Crítica: O Homem Duplicado (2014, de Denis Villeneuve)



Denis Villeneuve é um dos mais promissores cineastas no momento, mostrado um crescimento absurdo. Seguindo uma linha do mestre Alfred Hitchcock e até mesmo do ousado Brian DePalma, além de lembrar David Lynch; Denis vem se concentrando em suspenses muito acima da média. Após o badalado Incêndios e o ótimo Os Suspeitos, agora em 2014 ele lançou este outro intrigante thriller: O Homem Duplicado. Na trama, Jake Gyllenhaal desenvolve uma obsessão para descobrir quem é o homem idêntico a ele que ele viu em um filme. O que deveria ser mais um suspense clichê apresenta-se como um dos filmes mais complexos do ano, que deixará a cabeça de algumas pessoas explodindo.


Com uma direção invejável e muito primorosa, o diretor nos apresenta uma narrativa não linear no tempo. Aos poucos, “os dois” personagens de Jake Gyllenhaal são construídos e desconstruídos brilhantemente e de maneira psicologicamente perturbadora. Há uma ambiguidade e um sentido metafórico na trama, nos conduzindo de maneira confusa ao desfecho. O roteiro é muito competente, fazendo com que o público seja desafiado e forçado a pensar. Mas é no cuidado de direção, ângulos de câmeras inspirados e visual detalhado que o filme ganha pontos altíssimos. Os ambientes e locais, a fotografia amarelada, algumas sequências em que a câmera acompanha algo ou alguém de maneira diferenciada – tudo traz uma mistura de charme e ar antigo com thriller e estilo meio noir.

Jake Gyllenhaal arrasa no papel principal. O astro, que é um dos maiores da atualidade, mostra aqui o porquê de estar se destacando ultimamente. Sua atuação madura, com o friso na testa, olhar triste e profundo, além dos picos de alucinações e loucura são grandes características de um ator que se dedica aos seus papéis. Mas o restante do elenco está bem, principalmente Mélanie Laurent e Sarah Gadon, com quem Gyllenhaal divide as cenas, com as suas duplicações. O filme é baseado no ótimo escritor e poeta português José Saramago, que já no blindou com uma história que rendeu um polêmico filme: Ensaio Sobre a Cegueira. Aqui mais uma vez Saramago explora através do seu texto os medos, paranoias e sujeiras do homem moderno.







De uma forma quase filosófica e até mesmo lírica, o conto de Saramago e a direção de Denis trazem um filme bem cuidado, que leva o público a se questionar. Além de abordar síndromes como de perseguição, de duplicação e de cópias, o filme traz uma analogia e simbologia sobre aranhas e teias. Sutilmente pode-se perceber o que estas aranhas são, uma característica figurativa às mulheres – especificamente as que são mães. Isto pode confundir muito o expectador mais leigo, fazendo-os não entender a trama. Não vou entregar grandes spoilers, mas no fim tudo indica que o homem é confuso, perturbado mentalmente, perdendo-se da sua própria existência temporal (isso explica a cronologia não linear do filme), perdendo-se assim na sua própria duplicação, em um outro tempo, em uma vida com outra pessoa.

Impactante, eletrizante, muito bem dirigido e com uma das melhores trilhas sonoras do ano, O Homem Duplicado é para quem gosta de ter sua mente desafiada por um filme. Altamente recomendado, é um dos melhores filmes do ano, que infelizmente não teve o destaque merecido. Resta agora esperar pelo próximo filme de Denis Villeneuve, um cineasta que ainda vai dar o que falar. Viva o suspense. Viva o cinema.












Direção: Denis Villeneuve

Elenco: Jake Gyllenhaal, Mélanie Laurent, Sarah Gadon, Isabella Rossellini, Joshua Peace, Tim Post, Kedar Brown, Darryl Dinn, Misha Highstead, Megan Mann, Alexis Uiga.

Sinopse: ao assistir a um filme, Adam (Jake Gyllenhaal) percebe que um dos atores é idêntico a ele. Chocado com essa estranha coincidência, ele passa a perseguir obsessivamente este homem para desvendar este mistério. Baseado no livro best-seller homônimo de José Saramago.






                                 
                                Trailer:





























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