada cena ele diretamente mostra para a câmera seu corpo sem camisa, articula os braços, mostra seu cinto, gravata e outros elementos masculinos, tudo pré programado para fazer as mulheres suspirarem. Tudo tão forçado que o ar de descrença toma conta. Falta química neles, não sentimos atração, amor e não há nada convincente.

Se no livro há detalhes de sexo, bondage, sadismo e masoquismo; aqui no filme temos apenas simulações de soft porn barato. Até aqueles filminhos da Band como Emmanuelle eram mais plausíveis e aceitáveis. A direção de Sam Taylor-Johnson, que fez o bom O Garoto de Liverpool até tem um certo cuidado estético. Alguns bons figurinos, criação de interiores, carros, aviões, algumas tomadas por cima da cidade, cenas com boa iluminação ou jogo de sombras e luz (como a do piano). São alguns breves momentos de cenas visualmente simples, mas aceitáveis. Mas quando os próprios atores passam a ser mais um adereço físico na cena, como se fossem belos robôs, mas sem nada a dizer, aí temos outro problema. Não há importância na relação, nas decisões e nas atitudes do casal, tudo é tão mecânico que não convence.

O roteiro é pífio, se é que se pode dizer que existe um roteiro ali. Não há profundidade das personagens. Os coadjuvantes mau aparecem e já somem, engolidos pelo filme. A cantora Rita Ora por exemplo, aparece por aparecer, mau fala e mau a câmera mostra ela. E os protagonistas, mesmo focados, não surtam efeito de aproximação com o público. A maneira chatinha que o casal se relaciona mais uma vez lembra Bella e Edward. Isso ao longo de duas horas cansa, se tornando um filme chato. Sem falar nos diálogos risíveis. Quando Christian diz que não faz amor, mas “f0%&, e com força”, é ridículo! E a cena final? Dei risada da última cena, que beirou o trash.

Nunca pensei que diria isso, mas pela primeira vez um filme com conteúdo sexual e quente torna-se maçante, chato, brega e piegas. É um amor proibido estilo “Príncipe e Princesa”, porém com um cara conturbado e com gostos exóticos. Para uma produção que pretendia esquentar e ousar, caiu na mesmice de sempre. E o pior, foi igual a péssima saga Crepúsculo, chato e voltado para adolescentes inexperientes. Não julgo a obra literária, livros sempre são respeitados, é um outro tipo de mídia e tem coisas que dão certo nas páginas escritas, mas que em uma tela de cinema não. O livro pode fazer sucesso com o público feminino e respeito isso. Mas como filme, Cinquenta Tons de Cinza ofende até as leitoras mais assíduas. Se tinha como alvo o público feminino, afunda em um machismo terrível. O protagonista é egocêntrico, confuso e idiota. Ele não querer dormir junto é algo bastante forçado e babaca. E Anastasia aceitar isso em alguns momentos é ridículo, mais uma vez mostrando a falta de força dela. Para um filme que tentava ser moderno, ironicamente acaba preconceituoso e antiquado demais.

O único grande ponto positivo e destaque vai para a trilha sonora, que realmente é boa e inclui Love Me Like You Do de Ellie Goulding (um dos hits do ano) e Earned It de The Weeknd, que concorre ao Oscar de Melhor Canção Original e o clip é mais sexy que o filme inteiro. Devido ao sucesso financeiro, as duas continuações Cinquenta Tons Mais Escuros e Cinquenta Tons de Liberdade já começaram a ser filmadas simultaneamente para lançamento em 2017 e 2018, respectivamente. Trocaram diretor, roteiristas e prometem um tom mais obscuro e com suspense. Tomara que cumpram isso, esta saga só se salvará se fugir dos estereótipos que eu falei aqui na crítica. Para as continuações, foi contratada a bela Kim Basinger para ser a mentora de Grey. Basinger já foi sex symbol nos anos 80 pelo quente 9 1/2 Semana de Amor. Inclusive, este Cinquenta Tons de Cinza imita várias coisas de 9 1/2 Semana de Amor. E esta contratação de Kim Basinger confirma isso ainda mais. Bem, agora só resta esperar e ver se as continuações apostarão mais no obscuro (suspenses com esta temática geralmente funcionam) ou se continuará com a breguice. E eu não deixo de pensar que isto é a maldição de Crepúsculo.



Dica: para quem procura filmes com temáticas quentes, mas com conteúdo, eu indico 9 1/2 Semanas de Amor; Instinto Selvagem; Lua de Fel; Invasão de Privacidade; Jade; Dublê de Corpo; Garotas Selvagens; Mulher Solteira Procura; Vestida para Matar; Atração Fatal e uma infinidade de dramas e suspense eróticos dos anos 80 e 90. Todos dão uma aula para este daqui!

Título Original: Fifty Shades of Grey


Direção: Sam Taylor-Johnson

Elenco: Dakota Johnson, Jamie Dornan, Jennifer Ehle, Max Martini, Eloise Mumford, Marcia Gay Harden, Luke Grimes, Rita Ora, Callum Keith Rennie, Victor Rasuk, Dylan Neal.

Sinopse: quando a estudante de literatura Anastasia Steele entrevista o jovem bilionário Christian Grey, como um favor a sua colega de quarto Kate Kavanagh, descobre nele um homem atraente, brilhante e profundamente dominador. Ingênua e inocente, Ana se surpreende ao perceber que o deseja e que, a despeito da enigmática reserva de Grey, está desesperadamente atraída por ele. Incapaz de resistir à beleza discreta, à timidez e ao espírito independente de Ana, Christian admite que também a deseja, mas em seus próprios termos. Chocada e ao mesmo tempo seduzida pelas estranhas preferências de Grey, Ana hesita. Por trás da fachada de sucesso — os negócios multinacionais, a vasta fortuna, a amada família — ele é um homem atormentado por demônios do passado e consumido pela necessidade de controle. Ao embarcar num apaixonado e sensual caso de amor, Ana não só descobre mais sobre seus próprios desejos, como também sobre os segredos obscuros que Grey tenta manter escondidos.

Trailer:









Canção Love Me Like You Do de Ellie Goulding:







Canção Earned It de The Weeknd:




Imagens:






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