Crítica: A Possessão de Deborah Logan (2014, de Adam Robitel)

Como já havia falado na crítica de Exorcistas do Vaticano filmes de possessão estão mais do que saturados, é muito raro nos dias de hoje encontrar um exemplar que nos traga algo original. Felizmente A Possessão de Deborah Logan é uma dessas exceções, nos apresentando uma história bem peculiar e na medida do possível original, além de trazer personagens interessantes.

Na trama, acompanhamos Mia Medina (Michelle Ang) uma estudante que encontrou um tema para sua tese de doutorado, a doença de Alzheimer. Para isso nos próximos meses, ela e sua equipe passará a gravar o cotidiano de Deborah Logan (Jill Larson), que sofre da doença e de sua filha Sarah (Anne Ramsay). Mas conforme os dias progridem, coisas estranhas começam a acontecer em torno de Deborah que não são compatíveis com quaisquer conclusões sobre a doença de Alzheimer. Logo eles percebem que existe algo além do Alzheimer que controla a vida de Deborah, algo pior do que a debilitante doença com o qual ela foi diagnosticada.

A primeira ressalva que se deve fazer em relação a este filme é que ele não é exclusivamente para assustar ou dar medo, tanto é que as cenas mais apavorantes acontecem da metade para o final do filme, seu objetivo é focar mais no terror psicológico e no drama dos personagens. Portanto, as pessoas que esperam sustos a todo momento ou cenas impactantes podem se decepcionar.

O roteiro desse filme é genial, a abordagem que ele faz do tema possessão é muito original e curioso. Quem assiste o longa sem ler a sinopse ou qualquer notícia e até mesmo sem assistir trailer ficará totalmente surpreendido, pois inicialmente o público acha que os acontecimentos em torno de Deborah Logan é em decorrência da doença, só com o desenrolar da história é que se começa a desconfiar de que pode ser algo sobrenatural que está influenciando as atitudes da personagem. Neste ponto o filme ganha vários pontos, pois o clima de suspense e mistério é bem construído, e no decorrer dos acontecimentos mais perguntas vão surgindo, deixando o público totalmente envolvido com a história e apreensivo com sua conclusão.

Algo que ajuda muito na qualidade da produção são as atrizes Jill Larson (do filme Ilha do Medo) e Anne Ramsay (do filme Planeta dos Macacos de 2001), ambas apresentam atuações acima da média, principalmente Jill Larson, que consegue de forma magistral transformar uma personagem aparentemente doce e indefesa em um ser totalmente psicótico, capaz de botar medo só com o olhar. Anne Ramsay, também está bem no seu papel, a relação que sua personagem possui com a mãe é muito intensa e cheio de altos e baixos, mas sua persistência em ajudar a mãe é admirável.

O restante do elenco não está ruim, mas não se destacam como as atrizes acima citadas. Uma situação que me surpreendeu bastante é a atitude que um determinado personagem teve de simplesmente fugir do local (totalmente fora dos clichês). Também é necessário destacar a parte técnica do filme, os efeitos de maquiagem estão muito bons, é impressionante a mudança de Deborah Logan durante o filme, a doença e a possessão vão consumindo a personagem de dentro para fora e vão a apodrecendo gradativamente. Destaque para as cenas em que a personagem arranca a própria pele.

O roteiro infelizmente perde várias oportunidades de entregar cenas mais assustadoras, acho que algumas delas poderiam ter sido melhor trabalhadas, como uma em que um personagem está no porão vendo algumas pinturas.

O final também poderia ter sido muito melhor, o diretor perdeu várias chances de entregar um final frenético. Aqueles túneis são muito assustadores e poderiam render perseguições memoráveis, porém, existe uma determinada cena que vai deixar várias pessoas de boca aberta (literalmente) fiquei chocado com aquilo. A resolução do mistério também é muito interessante e bem diferente das outras produções similares que na maioria das vezes terminam com os manjados rituais de exorcismos.

Esqueci de falar no início mas, este filme adota o estilo found footage (mais um), mas que neste caso é admissível, visto que o propósito dos personagens é filmar algo parecido com um documentário, não são os típicos idiotas que pegam uma câmera do nada e começam a gravar.

Resumindo, A Possessão de Deborah Logan consegue de uma forma eficiente inovar na premissa de possessão, trazendo uma história original, além de desenvolver de maneira satisfatória seus personagens, poderia ter sido melhor, perdeu várias oportunidades de entregar cenas mais elaboradas e assustadoras, mas, mesmo assim continua sendo um bom exemplar do subgênero. 

Título Original: The Taking Of Deborah Logan

Direção: Adam Robitel

Elenco: Jill Larson, Anne Ramsay, Michelle Ang, Brett Gentile, Jeremy DeCarlos, Ryan Cutrona, Tonya Bludsworth, Anne Bedian, Randell Haynes, Jeffrey Woodard, Julianne Taylor, Dave Blamy, Melissa Lozoff, Bo Keister.

TRAILER:


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